Foto: EFE/David de la Paz |
Pesquisadores brasileiros desenvolveram e testaram com sucesso em animais uma vacina terapêutica contra a doença de Chagas, que afeta 12 milhões de pessoas no mundo, três milhões delas apenas no Brasil.
A vacina experimentada em camundongos de laboratório se mostrou capaz de estimular o sistema imunológico a combater o Trypanosoma cruzi, parasita transmissor da doença.
O trabalho, coordenado há 20 anos por Maurício Martins Rodrigues, é resultado de uma parceria com diversas instituições, por meio do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas, envolvendo o Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz), Universidade Federal Fluminense (UFF), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e Universidade de Massachusetts Medical School.
De acordo com os resultados publicados na edição mais recente da revista científica “Plos Pathogens”, a vacina, de caráter terapêutico e não preventivo, elevou de zero a 80% a sobrevivência dos animais infectados e reduziu a carga de parasitas no organismo e os sintomas da doença, como arritmias cardíacas.
“Mais de 10 milhões de indivíduos na América Latina convivem com a doença de Chagas já na fase crônica e o tratamento convencional muitas vezes não funciona. A vacinação terapêutica levaria à redução dos sintomas, queda da mortalidade e melhora da qualidade de vida dos doentes”, disse Rodrigues citado em artigo da Fapesp publicado em sua página na internet.
Os camundongos usados nos experimentos foram observados durante 250 dias após a imunização.
Enquanto todos os animais que não foram imunizados morreram durante a pesquisa, 80% dos que receberam a vacina sobreviveram. A porcentagem de animais que sofriam de arritmia cardíaca no grupo imunizado caiu de 100% para 33%, conforme explicou o pesquisador.
Apesar dos bons resultados, os cientistas ainda têm que realizar vários testes para desenvolver uma fórmula segura e eficaz em humanos antes de poder começar os testes clínicos.
“Para usá-la profilaticamente seria preciso imunizar milhares de pessoas, e os países que ainda possuem altas taxas de transmissão do parasita, como Bolívia, Venezuela e Peru, não têm recursos para esse tipo de campanha”, disse o pesquisador.
A transmissão do Trypanosoma cruzi no Brasil foi praticamente extinguida, ocorrendo apenas casos isolados e geralmente por ingestão de alimentos contaminados pelas fezes do barbeiro, segundo o comunicado.
Até hoje, não existem vacinas para prevenir a doença e os remédios tradicionalmente usados para combater o parasita na fase aguda da infecção, como o benzonidazol, conseguem apenas, retardar em 30% dos casos o progresso da doença antes que de chegue a sua etapa crônica.
EFE Saúde
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