Apesar da boa intenção, medida que pede que crianças usem calças para evitar picadas do mosquito é ineficaz |
Instituições de ensino pedem a ajuda dos pais no combate ao mosquito; veja quais medidas são eficazes para evitar a doença
O mosquito aedes aegypti contaminado com o vírus da dengue anda fazendo vítimas por todo o País, com ênfase na região sudeste. Esse quadro preocupante deixa os pais extremamente apreensivos. Em uma epidemia, como a atual, como proteger o filho de picadas enquanto ele está na escola?
A Escola Castelo, em São Paulo, é uma dessas instituições de ensino de olho na evolução do problema. Em comunicado para os pais e cuidadores, pediu que as crianças levassem seus próprios repelentes de inseto – além daquele que há na escola – e usassem calças compridas, mesmo com o calor. A razão? Tentar deixar a menor quantidade de pele exposta e evitar assim a temida picada do mosquito.
“Resolvemos fazer o comunicado aos pais por causa dos comentários dos surtos de dengue. Como não sabíamos se era real ou não, preferimos nos precaver”, explica a diretora da escola, Maíra Ferreira Gil da Silva. “Enquanto escola e por termos crianças, ficamos preocupados nesse sentido”.
Áudio pelo Whatsapp
Igualmente preocupados, pais também receberam áudios no aplicativo Whatsapp de que havia surgido uma nova espécie de mosquito da dengue e que ela picaria apenas da cintura para baixo. Essa regra específica, no entanto, só valeria para adultos.
“Essa desinformação tem muito a ver com o fato de o mosquito fêmea do aedes aegypti ser um inseto que voa rasteiro, entre um metro ou um metro e meio de altura. Esse dado é válido logicamente para um adulto. Para crianças e pessoas de baixa estatura, ele pica da cintura para cima, no rosto. Apesar da boa intenção, a história de proteger só a perna não funciona”, esclarece o infectologista Artur Timerman, mestre em infectologia pela Universidade de São Paulo e médico do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia de São Paulo.
Timerman conta também que o repelente não é o considerado hoje o método mais eficiente de prevenção, pois há evidências de que alguns mosquitos já tenham criado resistência aos produtos.
“Mas de forma alguma o repelente deve ser passado só na barriga ou perna, porque a criança mede um metro, em média, e é onde o mosquito voa. É uma informação que começou errada e vem sendo propagada de forma inadequada”.
Maíra diz que a inspeção contra dengue na escola é rigorosa. “Não deixamos nenhuma poça, nenhum armazenamento de água. Já tivemos problemas de falta de água, mas fazemos o armazenamento correto, vedado”, conta ela.
“Os brinquedos que acumulam água também são limpos constantemente, não temos vasinhos de plantas que poderiam acumular água e fizemos dedetizações. Não sei se a dedetização resolve, mas fizemos”, conta.
A preocupação da diretora com o ambiente escolar faz todo o sentido. Timerman explica que o mosquito que transmite a dengue não tem autonomia para voos longos. “Ele voa uns 50 metros, os mais espertinhos uns 100 metros. A criança vai ser picada por mosquitos da região domiciliar”, explica.
Criadouros
Infectologista do Hospital São Camilo, José Ribamar Branco explica que a melhor forma de proteção, tanto nas escolas como nas casas, é mesmo combater os criadouros do mosquito.
“Manter a caixa d’água sempre fechada, não deixar nenhum acúmulo de água em vasos. A escola pode educar as crianças para identificar foco de dengue no prédio deles, na casa deles”, explica o médico.
“O importante é que no local da escola e arredores não tenha nenhum foco. Se nos arredores tiver uma casa que tenha piscina e o proprietário não mexe naquela água, podem acontecer problemas”.
Ele recomenda também acionar a vigilância sanitária para ver se há algum foco na área. “É mais objetivo do que controlar a roupa, pois as crianças vão brincar na região, não tem como mexer nisso”, diz.
Para os pais preocupados com a epidemia, o infectologista Artur Timerman explica que a maior causa da epidemia de dengue no País atualmente não é culpa somente do armazenamento indevido de água por causa da crise hídrica em algumas regiões do País, mas sim da circulação do quarto sorotipo do vírus da dengue.
“Não tem mosquito mutante, o mosquito é o mesmo, que se reproduz melhor na água limpa, mas na salobra e suja também já consegue fazer eclodir a larva”, explica ele. “Não é uma forma mais agressiva da doença, mas outro sorotipo que há tempos não estava em circulação”. Logo, as pessoas que já haviam sido picadas por outro sorotipo e adquiriram imunidade a ele, estão suscetíveis ao sorotipo 4.
Dos quatro sorotipos da dengue, todos têm a mesma gravidade e intensidade de sintomas. “O problema é que uma pessoa que já teve infecção prévia com outro sorotipo e adquire o 4 agora, a chance de ela ter uma forma mais grave eleva muito, em 15 vezes. Não por ele ser mais agressivo, mas por ela já ter tido uma infecção prévia. Se ela já tivesse tido o sorotipo 4 e agora pegasse o 2, por exemplo, a gravidade seria a mesma”, explica.
Relatos do início da década de 70 identificaram a circulação do sorotipo 4. Logo depois, ele sumiu. Segundo Timerman, a enorme epidemia que aconteceu no Rio de Janeiro em 2002 era basicamente do sorotipo dois. Depois, houve outras epidemias com o tipo 3.
“O sorotipo 4 tinha somente no Caribe, Suriname e Venezuela. Há cinco anos foram descritos casos em Rondônia, mostrando que ele havia entrado no País. No começo, o Ministério da Saúde falou que não tinha relevância, mas a partir daí foi se disseminando”, explica o infectologista.
iG
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