O tratamento para a maioria dos pacientes de esquizofrenia envolve altas doses de medicamentos antipsicóticos que bloqueiam alucinações e delírios, mas podem gerar efeitos colaterais indesejáveis, como ganho de peso ou tremores debilitantes. Um estudo financiado pelo governo americano, porém, pode mudar essa situação. De acordo com a pesquisa, uma das maiores realizadas sobre esse assunto, pessoas que receberam doses menores de antipsicóticos e uma ênfase maior em terapia e apoio familiar tiveram recuperação mais significativa ao longo dos dois primeiros anos de tratamento, em relação a quem recebeu atendimento com foco nos remédios.
O relatório, financiado pelo Instituto Nacional de Saúde Mental dos EUA, foi publicado nesta terça-feira no periódico “American Journal of Psychiatry”.
No Brasil, são cerca de 2,5 milhões de pessoas com esquizofrenia. Para especialistas, a descoberta pode ajudar a estabelecer um novo padrão de atendimento no chamado primeiro episódio psicótico, quando ocorre a primeira ruptura com a realidade, em que os pacientes (geralmente pessoas no final da adolescência ou pouco mais de 20 anos) ficam com medo e profundamente desconfiados. Apesar de muitos considerarem que o tratamento nesta fase inadequado, os cientistas afirmam que, quanto mais cedo as pessoas começaram o tratamento alternativo após o primeiro episódio, melhores resultados tiveram. O tempo médio entre o primeiro episódio e recebimento de cuidados médicos é de aproximadamente um ano e meio.
A abordagem mais holística que o estudo testou se baseia em programas da Austrália, da Escandinávia e de outros lugares que têm melhorado a vida dos pacientes há décadas. Segundo os pesquisadores, os antipsicóticos funcionam muito bem para algumas pessoas, eliminando a psicose com poucos efeitos colaterais. Mas a maioria considera que seus efeitos negativos, como ganho de peso, sonolência extrema e entorpecimento emocional, pioram a vida dessas pessoas. Quase três quartos dos pacientes que usam essas medicações param de tomá-las dentro de um ano e meio, segundo estudos.
No estudo, os médicos utilizaram os medicamentos como parte de um conjunto de tratamentos em que mantiveram as doses tão baixas quanto possível. Em alguns casos, a redução chegava 50%, minimizando os efeitos colaterais. A equipe de investigação liderada pelo médico John M. Kane, presidente do departamento de psiquiatria na Hofstra North Shore-LIJ School of Medicine, fez os levantamentos em 34 clínicas aleatórias em 21 estados, em que eram fornecidos tanto os tratamentos convencionais, quanto o conjunto proposto pela equipe.
Para isso, a equipe treinou funcionários das clínicas selecionadas para fornecerem um atendimento que incluiu três elementos, além da medicação. Em primeiro lugar, ajuda com o trabalho ou escola, tais como assistência em decidir quais as classes ou oportunidades são mais adequadas conforme os sintomas de uma pessoa. Em segundo lugar, a capacitação dos membros da família para que aumentassem sua compreensão sobre a esquizofrenia. E, finalmente, a terapia da conversa em que a pessoa com o diagnóstico aprende como construir relacionamentos sociais, reduzir o uso de substâncias e melhorar o controle dos sintomas, que incluem problemas de humor, além de alucinações e delírios.
Alguns pacientes podem, por exemplo, aprender a acalmar as vozes em sua cabeça, dependendo da gravidade do episódio. A equipe recrutou 404 pessoas que haviam passado pelo primeiro episódio, diagnosticado principalmente na adolescência ou por volta dos 20 anos. Cerca da metade recebeu a abordagem combinada e a outra parte ficou com o tratamento usual. Os médicos monitoraram os dois grupos usando listas de verificação padronizadas que avaliam a gravidade dos sintomas e a qualidade de vida dos pacientes.
O grupo que começou com o tratamento combinado teve, em média, resultados inferiores em ambos os casos no início do tratamento. Porém, ao longo de dois anos, ambos os grupos apresentaram melhora constante. Já ao final, aqueles que tinham recebido o tratamento alternativo alcançavam mais alívio sobre os sintomas, sendo que haviam recebido doses de drogas que eram 20% a 50% menores.
O Globo
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