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terça-feira, 5 de abril de 2011

Brasileiros usam cogumelo contra a leishmaniose

O cogumelo-do-sol (Agaricus brasiliensis), velho conhecido da medicina fitoterápica, é mais do que um simples complemento alimentar. Ele também combate a leishmaniose, doença que pode deixar sequelas graves e levar à morte.

Um grupo de pesquisadores de Minas Gerais propõe um novo tratamento com substâncias derivadas do fungo, que teria uma grande vantagem em relação ao método atual: a ausência de efeitos colaterais.

Normalmente, combate-se a leishmaniose com os chamados antimoniais pentavalentes, que são muito agressivos ao organismo e podem provocar efeitos adversos, especialmente no coração, nos rins e no fígado.

A terapia à base do cogumelo tem ainda outro ponto positivo. Ela é por via oral e, por isso, menos dolorosa do que as inevitáveis injeções usadas atualmente.

O método, cuja patente já foi requerida, usa somente o fungo para produzir o medicamento. Os pesquisadores fazem um extrato com o cogumelo, de onde tiram apenas as substâncias que combatem a enfermidade.

"É necessário passar por um processo químico. Não é só tomar o chá, por exemplo. Para esse tipo de uso, nós não temos provas", disse à Folha Eduardo Ferraz Coelho, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e um dos responsáveis pela pesquisa.

A técnica foi testada com sucesso em camundongos.

RISCO DUPLO

Causada por microrganismos do gênero Leishmania, a doença ocorre em duas formas principais: a cutânea, que provoca erupções severas na pele (comumente deixando cicatrizes) e a visceral.

"Na leishmaniose visceral, o parasita se infiltra e se multiplica em vários órgãos, podendo levá-los à falência", explica Coelho.

Os sintomas incluem febre, perda de peso e inchaço do fígado e baço, órgãos ricos em macrófagos, células de defesa que são as principais "vítimas" da Leishmania.

A doença é transmitida por mosquitos que medem poucos milímetros. Além dos humanos, o parasita contamina também outros mamíferos, como cães, cavalos e roedores. São eles os principais reservatórios da doença.

Dados da Secretaria Estadual de Saúde de MG indicam que em 2010 a leishmaniose visceral matou mais do que a dengue em Minas.

Na última década, o número de casos quase dobrou no Brasil. Passou de 1.944 em 1990 para 3.693 em 2009. Norte e do Nordeste concentram a maior parte do risco, mas tem havido um avanço significativo da doença também na região Sudeste.

Por enquanto, não há previsão para testes em humanos ou comercialização do novo medicamento.

"Esse fungo já é liberado pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] como complemento alimentar. Por isso, creio que será mais fácil ter autorização para outros usos", diz Coelho.

Além da UFMG, também há empresas privadas no projeto. O objetivo é atrair novos investidores para garantir sua continuidade.

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