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terça-feira, 5 de abril de 2011

Câncer x Alencar: medicina sofisticada para poucos

Possivelmente um dos principais legados que o ex-vice presidente deixa é a forma clara, prática e otimista como encarou o câncer, com qual lidou por vários anos.

É evidente a mensagem positiva de que o câncer pode ser encarado como uma doença tratável e, mesmo em estádios avançados, não significa que a vida acabou. Mesmo com diagnóstico de câncer avançado, Alencar teve uma carreira de sucesso como político e empresário. O número de pacientes que se viam estimulados e encorajados a cada notícia de nova intervenção de Alencar é impressionante. Ele, sem dúvida, abriu espaço para discutir o câncer de forma menos preconceituosa.

Por outro lado, gera desconforto saber que todos estes recursos são para uma minoria privilegiada. Após mais uma dúzia de procedimentos cirúrgicos e várias linhas de tratamento quimioterápico, alguns deles experimentais, no Brasil e no exterior, o próprio Alencar reconhecia que a sobrevida e qualidade de vida que ele pode manter era fruto de uma medicina sofisticada e muito cara, portanto, para poucos. O sistema público, por mais empenho dos profissionais envolvidos, está longe de oferecer todos os recursos cientificamente disponíveis atualmente. O sistema é incompleto e lento. Os recursos econômicos disponíveis para tratamento de pacientes com câncer no SUS são limitados e há muito tempo não são revistos. As causas são diversas e combinadas: os remédios novos tem preços proibitivos e incompatíveis com realidade brasileira, a população está envelhecendo que, por si só, gera aumento de demanda e, possivelmente o mais perverso de todos: existe desperdício e mau uso do dinheiro público.

As soluções passam por várias estratégias e uma delas é amplo debate para definição de critérios de incorporação de tecnologias em saúde e, sob avaliação farmacoeconômica sólida e transparente, escalonar nossas prioridades. Países ricos já definem seu posicionamento frente ao tema, fomentando debate objetivo com soluções práticas. Uma característica comum destes países é que o balizador de incorporação adotado é um padrão de assistência elevado. Em outras palavras, não se aceita a insuficiência como inevitável.

Jose Alencar motivou e segue motivando pacientes a lutar contra a doença. Esperamos que o exemplo dele também chame atenção para lutar contra inequidade que é tão perversa quanto a doença que o vitimou.

postado por Stephen Stefani

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