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sábado, 21 de maio de 2011

Hemorroida tem cura

Uma técnica recém-chegada ao Brasil promete solucionar o problema sem cortes nem dores. SAÚDE! explica o procedimento nos mínimos detalhes e mostra o que, de fato, está por trás desse estorvo


Se a estimativa dos médicos está mesmo correta, podemos dividir ao meio a população do planeta. Metade viverá em paz, não terá surpresas quando visitar o banheiro e não sentirá desconforto na reta final do aparelho digestivo. O restante irá encarar, alguma vez na vida, um problema que não mata, mas incomoda: as hemorroidas. Antes de começar a rezar para cair no grupo dos sortudos, cabe informar que a vida de quem sofre ou sofrerá do problema deve ficar mais tranquila. Desembarca no país uma nova terapia, que, diferentemente da cirurgia clássica, dispensa o bisturi e o sofrimento depois da operação.
“A hemorroida nada mais é que a dilatação de um dos vasos sanguíneos do ânus”, define o cirurgião do aparelho digestivo Sidney Klajner, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. “Ela pode ser comparada a varizes”, completa o proctologista Aloysio Almendra, do Hospital Copa D’Or, no Rio de Janeiro. Uma veia resolve inchar bem ali e, ao inflamar e se deformar, é capaz de extravasar os limites anais. Aí surgem os sintomas, como sangramentos e dores ao evacuar. A saída para o transtorno parece lógica: que se extirpem as hemorroidas! É a proposta da cirurgia tradicional, realizada há mais de 70 anos, que resolve o problema, mas cobra um preço: uma recuperação penosa, com direito a dores lancinantes. “Retiramos as hemorroidas por meio de cortes na borda do ânus, mas não damos pontos para evitar infecções”, resume Klajner.
Diante da descrição, não é de estranhar a busca por soluções menos agressivas. A última cartada nesse sentido é a — prepare-se para o nome — dearterialização hemorroidária transanal guiada por doppler (ou, muito melhor, simplesmente THD). A ideia da terapia é japonesa, mas foi uma empresa italiana que a colocou em prática. Klajner, depois de um estágio em Roma, trouxe a técnica para o Brasil e já a empregou em 18 pacientes no Einstein. “Os resultados, até agora, são semelhantes aos da cirurgia convencional”, diz. Com uma enorme vantagem: “O paciente não sente dor após o procedimento porque, em vez de cortes, damos um nó no vaso problemático”.
OS SINTOMAS LÁ EMBAIXO
Confira os sinais que costumam acusar uma hemorroida
  1. • Desconforto ao evacuar
  2. • Sangramentos que são denunciados por resíduos de sangue bem vermelho no papel higiênico e depois nas fezes. Com o tempo, podem aparecer pingos na privada
  3. • Dores
  4. • Secreção
  5. • Coceira
  6. • Surgimento de um tecido anormal na borda do ânus na hora de evacuar e que pode recuar após o esforço
A nova técnica é o exemplo de uma tendência na medicina de criar tratamentos mais rápidos e menos traumáticos. Antes de a THD aparecer, os especialistas já lançavam mão de outra terapia, popularmente chamada de grampeamento, como alternativa à cirurgia aberta. Ela consiste em recortar um trecho do canal do ânus e reunir as extremidades que sobraram. “O procedimento oferece menos dor, não requer cicatrizes externas e o paciente pode voltar para casa no dia seguinte”, diz o coloproctologista José Vinícius Cruz, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Alguns estudos, contudo, alertam para possíveis complicações após a operação, como infecções.
A THD, nascida em 2001, engrossa esse arsenal e, como seu foco de ação está em uma zona mais profunda do ânus, sem enervações para a dor, é mínima a chance do incômodo. A recuperação também acelera. “Em dois dias, o paciente já está trabalhando”, estima Klajner. O método, no entanto, não resolve todos os casos. “Ele deixa de ser recomendado quando há hemorroidas externas muito grandes”, diz. “A THD complementa o rol de opções terapêuticas, mas não representa uma panaceia”, acredita a coloproctologista Angelita Habr-Gama, professora de cirurgia da Universidade de São Paulo e médica do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista.
Tampouco ambiciona aposentar a cirurgia clássica. “As novas técnicas ainda são restritas devido ao seu alto custo”, observa Almendra. Outra questão que só o tempo poderá resolver é a validade da THD. “Apesar dos bons resultados, precisaremos de pelo menos 20 anos para saber se o tratamento se preservará por muito tempo”, pondera Klajner. De qualquer forma, se outra incursão ao hospital for necessária, o paciente fará o caminho muito mais calmo.
Quem nunca foi surpreendido por uma hemorroida já deve estar ansioso para que a reportagem se desvie da rota dos tratamentos e pegue a estrada da prevenção. O desejo é uma ordem e, vale adiantar, as informações abordadas aqui são úteis inclusive às pessoas que já têm essa experiência no currículo. Embora os genes estejam envolvidos com a erupção do problema — se há um caso na família, os riscos aumentam —, alguns hábitos podem determinar seu aparecimento.
“Um dos principais fatores é a constipação, que costuma ser resultado de uma alimentação pobre em fibras”, avisa o professor José Vinícius Cruz. “Outro erro bastante comum é não atender ao chamado da evacuação”, aponta. É como se fosse uma pena por não respeitar a vontade de fazer aquilo que ninguém pode fazer em nosso lugar.
A popular prisão de ventre é parceira das hemorroidas por um motivo que tem tudo a ver com a privada. Na hora de defecar, o constipado costuma dispensar um esforço extra, que é nocivo aos vasos sanguíneos do ânus. Não à toa, gestantes e idosos, mais sujeitos a um intestino preguiçoso, são candidatos preferenciais a hemorroidas. Para se esquivar da cilada, estabeleça regras no cardápio. “A dieta deve ser rica em fibras, provenientes de frutas, verduras e cereais, e contar com muito líquido”, orienta o proctologista Marco Aurélio Perin, do Hospital Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo.
Outra medida que restringe a aparição das intrusas é a higiene após a evacuação. “É melhor limpar o ânus com água e evitar o papel higiênico, que pode machucar a região”, afirma o coloproctologista Marcelo Averbach, do Hospital Sírio-Libanês, também na capital paulista. E a atividade física? Você já ouviu por aí que ela provoca hemorroida? Esclarecemos o boato. “Os exercícios regulares costumam melhorar o funcionamento do intestino”, afirma Perin. Exagerar, no entanto, tem seu lado prejudicial porque o aumento da pressão no abdômen durante uma corrida, por exemplo, pode repercutir no ânus. Aí, para o azar do atleta, tanto suor será convertido numa ingrata hemorroida.
A intrometida, aliás, pode nem surtir sintomas. Mas, se porventura pintar uma dor, espante o constrangimento e procure um médico habilitado a inspecionar o ânus. “Essa medida é ainda mais importante se houver sangramento, o que pode ser o sinal de um problema mais sério, como um tumor no aparelho digestivo”, alerta Averbach. “Aliás, o médico só deve se sentir liberado para tratar a hemorroida depois de investigar todo o intestino e excluir outras doenças”, avalia Cruz. Esse checkup está longe de ser uma passagem pelo paraíso, mas permite flagrar qualquer problema antes que ele vire uma tortura. E no caso de hemorroida, agora você já sabe, recursos não faltam para apagá-lo de vez — felizmente, cada vez menos dolorosos. É, sem dúvida, uma boa notícia para pelo menos metade da população mundial.
O FIM DO MARTÍRIO
Entenda como a técnica conhecida pela sigla THD elimina as hemorróidas
1. O ânus é uma região altamente vascularizada. Alguns vasos dali podem se dilatar e deformar-se, causando desconforto e sangramento. A nova técnica acaba com as hemorroidas longe da borda do ânus, região mais sensível à dor. Para tanto, o paciente é anestesiado da cintura para baixo.
2. O médico introduz no ânus um equipamento dotado de um doppler, sistema que, por meio de ondas de som, detecta o vaso que origina a hemorroida — ela tende a recuar com a entrada do aparelho. Dentro dele, há um espaço para manejar um porta-agulhas.
3. Com esse instrumento, o especialista dá um nó no vaso problemático, que deixa de abastecer a hemorroida. Para arrematar o serviço, ela é aprisionada, com outro ponto, na porção do ânus sem enervações para a dor. A hemorroida some de vista e deixa de incomodar.

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