Os implantes dentários foram um dos destaques do Congresso Internacional do Centenário da Associação Paulista de Cirurgiões-Dentistas, realizado no início de fevereiro em São Paulo. Enquanto centros de pesquisa buscam aperfeiçoá-los e estender sua indicação, cada vez mais brasileiros ostentam em sua boca as peças que reconstroem a dentição perdida. Mais versáteis, elas ocupam arcadas inteiras ou substituem unidades extraviadas — e olha que não é preciso ter tanta idade para recorrer a uma delas. “A implantodontia passa por um grande desenvolvimento, o que se reflete na melhoria dos tratamentos e do resultado estético”, avalia o dentista Wilson Sallum, coordenador científico do congresso. Nada melhor, então, do que conhecer as tendências nesse campo (veja a ilustração).
1. A VEZ DA ZIRCÔNIA
Quando se fala em implante, o nome de uma matéria-prima vem à cabeça do dentista: titânio. Consagrado nos quesitos eficácia e segurança, o metal tem uma história de quase 40 anos na odontologia. Uma alternativa, porém, emergiu recentemente: a zircônia. Os primeiros implantes à base desse material cerâmico desembarcaram no país nos últimos meses com a promessa de algumas vantagens. “Por ser isento de metal, ele anula os riscos de alergia e toxicidade”, aponta o dentista Paulo Leme, consultor da Z-Systems, companhia suíça que desenvolve o produto. “E, como a zircônia é branca, não há a possibilidade de o dente ficar acinzentado, como não raro acontece com o titânio.” A zircônia teria, ainda, a capacidade de facilitar a recuperação da gengiva após o procedimento. E, como seu implante é dotado de uma única peça — os de titânio contam com o parafuso e, sobre ele, um pilar que faz a junção com o dente artificial —, seria menor o risco de a prótese ficar instável.
Apesar de tantos ganhos, sobretudo estéticos, alguns especialistas não creem que a zircônia desbancará o titânio tão cedo. “Sabemos que ela se mostra excelente na função de pilar para o dente, mas precisamos de mais estudos para validá-la como implante”, pondera o dentista Carlos Eduardo Francischone, professor da Universidade de São Paulo, em Bauru, no interior do estado.
2. SUPORTE GARANTIDO
Quando um dente abandona a boca, sua morada também é condenada a desaparecer — é que a cavidade onde ele ficava abrigado, o alvéolo dentário, perde a utilidade e acaba se extinguindo. Muitas vezes, além dessa perda, o tecido ósseo que sustenta a dentição se torna mais espesso, e esse cenário pode dificultar a instalação e o sucesso do implante. Para contrapor essa falta de chão, os profissionais apostam nos biomateriais, obtidos de elementos sintéticos ou naturais, como o osso bovino. “Eles funcionam como um suporte para a formação da massa óssea, visando à reconstrução do arcabouço que sustenta o dente”, explica o dentista Paulo Sérgio Perri de Carvalho, professor da Universidade Estadual Paulista, em Araçatuba, no interior de São Paulo. É claro que, se a perda de osso for considerável, ainda não adianta apelar para os biomateriais — só o enxerto ósseo propriamente dito resolve o problema. Mas a tendência é que seu campo de atuação se estenda. “Nos Estados Unidos, a promessa é um material com proteínas capazes de estimular o crescimento ósseo e que poderia ser usado como alternativa ao enxerto”, conta o dentista Ariel Lenharo, diretor do Instituto Nacional de Experimentos e Pesquisas Odontológicas, em São Paulo.
3. OS IMPLANTES CURTOS
Muitas pessoas que esperam pela reconstrução do sorriso deparam com uma pedra no caminho: a necessidade de se submeter a um enxerto ósseo. A falta dos dentes de verdade por anos a fio, o uso de dentaduras, acidentes ou, simplesmente, o avançar da idade contribuem com a perda de osso na mandíbula ou na maxila. Sem solo suficiente para fixar um implante direito, a saída é retirar um pedaço de osso da bacia, por exemplo, e introduzi-lo na boca — uma cirurgia que demanda de seis a nove meses de reabilitação. Mas alguns casos podem escapar desse inconveniente graças a uma tecnologia que se aperfeiçoou nos últimos anos: os implantes curtos. “Eles reduzem o custo e a agressividade do procedimento”, compara o dentista Alexandre Turci, de São Paulo, que abordou o tema em palestra no congresso. “Sem o enxerto, a recuperação se torna mais rápida”, completa Lenharo. Como o nome já entrega, esses implantes são mais baixos, porém robustos. “Seu desenho faz aumentar em 30% a área de contato do implante com o osso”, calcula Alexandre. Se um parafuso convencional (e comprido) fica instável diante de uma superfície óssea comprometida, a versão curta se prende melhor sem cobrar um preço tão alto para o dono da boca.
TAMANHO NÃO É DOCUMENTO
Entenda as diferenças entre o procedimento que exige enxerto ósseo e a alternativa que se vale dos implantes curtos
1. Antes do implante
Pessoas com pouco tecido ósseo na mandíbula ou na maxila precisam se submeter a uma cirurgia que transpõe um bloco de osso da bacia, por exemplo, para o canto da boca onde ficarão os implantes. Entre seis e nove meses depois, a região restaurada está pronta para receber o parafuso do implante e, transcorridos mais três meses, o dente artificial é colocado.
1 ANO
É o tempo necessário para a instalação do enxerto, do implante e do dente artificial
2. Com implantes curtos
Essa técnica pode eliminar a necessidade de recorrer ao enxerto. Os parafusos, menores e robustos, são instalados a exemplo dos tradicionais. Só que eles aumentam o contato da peça com o osso ocupado. Para preencher espaços que ficariam vagos, são feitos alguns ajustes, como dispor de coroas dentárias maiores.
3 MESES
É quanto seria preciso esperar para o implantecurto receber a coroa dentária.
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