Os internautas podem contribuir com o trabalho dos cientistas de várias maneiras. Uma forma voluntária de se fazer isso é participar dos projetos de computação distribuída em rede, nas quais o usuário põe o tempo ocioso de sua máquina à disposição de pesquisadores para a realização de tarefas que requerem grande capacidade computacional. Existem dezenas de iniciativas desse tipo, com objetivos tão diferentes quanto buscar vida extraterrestre, estudar a geometria de proteínas ou identificar números primos.
Mas os usuários podem também ajudar a ciência à sua revelia, apenas com o uso rotineiro do Google. Nas regiões afetadas por surtos de gripe, as buscas feitas por sintomas, tratamentos e outros termos ligados à doença aumentam, e seu monitoramento permite rastrear a progressão da doença. Ao constatar isso, o mais popular buscador da internet criou o serviço Flu Trends (Tendências da Gripe), que existe em versão brasileira desde o ano passado. Neste fim de maio, a ferramenta indica que a atividade da gripe está moderada no Rio de Janeiro e baixa ou mínima nos outros seis estados monitorados.
Depois do estudo que mostrou que a gripe era rastreável com o Google, publicado na Nature em 2009, cientistas franceses comprovaram a validade do método para monitorar surtos de gastroenterite e a varicela. Agora, um grupo americano acaba de ampliar esse leque de doenças, ao mostrar que o padrão de buscas dos internautas é um indicador confiável do avanço das infecções pelas bactérias resistentes a antibióticos, responsáveis por boa parte das infecções hospitalares.
No estudo que acaba de ser publicado na revista Emerging Infectious Diseases, a equipe de Vanja Dukic, da Universidade do Colorado em Boulder, investigou as infecções causadas pelas bactérias Staphylococcus aureus resistentes à meticilina, conhecidas em inglês pela sigla MRSA. O estudo mostrou que havia uma relação entre o número de buscas pelos termos ‘MRSA’ e ‘staph’ – nome pelo qual as bactérias são chamadas por parte da imprensa dos Estados Unidos – e o número de internações ligadas a esses microrganismos comunicadas por hospitais americanos.
A pesquisa indica que os mecanismos de busca da internet podem ser aliados importantes dos serviços convencionais de monitoramento de doenças usados nos sistemas de saúde pública. No caso dos Estados Unidos, em que os dados sobre as infecções por Staphylococcus aureus resistente só apontam as grandes regiões em que elas estão ocorrendo, as buscas pela internet permitiriam refinar as estatísticas e identificar surtos em uma cidade específica, segundo disse à Wired Diane Lauderdale, uma das autoras do estudo.
Resta saber até que ponto uma ferramenta como essa seria efetiva para o monitoramento de doenças no contexto brasileiro. Parte considerável da população ainda não tem acesso à internet, e esses grupos tendem a viver em áreas mais vulneráveis a algumas doenças. Da mesma forma, o acesso à rede provavelmente é menor nas áreas em que os serviços de saúde pública têm mais dificuldade de chegar, nas quais uma forma alternativa de monitoramento seria especialmente bem-vinda.
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