Resultados de estudo reafirmam que manter um peso adequado é crucial com a idade
Já é sabido que a obesidade aumenta o risco de câncer relacionado ao estrogênio em mulheres na pós-menopausa.
Agora novas pesquisas sugerem que existe uma ligação entre a obesidade pós-menopausa e um tipo especialmente agressivo de câncer de mama que não depende do estrogênio para se desenvolver.
Em um novo estudo baseado no Índice de Massa Corporal (IMC) – medida calculada a partir do peso e da altura de um indivíduo – as mulheres com IMCs mais altos tiveram um aumento de 35% no risco de desenvolver um tipo agressivo de câncer de mama conhecido como triplo-negativo, disse Amanda Phipps, pós-doutoranda do Fred Hutchinson Cancer Research Center, de Seattle, médica que liderou o estudo.
A equipe de pesquisa constatou que elas também apresentaram um aumento de 39% no risco de desenvolver outros tipos de câncer de mama.
O câncer de mama triplo-negativo é caracterizado por uma falta de estrogênio, progesterona e expressão da proteína HER2 – daí o seu nome. Especialistas afirmam que somente de 10 a 20% dos casos de câncer de mama são do tipo triplo-negativo, mas as perspectivas são ruins devido à agressividade da doença e à carência de tratamentos específicos.
“A novidade no estudo é a constatação sobre o tipo triplo-negativo. Mesmo que as descobertas demandem pesquisas complementares, elas já são razão suficiente para repetirmos a mensagem de que manter um peso saudável é crucial com a idade”, disse ela.
Para o estudo, publicado no dia 1 de março na revista médica Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention, os pesquisadores avaliaram dados de 155.723 mulheres inscritas na Women’s Health Initiative – estudo em grande escala sobre mulheres na pós-menopausa iniciado em 1993. O câncer, as doenças cardíacas e a osteoporose foram analisados no estudo, com duração de 15 anos.
Os participantes tinham entre 50 e 79 anos e relataram seus hábitos de exercícios físicos, peso e altura – cada um teve então seu IMC calculado. Durante a fase de acompanhamento do estudo, que durou uma média de 7,9 anos, um total de 2.610 mulheres desenvolveu tumores nas mamas com receptor de estrógeno positivo, enquanto que 307 mulheres desenvolveram o câncer de mama triplo-negativo.
As mulheres foram divididas em quatro grupos, do mais baixo ao mais alto índice de massa corporal. Aquelas do grupo mais alto apresentavam IMC acima de 31 – sendo que 30 já caracteriza a obesidade.
A associação entre o câncer de mama triplo-negativo e a obesidade foi o que os cientistas chamam de significância estatística limítrofe. Para Phipps, porém, isso provavelmente aconteceu devido ao número relativamente baixo de casos estudados.
Os pesquisadores também descobriram uma pequena ligação entre o aumento de atividade física e a redução do risco dos dois tipos de câncer, sugerindo – mas, não comprovando – que o aumento de exercícios possivelmente modera os riscos destes tipos de câncer na mulher.
Ao avaliar os riscos relacionados à obesidade, Phipps e seus colegas levaram em conta fatores como idade, nível de instrução, renda, histórico familiar e etnia.
A já conhecida ligação entre a obesidade e os tipos de câncer de mama estrógeno-positivo foi atribuída à maior exposição ao estrógeno no tecido adiposo. Após a menopausa, grande parte do estrógeno da mulher é proveniente do tecido adiposo. “Quando mais gordura, maior a exposição ao estrógeno”, disse Phipps.
Ela explica, porém, que os tipos de câncer triplo-negativo não respondem aos hormônios. “O fato de observarmos uma associação tão semelhante entre estes dois subtipos e a obesidade nos diz que talvez não seja apenas o efeito hormonal da obesidade que leve ao risco”, disse Phipps.
As razões exatas ainda são desconhecidas, mas Phipps diz que a obesidade aumenta sinais de inflamações, níveis de insulina e fatores de crescimento semelhantes à insulina. “Tudo isso poderia contribuir para o crescimento de tumores nas mamas”, disse ela.
“O estudo confirma que a obesidade e o risco de câncer não são apenas mais um problema do estrógeno”, disse a Dra. Joanne Mortimer, diretora do programa de câncer da mulher do City of Hope Comprehensive Cancer Center, na Califórnia, que revisou o estudo, mas não participou do mesmo.
“Não se trata apenas do problema do estrógeno alimentar as células cancerígenas”, ela diz.
Na opinião da especialista, pode ser que as células adiposas criem um ambiente condutor parao crescimento de células de câncer de mama, que vai além do efeito do estrógeno.
“Eu acho que as pessoas presumem que a gordura é inerte. Pesquisadores, porém, vêm descobrindo que as células adiposas fazem mais do que ocupar espaço”, ela complementou.
* Por Kathleen Doheny
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