A picada da aranha-armadeira (Phoneutria nigriventer) costuma provocar dor local intensa e, em crianças, pode até causar a morte. Mas toxinas presentes em seu veneno apresentaram potencial terapêutico em pesquisas com camundongos. Ainda não foram realizados testes em humanos.
Quatro dessas toxinas se mostraram eficazes para arritmia cardíaca, isquemia (diminuição do fluxo do sangue) cerebral e da retina, dor e disfunção erétil.
Um dos grupos no país que pesquisa as propriedades do veneno da armadeira é o da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), sob coordenação do bioquímico Marcus Vinicius Gómez.
Nesta semana, ele apresentou o trabalho da equipe no segundo encontro global do Hospital A.C. Camargo.
CANAIS DA AÇÃO
Gómez e seus colegas têm mostrado que algumas toxinas do veneno inibem canais de cálcio ("poros" celulares) nas células nervosas, que aparecem aumentados em várias patologias.
Neste ano, as descobertas relacionadas à isquemia da retina e à arritmia foram publicadas nas revistas científicas "Retina" e "Toxicon".
Para tratar dor crônica, o pesquisador afirma que uma toxina se mostrou até dez vezes mais potente do que a morfina e que, ao contrário dessa substância, não deixa de fazer efeito com o tempo.
As toxinas da aranha também são tão eficazes quanto o Prialt, um remédio aprovado nos EUA para tratar dor, uma versão sintética de um princípio ativo encontrado em caramujos marinhos.
"Mas nosso experimento mostrou mais vantagens, e uma delas é a menor quantidade de efeitos colaterais, como hipertensão e confusão mental", afirma Gómez.
No caso da isquemia, as toxinas apresentaram uma função neuroprotetora, reduzindo a morte de neurônios provocada pela privação de oxigênio que há nesses casos.
Em 1998, no Instituto Butantan, foi identificada a toxina capaz de produzir ereção em homens (um dos possíveis efeitos colaterais da picada da aranha). Os testes também só foram feitos em camundongos.
Marta Cordeiro, coordenadora da pesquisa na Funed (Fundação Ezequiel Dias), que participa do estudo sobre o veneno com a UFMG, afirma que ainda há um longo caminho para que as toxinas sejam testadas em humanos e usadas em medicamentos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário