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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Com câncer e sem autoestima


Ao ouvir de um médico “você está com câncer”, qualquer pessoa se assusta. Se a frase dita por um mastologista vier com a informação de que o problema é na mama e que um dos seios terá de ser retirado, o susto é ainda maior e afeta principalmente a autoestima.

Quando soube que tinha um câncer na mama, a dona de casa Gisele Cifarelli, de 40 anos, ainda nem havia se recuperado de uma notícia recebida dez meses antes. O marido, com quem estava casada havia 26 anos, tinha pedido a separação. A autoestima, que já estava abalada, despencou junto com os cabelos longos e loiros que ela viu cair por causa da quimioterapia. “Lembro até hoje desse momento. Minha filha e minha sobrinha estavam comigo quando fui cortar os cabelos que estavam caindo muito. Segurei a mão da Giovana (filha) e choramos juntas”, conta, hoje recuperada.

A quimioterapia é comum em pacientes com diagnóstico de câncer de mama. Em alguns casos é preciso passar também por uma mastectomia (cirurgia para a retirada da mama) e é aí que mora o principal problema. “Os seios da mulher têm uma conotação com amamentação, nutrição e, claro sedução”, explica Adriana Furer, psicóloga do Ambulatório de Mastologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). “O tratamento desse tipo de câncer faz com que as mulheres sofram uma mutilação que transforma completamente a sua imagem”, acrescenta a psicóloga.

No caso de Gisele, as duas mamas tiveram de ser retiradas e seus órgãos reprodutores não foram poupados porque geravam células cancerígenas. “Depois da cirurgia fiquei muito deprimida, olhava no espelho e estava faltando algo. Tive de ser acompanhada até por um psiquiatra. Cheguei a tomar medicamentos, mas um dia olhei para a minha filha e pensei: ‘vou viver e vou cuidar dela.’”

Foi a partir desse dia que Gisele voltou a viver, literalmente. “Passei novamente me arrumar, usar salto, sair pra balada com minhas amigas mesmo careca. Resolvi encarar a doença e foi a melhor coisa que me aconteceu.”No início de julho, Gisele passou pela cirurgia de reconstrução das mamas e agora, sim, afirma ter resgatado por completo sua autoestima.

Incidência
Matéria publicada ontem pelo JT mostrou que são esperados para este ano 5.760 novos casos de câncer de mama na capital paulista , mais de um terço do total estimado para todo o Estado de São Paulo (15.080) até o fim de 2011.

Os dados são do último levantamento do Instituto Nacional do Câncer (Inca), Estimativas 2010: Incidência de Câncer no Brasil, que traz informações de referência para os anos 2010 e 2011.

A região Sudeste surge como o local do País onde o câncer de mama é o tipo de neoplasia mais incidente entre as mulheres, com um risco médio estimado de 65 casos novos por 100 mil, o suficiente para assustar qualquer moradora da cidade.

Especialistas ressaltam a importância do apoio da família, dos amigos e dos parceiros sexuais na vida das mulheres que descobrem ter câncer de mama. “Muitas começam um processo de isolamento, evitando o parceiro, não expondo a parte superior do corpo, não se permitindo serem tocadas”, explica a psicóloga Adriana.

A operadora de caixa Ângela Gonçalves Lopes, de 36 anos, descobriu que tinha a doença no ano passado e teve total apoio do marido, o gerente Antônio Marcos Lopes, da mesma idade. “Ele me acompanhava em tudo. Ia ao hospital, às consultas, dormiu comigo quando fiquei internada para a cirurgia”, relembra. “Algumas vezes chegou até a faltar no serviço. Esse companheirismo foi fundamental.”

Ela conta que no começo sentia muita vergonha de expor seu corpo e que a relação sexual foi um pouco afetada, mas as sessões de terapia e muito diálogo com o parceiro a fizeram superar a fase tão difícil. Para essas pacientes a psicóloga do Icesp recomenda terapia em grupo pré-operatório com o intuito de orientá-las sobre a cirurgia e preparar o emocional. “Nosso papel nas terapias de grupo e individuais é resgatar a aceitação do corpo modificado, mas que tem muito valor.”

Fonte Estadão

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