A vida pode ser bem complicada para quem não cresceu como a maioria. Mas os que passam da medida também sofrem, seja pela pequenez do mundo ou pelo preconceito. Vítimas de uma mal raro, as pessoas com gigantismo ainda são encaradas com espanto e, muitas vezes, têm poucas alternativas para barrar seu crescimento exagerado. Além do desconforto social, esse grupo carrega, literalmente, o peso do corpo nas costas. Sem controle da evolução do quadro, homens e mulheres com a patologia desenvolvem problemas ósseos e se tornam mais suscetíveis a doenças cardíacas, à hipertensão e ao diabetes (veja arte).
Basicamente, o gigantismo ocorre quando há um excesso de hormônio do crescimento no organismo. Essa substância, produzida na região cerebral, existe em quantidades variáveis ao longo da vida. Após os 2 anos e até o fim da adolescência, ela tem um papel essencial, pois garante que células localizadas nas cartilagens se reproduzam e façam o corpo esticar. Mas o HC, como é chamado, também é importante na fase adulta. “O hormônio do crescimento ajuda a manter a musculatura, diminui a gordura circulante e atua em aspectos mentais”, diz o endocrinologista Marcello Bronstein, do Hospital das Clínicas de São Paulo, um centro de referência em anomalias do crescimento.
Pesquisas mostram que 10 em cada 1 milhão de pessoas desenvolvem o gigantismo — o que daria cerca de 70 mil pacientes com a doença nos dias de hoje. A gaúcha Kátia Rodrigues, 48 anos, é uma delas. Recentemente, ela foi notícia em jornais e sites, devido à sua altura impressionante e à dificuldade que tem para andar. Com 2,37m, Kátia pode entrar para o Guinness, o livro dos recordes, como ao mulher mais alta do mundo. A mulher, contudo, parece não estar muito interessada nesse tipo de reconhecimento. A reportagem do Correio tentou o contato com a mãe, Clari Rodrigues, mas a família preferiu o silêncio — uma reação natural entre as vítimas do gigantismo.
“Não há carros, ônibus, camas, cadeiras adaptadas. Isso sem falar nos efeitos psicossociais, de exclusão”, comenta Marcello Bronstein. O alagoano José Cristóvão da Silva, 26 anos, é outro brasileiro afetado pela patologia. Ele deixou a escola no fim da 8ª série do ensino fundamental, quando não conseguiu mais conciliar os estudos com a investigação sobre o que o fazia crescer tanto. “O pior é não saber o que você tem”, diz. Hoje, com 2,25m, ele voltou ao ensino médio. “Parei de estudar, a doença me atrasou muito. Meu sonho agora é terminar o colégio”, contou Silva ao Correio.
O rapaz tem o tipo mais comum de gigantismo, provocado por um tumor na região cerebral. O aglomerado de células, geralmente benignas, pressiona a glândula produtora do hormônio do crescimento, fazendo com que haja um descontrole na fabricação da substância. Os tumores podem ser tão grandes que passam a ameaçar outras partes do crânio. Silva, por exemplo, teve o nervo óptico atingido e chegou a perder a visão dos dois olhos. O problema foi resolvido quando ele retirou o tumor, em 2006. “Depois disso, eu parei de crescer, graças a Deus.”
A cirurgia, porém, não eliminou outros problemas da vida do jovem. Como ele ficou muitos anos com excesso de hormônio do crescimento, acabou se tornando vulnerável a doenças que afetam os órgãos internos. “Há dois meses, fui fazer um checape e o médico encontrou algo no meu coração. Não sei o que é, mas sei que vai ser uma burocracia para resolver”, prevê. Ao longo dos últimos anos, ele manteve viagens regulares de Palmeira dos Índios, no interior de Alagoas, a São Paulo, onde faz o tratamento. Como o processo é custeado pelo governo, Silva precisa enfrentar uma série de exigências para garantir que sua saúde continuará em dia.
Sem restrições
Basicamente, o gigantismo ocorre quando há um excesso de hormônio do crescimento no organismo. Essa substância, produzida na região cerebral, existe em quantidades variáveis ao longo da vida. Após os 2 anos e até o fim da adolescência, ela tem um papel essencial, pois garante que células localizadas nas cartilagens se reproduzam e façam o corpo esticar. Mas o HC, como é chamado, também é importante na fase adulta. “O hormônio do crescimento ajuda a manter a musculatura, diminui a gordura circulante e atua em aspectos mentais”, diz o endocrinologista Marcello Bronstein, do Hospital das Clínicas de São Paulo, um centro de referência em anomalias do crescimento.
Pesquisas mostram que 10 em cada 1 milhão de pessoas desenvolvem o gigantismo — o que daria cerca de 70 mil pacientes com a doença nos dias de hoje. A gaúcha Kátia Rodrigues, 48 anos, é uma delas. Recentemente, ela foi notícia em jornais e sites, devido à sua altura impressionante e à dificuldade que tem para andar. Com 2,37m, Kátia pode entrar para o Guinness, o livro dos recordes, como ao mulher mais alta do mundo. A mulher, contudo, parece não estar muito interessada nesse tipo de reconhecimento. A reportagem do Correio tentou o contato com a mãe, Clari Rodrigues, mas a família preferiu o silêncio — uma reação natural entre as vítimas do gigantismo.
“Não há carros, ônibus, camas, cadeiras adaptadas. Isso sem falar nos efeitos psicossociais, de exclusão”, comenta Marcello Bronstein. O alagoano José Cristóvão da Silva, 26 anos, é outro brasileiro afetado pela patologia. Ele deixou a escola no fim da 8ª série do ensino fundamental, quando não conseguiu mais conciliar os estudos com a investigação sobre o que o fazia crescer tanto. “O pior é não saber o que você tem”, diz. Hoje, com 2,25m, ele voltou ao ensino médio. “Parei de estudar, a doença me atrasou muito. Meu sonho agora é terminar o colégio”, contou Silva ao Correio.
O rapaz tem o tipo mais comum de gigantismo, provocado por um tumor na região cerebral. O aglomerado de células, geralmente benignas, pressiona a glândula produtora do hormônio do crescimento, fazendo com que haja um descontrole na fabricação da substância. Os tumores podem ser tão grandes que passam a ameaçar outras partes do crânio. Silva, por exemplo, teve o nervo óptico atingido e chegou a perder a visão dos dois olhos. O problema foi resolvido quando ele retirou o tumor, em 2006. “Depois disso, eu parei de crescer, graças a Deus.”
A cirurgia, porém, não eliminou outros problemas da vida do jovem. Como ele ficou muitos anos com excesso de hormônio do crescimento, acabou se tornando vulnerável a doenças que afetam os órgãos internos. “Há dois meses, fui fazer um checape e o médico encontrou algo no meu coração. Não sei o que é, mas sei que vai ser uma burocracia para resolver”, prevê. Ao longo dos últimos anos, ele manteve viagens regulares de Palmeira dos Índios, no interior de Alagoas, a São Paulo, onde faz o tratamento. Como o processo é custeado pelo governo, Silva precisa enfrentar uma série de exigências para garantir que sua saúde continuará em dia.
Sem restrições
Para o jovem alagoano, o gigantismo começou na adolescência, justo quando ele passava pela fase em que os meninos mais crescem. É possível, porém, que a doença apareça na fase adulta. Nesse caso, ela muda de nome e de efeitos. A chamada acromegalia pode atingir pessoas em qualquer idade e provocar uma série de incômodos, principalmente por conta do aumento das extremidades do corpo. O aposentado Natalino Mingareli, 38 anos, convive com a patologia. Há 15 anos, ele começou a sentir dores de cabeça persistentes. “Os médicos diziam que era sinusite”, lembra. O diagnóstico veio por acaso, quando ele foi retirar uma hérnia na virilha e precisou fazer exames preventivos.
Depois de revelar a causa de suas dores, Mingareli enfrentou uma verdadeira via sacra. Primeiro, suas mãos e seus pés cresceram de forma absurda e corpo inchou. “Cheguei aos 200kg, com 1,75m. As pessoas tinham até medo de olhar para mim, eu parecia um monstro”, conta. De lá para cá, o aposentado passou por quatro cirurgias para análise e retirada do tumor, que voltava a crescer. O problema só foi controlado quando Mingareli entrou em um grupo de voluntários que testaram um novo medicamento contra a acromegalia. A cada 28 dias, ele toma uma injeção e medicamentos que evitam a evolução do tumor e estabilizam sua produção hormonal.
Além de intervenções cirúrgicas, o especialista pode administrar remédios que controlam o trabalho da hipófise. Isso é recomendado quando o tumor está em uma área delicada do cérebro ou quando a doença é descoberta precocemente. Outra hipótese é a radioterapia para eliminar as células que se replicam de forma anormal. “O problema é que essa técnica acaba atingindo também partes saudáveis do organismo”, pondera o endocrinologista Marcello Bronstein. Mas entre todos os desafios, o pior ainda é encarar o mundo sem ser visto como uma aberração. “É difícil, até mesmo, dentro de casa. Minha família não acreditava que eu sofria, eles achavam que eu estava apenas engordando”, lembra, triste, Natalino Mingareli, que hoje está com 100kg, tentando retomar a vida. “A gente fica com medo, porque não sabe o que vai acontecer. Mas agora estou melhor.”
O gigante de Alton
O maior homem de todos os tempos viveu na cidade de Alton, em Illinois, nos Estados Unidos. Robert Wadlow chegou a impressionantes 2,74m, com calçado número 70. Wadlow, que passou parte da vida trabalhando como vendedor de uma marca de sapatos, morreu aos 22 anos, dormindo, depois de uma infecção repentina.
Depois de revelar a causa de suas dores, Mingareli enfrentou uma verdadeira via sacra. Primeiro, suas mãos e seus pés cresceram de forma absurda e corpo inchou. “Cheguei aos 200kg, com 1,75m. As pessoas tinham até medo de olhar para mim, eu parecia um monstro”, conta. De lá para cá, o aposentado passou por quatro cirurgias para análise e retirada do tumor, que voltava a crescer. O problema só foi controlado quando Mingareli entrou em um grupo de voluntários que testaram um novo medicamento contra a acromegalia. A cada 28 dias, ele toma uma injeção e medicamentos que evitam a evolução do tumor e estabilizam sua produção hormonal.
Além de intervenções cirúrgicas, o especialista pode administrar remédios que controlam o trabalho da hipófise. Isso é recomendado quando o tumor está em uma área delicada do cérebro ou quando a doença é descoberta precocemente. Outra hipótese é a radioterapia para eliminar as células que se replicam de forma anormal. “O problema é que essa técnica acaba atingindo também partes saudáveis do organismo”, pondera o endocrinologista Marcello Bronstein. Mas entre todos os desafios, o pior ainda é encarar o mundo sem ser visto como uma aberração. “É difícil, até mesmo, dentro de casa. Minha família não acreditava que eu sofria, eles achavam que eu estava apenas engordando”, lembra, triste, Natalino Mingareli, que hoje está com 100kg, tentando retomar a vida. “A gente fica com medo, porque não sabe o que vai acontecer. Mas agora estou melhor.”
O gigante de Alton
O maior homem de todos os tempos viveu na cidade de Alton, em Illinois, nos Estados Unidos. Robert Wadlow chegou a impressionantes 2,74m, com calçado número 70. Wadlow, que passou parte da vida trabalhando como vendedor de uma marca de sapatos, morreu aos 22 anos, dormindo, depois de uma infecção repentina.
Fonte Gorreio Braziliense
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