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segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

"Contágio" de bocejo é mais frequente entre pessoas com maior intimidade

Parece até vírus de gripe: basta alguém bocejar para que uma sinfonia de “uah” se espalhe pelo ambiente. De fato, o bocejo é contagiante. Mas o responsável por “transmiti-lo” não é um micro-organismo nocivo, e, sim, a empatia.

Um estudo desenvolvido por pesquisadores italianos mostrou que, quanto maior a relação entre as pessoas — amigos íntimos, familiares, casais —, mais rápido e frequente é o “contágio emocional”, como definiram os cientistas.

Elisabetta Palagi, responsável pelo Setor de Zoologia de Vertebrados do Centro Interdisciplinar do Museu de História Natural de Pisa, conta que, no reino animal, todo ser que tem ossos — e, consequentemente, mandíbula — costuma bocejar. Esse é um mecanismo natural que pode ter diferentes significados: alívio do estresse, tentativa de manter a atenção ou a demonstração de tédio. Mas, no caso dos primatas, humanos ou não, ele tem a função, também, de sinalizar a empatia.

Segundo a cientista, coautora de um estudo publicado na revista científica PlosONE, o bocejo contagiante, ou seja, aquele não causado por fatores fisiológicos, começa a se manifestar quando a criança chega aos 4 anos. “Nessa fase, a pessoa desenvolve a habilidade de identificar as emoções do outro”, diz. De acordo com Palagi, há diversas indicações clínicas, psicológicas e neurobiológicas que associam o bocejo contagioso à intimidade entre as pessoas.

Experiências realizadas com equipamentos de neuroimagem, como ressonância magnética, já mostraram que, quando uma pessoa vê alguém que gosta de bocejar, seu cérebro ativa conexões no pré-cúneo e no córtex cingulado posterior, regiões associadas à empatia. “Ao mesmo tempo, sabemos que o bocejo contagioso não acontece em indivíduos com distúrbios da empatia, como o autismo”, afirma a pesquisadora.

Inge-Marie Eigsti, chefe do Laboratório de Psicologia da Universidade de Connecticut, que não participou do estudo italiano, reforça o que diz Palagi. No ano passado, Eigsti orientou o trabalho de uma aluna de graduação, realizado com crianças que sofrem de distúrbios do espectro autista. Foi verificado que, aos 4 anos, quando a maioria já responde ao contágio do bocejo, esses indivíduos são indiferentes. “Mesmo depois de mais velhas, pessoas com o problema repetem muito menos esse gesto quando veem outras fazendo-o, o que nos dá alguma pista sobre a relação entre a empatia e o fenômeno”, diz a especialista.

Método
No estudo de Pisa, os pesquisadores passaram um ano analisando o comportamento de 109 pessoas com mais de 16 anos, sendo 56 mulheres e 53 homens, da Europa, da América do Norte, da Ásia e da África, em seu hábitat natural. Durante cada período de observação, que podia durar de seis minutos a duas horas, os bocejos eram metodicamente catalogados. Os cientistas anotavam quando o gesto ocorria, quem o reproduzia mais rápido — se alguém com ou sem contato visual com a pessoa que bocejou, por exemplo —, o número de bocejos que se seguiam, o grau de intimidade entre quem bocejava e quem era “contagiado” e o contexto social.

“No total, fizemos o registro de 480 episódios. Entre as variáveis que consideramos, como o gênero do indivíduo, a posição em que se encontrava, o contexto (por exemplo, se estava no ônibus ou numa sala fechada), entre outros, a única com efeito significativo sobre o contágio foi a ligação social entre quem bocejava e quem reproduzia o gesto”, conta Elisabetta Palagi. Independentemente do nível cultural, social e da nacionalidade, os participantes do estudo se comportaram de maneira idêntica. Quanto maior a intimidade com quem bocejava primeiro, mais rápida e frequente era a resposta.

Segundo Palagi, a empatia é um fenômeno baseado no mecanismo de percepção e ação, algo que apenas seres com complexas redes sociais conseguem demonstrar. Além dos humanos, bonobos e chimpanzés, ambos primatas, também manifestam o bocejo contagiante. Mas ela diz que experiências sugerem que outros animais, como cachorros, que possuem um grau alto de cognição e afeição, podem fazer o mesmo.

De um ponto de vista evolutivo, a pesquisadora alega que o bocejo contagiante pode ser um gesto inconsciente para demonstrar identificação. “É como se um indivíduo dissesse ao outro: ‘Ei, eu sou como você e gosto de você, por isso, vou reproduzir seu gesto’”, diz. Como outros grandes primatas também mostram essa habilidade, Palagi sugere que a característica foi desenvolvida no ancestral comum entre o homem e os demais macacos. “Da próxima vez em que alguém bocejar depois que você fizer isso, tome como uma prova de grande afeto”, brinca a pesquisadora.


Palavra de especialista

“Empatia é algo difícil de ser diretamente mensurado porque é uma resposta interna, é uma imitação não consciente e emocional. O bocejo contagiante nos permite, de certa forma, medir o nível de empatia entre os seres. Fizemos o teste com chimpanzés e também constatamos que, entre primatas complexos, a reprodução do bocejo não é uma questão de sono, mas puramente de empatia.”

Fonte Correio Braziliense

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