A boa prática científica é baseada na busca incansável da verdade e na vontade de melhorar a vida das pessoas. Por terem agido dessa forma, oito pesquisadores foram escolhidos pela Nature, uma das mais prestigiosas revistas científicas do mundo, para integrar a lista de personalidades que se destacaram no meio acadêmico em 2011.
Outras duas pessoas completam a relação, publicada na edição de hoje do periódico, por motivos diferentes. O psicólogo social alemão Diederik Stapel é mencionado porque manipulou e inventou dados em suas pesquisas sobre preconceito e estereótipos. Ao ser investigado e afastado pela Universidade Tilburg, na Holanda, tornou-se um exemplo de como devem ser tratados aqueles que insistem em praticar a má ciência. Já a inclusão da menina Danica May Camacho, que completará 2 meses no próximo dia 31, serve para lembrar que as pessoas a quem o conhecimento produzido deve ajudar somam agora 7 bilhões, como estimou a Organização das Nações Unidas (ONU) no dia em que a pequena filipina nasceu, 31 de outubro.
Perseguir a verdade pode significar, em alguns casos, questionar gênios que parecem infalíveis. A lista da Nature é iniciada com um perfil de Dario Autiero, físico à frente da equipe responsável pelo anúncio, em 23 de setembro, de que partículas subatômicas conhecidas como neutrinos aparentemente atingiram uma velocidade maior que a da luz ao percorrer os 730km que separam o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern) de um laboratório em Gran Sasso (Itália). Caso o resultado seja confirmado por outros especialistas, a Teoria da Relatividade, elaborada por Albert Einstein e que prevê que nada pode ultrapassar a velocidade da luz, deverá ser revista, assim como boa parte da física moderna.
Como bons cientistas, Autiero e seu grupo analisaram os dados por meses antes de divulgá-los e convidaram os colegas a verificarem se estão certos ou errados. “Quando vi os dados pela primeira vez, tive certeza de que havia algum erro. Depois, percebemos que não havia mais nada que podíamos fazer com aquelas informações. Era nosso dever divulgá-las, para que outros pudessem analisá-las”, revela o físico à Nature.
A busca por respostas também pode levar à confirmação daquilo que outros um dia imaginaram. O também físico Mike Lamont integra a lista por coordenar os choques entre prótons realizados no Grande Colisor de Hádrons (LHC), o acelerador de partículas do Cern. Graças a essas experiências, os cientistas puderam estimar o peso do bóson de Higgs — partícula cuja existência ainda não foi comprovada, mas que seria a responsável pela formação da matéria, logo de todo o Universo. Nunca os cientistas estiveram tão próximos da chamada “partícula de Deus”, proposta pelo pesquisador britânico Peter Higgs nos anos 1960.
Outras perguntas que ficaram mais perto de ser respondidas em 2011 foram as inquietantes “estamos sós?” e “há outros planetas como a Terra?”. Graças ao telescópio orbital Kepler, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), os cientistas já conseguiram identificar 28 planetas orbitando estrelas fora do Sistema Solar (os chamados exoplanetas). Um deles — o Kepler 22b —, confirmado no início deste mês, está dentro da zona habitável de sua estrela, sendo, até agora, o principal candidato a “nova Terra”.
O trabalho de Sara Seager, especialista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), merece destaque por indicar um promissor avanço nessas pesquisas. A astrofísica trabalha na elaboração de uma nova classe de telescópios que possibilitará análises mais precisas dos exoplanetas, ajudando os pesquisadores a confirmar se existem no Universo corpos semelhantes à Terra e que podem, portanto, abrigar vida. “(Daqui a centenas de anos), as pessoas olharão para trás e não se lembrarão de mim ou de você. Elas vão se lembrar de nós como a geração que primeiro encontrou mundos parecidos com a Terra”, aposta em entrevista à Nature.
Desafiadores
Chama a atenção o destaque dado a três cientistas que usaram seu conhecimento para questionar políticos e governantes. O engenheiro Essam Sharaf — que, depois de participar ativamente dos protestos contra o ditador Hosni Mubarak, tornou-se primeiro-ministro do Egito, cargo que ocupou até mês passado — é elogiado por ter proposto uma revolução social em seu país por meio de mais investimentos na educação e em pesquisas científicas.
Já o biólogo japonês Tatsuhiko Kodama, chefe do Centro de Radioisótopos da Universidade de Tóquio, denunciou durante uma audiência pública no parlamento de seu país, que as autoridades estavam sendo negligentes ao não evacuar a região de Fukushima, palco de um dos maiores desastres em usinas nucleares da história, causado pelo forte terremoto que atingiu o Japão em 11 de março. Foi depois do desabafo emocionado de Kodama que o governo se viu obrigado a dar informações mais precisas sobre o acidente e a retirar a população do local. Na edição de hoje da Nature, Kodama afirma que o governo japonês ainda dificulta o trabalho da imprensa e as análises de cientistas que querem averiguar a real dimensão da tragédia, em uma “censura muito incomum em países democráticos”.
A lista de desafiadores é completada por Lisa Jackson, nomeada chefe da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos pelo presidente norte-americano, Barack Obama. Jackson é responsável pela admissão por parte do governo americano de que os gases do efeito estufa são nocivos ao meio ambiente e às pessoas e, por isso, devem ser controlados. A afirmação pode parecer óbvia, mas representou uma mudança profunda na postura dos EUA em relação ao tema. O país nem sequer ratificou o Protocolo de Kyoto, documento no qual as nações desenvolvidas se comprometem a diminuir as emissões de carbono. Ao assumir a postura ambientalmente correta, amparada por inúmeras pesquisas, a engenheira química se tornou um dos alvos preferidos do Partido Republicano. Só neste ano, foi convocada 11 vezes pela oposição para dar explicações no Congresso de seu país.
Perseguir a verdade pode significar, em alguns casos, questionar gênios que parecem infalíveis. A lista da Nature é iniciada com um perfil de Dario Autiero, físico à frente da equipe responsável pelo anúncio, em 23 de setembro, de que partículas subatômicas conhecidas como neutrinos aparentemente atingiram uma velocidade maior que a da luz ao percorrer os 730km que separam o Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (Cern) de um laboratório em Gran Sasso (Itália). Caso o resultado seja confirmado por outros especialistas, a Teoria da Relatividade, elaborada por Albert Einstein e que prevê que nada pode ultrapassar a velocidade da luz, deverá ser revista, assim como boa parte da física moderna.
Como bons cientistas, Autiero e seu grupo analisaram os dados por meses antes de divulgá-los e convidaram os colegas a verificarem se estão certos ou errados. “Quando vi os dados pela primeira vez, tive certeza de que havia algum erro. Depois, percebemos que não havia mais nada que podíamos fazer com aquelas informações. Era nosso dever divulgá-las, para que outros pudessem analisá-las”, revela o físico à Nature.
A busca por respostas também pode levar à confirmação daquilo que outros um dia imaginaram. O também físico Mike Lamont integra a lista por coordenar os choques entre prótons realizados no Grande Colisor de Hádrons (LHC), o acelerador de partículas do Cern. Graças a essas experiências, os cientistas puderam estimar o peso do bóson de Higgs — partícula cuja existência ainda não foi comprovada, mas que seria a responsável pela formação da matéria, logo de todo o Universo. Nunca os cientistas estiveram tão próximos da chamada “partícula de Deus”, proposta pelo pesquisador britânico Peter Higgs nos anos 1960.
Outras perguntas que ficaram mais perto de ser respondidas em 2011 foram as inquietantes “estamos sós?” e “há outros planetas como a Terra?”. Graças ao telescópio orbital Kepler, da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), os cientistas já conseguiram identificar 28 planetas orbitando estrelas fora do Sistema Solar (os chamados exoplanetas). Um deles — o Kepler 22b —, confirmado no início deste mês, está dentro da zona habitável de sua estrela, sendo, até agora, o principal candidato a “nova Terra”.
O trabalho de Sara Seager, especialista do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), merece destaque por indicar um promissor avanço nessas pesquisas. A astrofísica trabalha na elaboração de uma nova classe de telescópios que possibilitará análises mais precisas dos exoplanetas, ajudando os pesquisadores a confirmar se existem no Universo corpos semelhantes à Terra e que podem, portanto, abrigar vida. “(Daqui a centenas de anos), as pessoas olharão para trás e não se lembrarão de mim ou de você. Elas vão se lembrar de nós como a geração que primeiro encontrou mundos parecidos com a Terra”, aposta em entrevista à Nature.
Desafiadores
Chama a atenção o destaque dado a três cientistas que usaram seu conhecimento para questionar políticos e governantes. O engenheiro Essam Sharaf — que, depois de participar ativamente dos protestos contra o ditador Hosni Mubarak, tornou-se primeiro-ministro do Egito, cargo que ocupou até mês passado — é elogiado por ter proposto uma revolução social em seu país por meio de mais investimentos na educação e em pesquisas científicas.
Já o biólogo japonês Tatsuhiko Kodama, chefe do Centro de Radioisótopos da Universidade de Tóquio, denunciou durante uma audiência pública no parlamento de seu país, que as autoridades estavam sendo negligentes ao não evacuar a região de Fukushima, palco de um dos maiores desastres em usinas nucleares da história, causado pelo forte terremoto que atingiu o Japão em 11 de março. Foi depois do desabafo emocionado de Kodama que o governo se viu obrigado a dar informações mais precisas sobre o acidente e a retirar a população do local. Na edição de hoje da Nature, Kodama afirma que o governo japonês ainda dificulta o trabalho da imprensa e as análises de cientistas que querem averiguar a real dimensão da tragédia, em uma “censura muito incomum em países democráticos”.
A lista de desafiadores é completada por Lisa Jackson, nomeada chefe da Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos pelo presidente norte-americano, Barack Obama. Jackson é responsável pela admissão por parte do governo americano de que os gases do efeito estufa são nocivos ao meio ambiente e às pessoas e, por isso, devem ser controlados. A afirmação pode parecer óbvia, mas representou uma mudança profunda na postura dos EUA em relação ao tema. O país nem sequer ratificou o Protocolo de Kyoto, documento no qual as nações desenvolvidas se comprometem a diminuir as emissões de carbono. Ao assumir a postura ambientalmente correta, amparada por inúmeras pesquisas, a engenheira química se tornou um dos alvos preferidos do Partido Republicano. Só neste ano, foi convocada 11 vezes pela oposição para dar explicações no Congresso de seu país.
Fonte Correio Braziliense
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