Aos 75 anos, Aparecida deixou completamente de lado, com o auxílio da musculação, os medicamentos inicialmente indicados para a hipertensão |
Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) constataram que exercícios de força — essencialmente, musculação — realizados por portadores de problemas moderados de pressão arterial obtêm resultados benéficos semelhantes aos registrados pela medicação contínua. A descoberta derruba o mito de que apenas as atividades aeróbicas (como natação e caminhada) surtiam efeitos positivos para o controle do mal. Outro benefício constatado é que, mesmo quatro semanas após a suspensão do exercício, a redução da pressão se manteve estável.
O coordenador do estudo, o biólogo molecular Ronaldo Araújo, explica que na literatura médica já tinham sido comprovados os benefícios dos exercícios aeróbios no controle da hipertensão, embora não houvesse uma justificativa plausível para a não indicação da musculação para esses pacientes. “Essa parte era muito confusa. Apenas dois estudos pesquisaram os efeitos da musculação nesses pacientes e, mesmo assim, nada foi comprovado”, recorda. Foi isso que levou o biólogo molecular Milton Rocha de Morais a escolher o tema para a sua tese de doutorado em fisiologia do exercício.
Morais conta que reuniu 15 homens hipertensos com idade média de 46 anos e os acompanhou por seis semanas antes de iniciar o treino. Esses indivíduos tiveram os medicamentos para controle da pressão retirados gradativamente com acompanhamento de cardiologistas. Durante 12 semanas depois do período de preparação, esses pacientes treinaram musculação convencional — ou seja, cada exercício repetido três vezes, com carga moderada — e trabalharam sete grupos musculares: abdômen, pernas, parte interna e externa das coxas, ombros, bíceps e tríceps. “O treino foi realizado três vezes por semana em dias alternados, para que os músculos pudessem descansar”, atenta.
Os resultados foram animadores. A média anterior da pressão era de 153 milímetros sistólica e 96 milímetros diastólica. Com o treino, essa taxa caiu para 137/84, e os pacientes obtiveram também aumento da força física e da flexibilidade. Morais acredita que vários mecanismos podem ter influenciado no resultado final, entre os quais a vasodilatação ou o aumento de força. “Um outro estudo, que acompanhou hipertensos por 27 anos, comprovou que quanto mais massa muscular o hipertenso tem, mais tempo ele vive”, ressalta. Morais explica que o aumento de músculo permite que o paciente execute as tarefas diárias sem precisar fazer muito esforço.
Embora o estudo não tenha avaliado o benefício da prática em idosos, Morais acredita que os resultados podem não ser tão satisfatórios, pois as artérias já teriam sofrido tempo demais com o mal. “Mas isso não quer dizer que a musculação não tenha efeito positivo nesses pacientes. Acredito que o resultado varia de acordo com o método aplicado nessas pessoas”, especula.
Depois de se divorciar, a artista plástica Aparecida Abdalla, 75 anos, deu sinais de hipertensão. Ela conta que passou um período de tanto nervosismo que a pressão subiu, fazendo com que ela buscasse ajuda. O cardiologista dela foi enfático, prescrevendo medicação concomitante à atividade física. “Já se passaram seis anos. Os resultados foram ótimos, tanto que hoje não tomo mais remédio”, comemora. As vantagens das atividades foram tantas que, atualmente, Aparecida pratica os exercícios como tratamento para artrose no joelho. “Fui indicada para cirurgia, mas sei que esse procedimento não é garantia de sucesso. Estou reforçando os meus ligamentos e já percebo os benefícios”, diz.
Fonte Correio Braziliense
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