Após 13 meses, 35% dos fumantes conseguiram permanecer longe do cigarro; média é de 27%
O alto índice de sucesso alcançado pelo Programa Antitabagismo da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Presidente Prudente foi destaque na última edição do Congresso Europeu de Pneumologia, realizado na Holanda.
Como outras iniciativas do gênero, o programa coordenado pelas professoras Ercy Ramos e Dionei Ramos, do Departamento de Fisioterapia da Faculdade de Ciências e Tecnologia, alia terapia de grupo, medicamentos e acompanhamento multidisciplinar.
Após 13 meses de tratamento, 35% dos fumantes inscritos conseguiram permanecer longe do cigarro. A média de programas semelhantes, segundo a literatura científica, é de 27%. No caso de pacientes que fazem apenas tratamento com remédios, de 6% a 12% conseguem abandonar o vício. Entre aqueles que tentam parar sozinhos, o índice de sucesso é de 2%.
“Acredito que nossos resultados são melhores porque passamos mais tempo com o fumante no início do processo, que é quando ele mais precisa de apoio”, disse Ercy.
Nos primeiros dois meses, explicou, o fumante participa de dois encontros semanais, com uma hora de duração cada. “Nos outros programas, as sessões costumam ocorrer apenas uma vez por semana”, contou.
Essas reuniões são uma espécie de terapia de grupo, em que os fumantes falam sobre suas dificuldades e os psicólogos e demais profissionais dão dicas para driblar a vontade de fumar. “A dependência química pode ser resolvida com terapia de reposição nicotínica, mas o fator psicoemocional é muito difícil de vencer”, disse.
Antes de começar o programa, os pacientes passam por avaliações físicas e psicológicas. “Fisioterapeutas fazem testes para avaliar as condições do sistema respiratório, capacidade física, nível de ansiedade, depressão e qualidade de vida. Com isso, calculam o grau de motivação para largar o cigarro. Isso nos permite identificar quem necessita de abordagem diferenciada”, explicou Ercy.
O sexto encontro, na terceira semana, é a data estipulada para o abandono do cigarro. “Os dias seguintes são os mais difíceis por causa da síndrome de abstinência. Quanto mais próximos estivermos, melhor”, afirmou. No terceiro mês, as reuniões passam a ocorrer a cada 15 dias e, a partir do quinto mês, tornam-se mensais.
Pesquisas
Embora o objetivo principal do programa seja ajudar os fumantes a abandonar o vício, a equipe da Unesp realiza paralelamente diversas pesquisas relacionadas ao processo de parar de fumar.
Em um desses estudos - intitulado "Transporte mucociliar nasal e função pulmonar de indivíduos fumantes e abstêmios de um programa de orientação e conscientização Antitabagismo" e financiado pela FAPESP -, os pesquisadores conseguiram mostrar, pela primeira vez, que o transporte mucociliar de indivíduos fumantes volta ao normal 15 dias após o último cigarro.
O transporte mucociliar é o principal mecanismo de defesa das vias respiratórias. Esse sistema é responsável por levar bactérias, vírus, alérgenos e poluentes em direção à orofaringe, onde são engolidos. Quando ele não funciona adequadamente, aumenta a suscetibilidade a infecções respiratórias.
“Sabíamos que nos fumantes o transporte mucociliar fica mais lento, mas queríamos descobrir se quando a pessoa para de fumar o sistema se recupera e quanto tempo isso demora para ocorrer. Em artigo que publicamos na revista Respirology, mostramos a reversibilidade do transporte mucociliar em indivíduos que estão num programa antitabagismo”, disse Ercy.
Em outro artigo, publicado na Revista Portuguesa de Pneumologia, os pesquisadores demonstraram o efeito imediato e em curto prazo do cigarro no transporte mucociliar.
“Verificamos que logo após fumar o sistema fica tão rápido quanto o de não fumantes. Mas, quando os voluntários eram avaliados oito horas depois do último cigarro, o funcionamento dos cílios estava muito mais lento”, contou a pesquisadora.
Para medir a velocidade do transporte mucociliar, os cientistas colocam 2,5 microgramas de sacarina na narina direita dos voluntários e observam quanto tempo eles levam para sentir o gosto do adoçante. Esse teste é chamado Tempo de Trânsito de Sacarina (TTS).
“Um não fumante leva entre 12 e 15 minutos para sentir o gosto. Os tabagistas levam, em média, 20 minutos”, disse Ercy.
A equipe iniciou um novo projeto financiado pela FAPESP, "Resposta aguda do transporte mucociliar de tabagistas frente ao exercício aeróbio moderado ", que tem como objetivo testar a hipótese de que atividade física desempenha papel protetor para fumantes e portadores de Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC).
“Sabemos que exercícios físicos moderados melhoram o transporte mucociliar em pessoas saudáveis. Agora, vamos avaliar se tabagistas reagem da mesma forma ao estímulo físico”, explicou Ercy.
Fonte Estadão
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