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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Poções com escorpião e chifre de rinoceronte são remédio na Tailândia

Autoridades temem que tratamentos tradicionais incentivem o tráfico de animais

As poções feitas com escorpião e outros animais ou chifre de rinoceronte são alguns dos muitos pretensos remédios usados por muitos tailandeses que evitam curar seus males com os fármacos empregados na medicina convencional.

"Os cavalos-marinhos são bons para os pulmões, e misturados com salamandra em uma poção com ervas ajudam a curar os problemas de rim", diz Ar-Muay, proprietária de uma farmácia de medicina tradicional, muito comuns no centro de Bancoc.

A maioria das prateleiras desta farmácia está repleta de frascos que contêm talos e folhas de plantas e produtos preparados de acordo com o estabelecido pela milenar farmacopeia chinesa, além de tradicionais misturas tailandesas, como os elaborados à base de ninhos de andorinha, gengibre e absinto.

Também há recipientes com centopeias, raras baratas do campo e escorpiões dissecados, aos quais são atribuídas qualidades para melhorar a pressão sanguínea e curar determinadas doenças, além de serem o principal ingrediente dos xaropes com ervas e álcool de arroz preparados pelo pessoal da farmácia.

"Os animais são deixados de um a três meses dentro do recipiente. Depois que morrem, podem ser conservados durante anos", diz Ar-Muay, de 45 anos, em um tailandês fluente, mas com leve sotaque chinês.

A farmacêutica, que deixou o sul da China para viver na Tailândia há 30 anos, assegura que a eficácia dos remédios que vende é indubitável após séculos de utilização e são naturais, o que os faz ter menos efeitos colaterais que os fármacos empregados na medicina moderna.

— Eu nunca tomo remédios modernos, só confio no que está escrito nos livros de medicina chinesa.

Ela abriu, há apenas um mês, seu próprio negócio, após trabalhar durante vários anos em uma das mais antigas farmácias chinesas da capital.

Preço não é problema
O preço não é a principal motivação para aquelas pessoas que preferem os remédios alternativos ou chineses, já que na Tailândia o preço dos produtos farmacêuticos convencionais é relativamente baixo e acessível para a maioria da população.

Um tratamento alternativo, que dura entre uma semana e dez dias, custa entre US$ 15 e US$ 30 (R$ 30 e R$ 60), mais que a maioria dos remédios modernos, podendo inclusive serem mais caros se os ingredientes forem raros ou escassos.

Por exemplo, um tamlung (medida tailandesa equivalente a 3,75 gramas) de vermes tibetanos custa 15 mil baths (R$ 950), enquanto a mesma medida de cavalos-marinhos sai por 1,5 mil baths (R$ 95).

Ar-Muay assegura que todos os produtos que vende são legais, inclusive os chifres de rinoceronte que tem cortados em rodelas e que vende a 2 mil baths (R$ 126) o tamlung.

Ela também garante que compra os ingredientes de forma legal em uma fazenda, não se mostrando preocupada pela ameaça de extinção sobre algumas espécies que comercializa, e insiste nas propriedades curativas do chifre de rinoceronte, por exemplo, para aumentar a fertilidade.

"Os ossos de tigre ajudam a melhorar as articulações, mas não os vendemos porque é ilegal", aponta de forma um tanto ingênua Ar-Muay, que considera que o emprego destes remédios milenares não contribui para a eliminação de espécies da flora e da fauna.

Origem chinesa
A maioria dos estabelecimentos de medicina tradicional e chinesa em Bancoc se encontra no bairro de Yaowarat, povoado pela comunidade de origem chinesa que emigrou para Tailândia no século 19.

Neste movimentado bairro, as farmácias que vendem remédios tradicionais chineses e tailandeses são abundantes, embora também incluam outros produtos mais exóticos e polêmicos como escaravelhos e cavalos-marinhos, não regulados pela normativa sanitária.

As autoridades de saúde estão se esforçando para separar estes ingredientes exóticos de outros tratamentos alternativos, como a fitoterapia através de plantas, as massagens terapêuticas e a acupuntura.

Segundo Wonchat Subhachaturas, presidente da Associação Médica da Tailândia, só os remédios à base de plantas empregadas na medicina tradicional chinesa e tailandesa são regulados no Departamento de Medicina Alternativa tailandês.

Os escorpiões, cavalos-marinhos e o chifre de rinoceronte "são crenças de origem chinesa, mas não têm nada a ver com o Departamento de Medicina Alternativa que trabalha principalmente com plantas medicinais", disse o médico Wonchat.

Além de sua duvidosa base científica, os animais exóticos utilizados como remédios medicinais alimentam o tráfico ilegal de espécies como tigres e rinocerontes, aos quais muitos asiáticos atribuem propriedades afrodisíacas, inclusive contra doenças como o câncer.

A Tailândia, em particular Bancoc, é considerada pelos grupos ambientalistas internacionais um dos principais centros de tráfico de espécies em risco de extinção, que em sua maior parte são destinados aos laboratórios e lojas clandestinas da China, Vietnã e Malásia.

Fonte R7

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