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sábado, 24 de novembro de 2012

Quando o assunto é obesidade, o tamanho do copo pesa sim

Refrigerante: gula natural por doces que ajudou durante a
evolução não está mais trabalhando a nosso favor, dizem especialistas
Pesquisas recentes estreitam a ligação entre bebidas doces e doenças e dão mais munição aos defensores a limitação do consumo de sucos e refrigerantes com açúcar
 
Recentemente conheci uma jovem mulher muito consciente sobre a própria saúde, que insistiu que o tamanho das bebidas açucaradas não deveria ser algo previsto por lei.
 
“Incentivar as pessoas a beber menos dessas bebidas é algo que deve ser feito por meio da educação”, defendeu ela.
 
É uma opinião compartilhada entre muitos. Alguns podem não estar cientes do papel que essas bebidas têm na crescente epidemia de obesidade e de diabetes do tipo 2. Poucos sabem do histórico decepcionante de esforços feitos para mudar o comportamento das pessoas apenas pela educação.
 
A mulher em questão estava reagindo a uma regulamentação da cidade de Nova York, que entra em vigor em março de 2013, limitando o tamanho dessas bebidas a 470 ml em restaurantes, carrinhos de rua, cinemas e eventos esportivos. Lojas de conveniência, máquinas automáticas e algumas bancas de jornal estão isentas.
 
Vários novos estudos ressaltam o potencial de saúde pública gerado pela restrição. Se tiver sucesso, é provável que a medida seja imitada em outros lugares, pois o amor da nação por refrigerantes de tamanho gigante está custando às cidades e aos estados bilhões de dólares com despesas médicas.
 
Gula por doces
Todos nós nascemos com uma preferência natural pelo doce, o que durante a evolução nos permitiu perceber quando as frutas estavam maduras e prontas para serem comidas. Mas, como colocou Gary K. Beauchamp, biopsicólogo e diretor do Monell Chemical Senses Center, um instituto de pesquisas sem fins lucrativos na Filadélfia, "nós separamos o gosto bom da comida boa". Nossa gula por doces não está mais trabalhando a nosso favor.
 
Ninguém alega que bebidas adoçadas sejam a única razão pela qual os americanos estão mais gordos e têm desenvolvido altas taxas de diabetes tipo 2. Mas em momento algum na história nós ingerimos mais adoçantes calóricos do que hoje, e os refrigerantes são os grandes culpados.
 
As bebidas adoçadas, maior fonte de calorias em nossas dietas, respondem por quase metade do total de açúcar que consumimos e 7% do total de calorias – chegando a quase 15% em alguns grupos, incluindo garotos na adolescência. Pesquisadores da Universidade de Wisconsin relataram em 2005 que os alunos em média consomem anualmente 14 kg de açúcar nas bebidas adoçadas.
 
A Coca-Cola costumava vir em garrafas de 230 ml com 97 calorias. Hoje as pessoas compram latinhas de 350 ml com 145 calorias (o equivalente a 10 colheres de sopa de açúcar); garrafas de 590 ml com 242 calorias; Big Gulps de 950 ml; Super Big Gulps de 1,3 l com 533 calorias; e Double Gulps de 1,9 l com 776 calorias. A diferença de preço entre esses tamanhos é mínima.
 
Essas calorias são nutricionalmente vazias, ao contrário das encontradas nas frutas, legumes, carnes, aves, peixes e laticínios, todos fontes de vitaminas e nutrientes essenciais.
 
Barbara J. Rolls, professora de ciência nutricional na Universidade Penn State, mostrou que falta um "fator de saciedade" nas calorias líquidas. Quando as pessoas tomam refrigerantes, elas não compensam adequadamente a refeição comendo menos calorias nas comidas sólidas.
 
Brian Wansink, diretor do Food and Brand Lab na Universidade de Cornell, diz que as bebidas não satisfazem tanto quanto as comidas sólidas por não terem uma textura e um "movimento de boca", e nós "tendemos a consumi-las tão rapidamente que nem as percebemos".
 
Muitos estudos observacionais têm ligado o consumo de bebidas adoçadas ao aumento de peso das crianças, e ao aumento de peso e surgimento da diabetes tipo 2 em adultos. Mas novas pesquisas vão muito além dessas descobertas.
 
Em um estudo realizado entre mulheres acompanhadas por quatro anos, as que consumiram uma ou mais dessas bebidas por dia praticamente dobraram o risco de desenvolver diabetes tipo 2, comparadas às que beberam menos de uma por mês. E os autores concluíram que aquelas que consumiram mais bebidas adoçadas também "aumentaram o consumo de energia" – ou seja, calorias – "das outras comidas, indicando que essas bebidas podem até mesmo induzir a fome e o consumo de comidas".
 
Dois estudos recentes no Jornal de Medicina de New England observaram os efeitos do peso em crianças e adolescentes quando bebidas sem açúcar eram substituídas por aquelas com adoçantes calóricos. Em ambos os casos, limitar o consumo de calorias líquidas reduziu o aumento de peso nas crianças, comparadas às que continuaram consumindo as bebidas adoçadas.
 
O autor de um dos estudos, realizado na Holanda, comentou: "As crianças nos EUA consumem em média quase três vezes mais calorias nas bebidas adoçadas", comparadas às crianças holandesas.
 
Logo depois do encerramento de outro estudo, realizado entre adolescentes em algumas áreas de Boston, os jovens passaram a consumir bebidas menos calóricas, o que mostra a importância tanto da educação quanto da regulamentação. O autor sênior, Dr. David S. Ludwig, disse que as descobertas enfatizam a necessidade de mudanças nas políticas públicas.
 
"Isso sugere que se queremos mudanças a longo prazo no peso, teremos que fazer mudanças permanentes a longo prazo em nosso ambiente para as crianças", disse ele ao New York Times quando a reportagem foi publicada.
 
Um terceiro estudo, publicado com os dois primeiros, descobriu uma ligação importante entre genética e os efeitos das bebidas adoçadas no peso. Homens e mulheres com uma predisposição a ganhar peso experimentaram um efeito mais aparente causado pelas bebidas adoçadas do que as pessoas que não tinham os 32 genes associados ao maior índice de massa corporal.
 
Melhorando os hábitos saudáveis
Educação importa. Mas a história mostra claramente que educação não é o suficiente. Precisa ser acompanhada de restrições que desencorajem hábitos não saudáveis e de mudanças ambientais que apoiem os hábitos saudáveis.
 
Fumar é um exemplo clássico. Anúncios bem feitos explicando seus perigos – até mesmo avisos nos maços – não fizeram muito para ajudar pessoas a pararem de fumar e a impedir que os outros o fizessem. Só depois que fumar foi proibido em ambientes de trabalho, restaurantes, prédios públicos e nos meios de transporte é que milhões desistiram. Hoje em dia, cerca de um entre 5 homens americanos fuma. Há 40 anos, a média era de um a cada dois.
 
Do mesmo jeito que a indústria do tabaco contestou a ligação entre fumar e ter câncer durante anos, a Associação Americana de Bebidas diz que não há provas de que bebidas adoçadas sejam os grandes culpados pela obesidade e pela diabetes.
 
Mas porque esperar décadas por uma evidência conclusiva, quando milhões já terão adoecido ou morrido por causa da obesidade? Não é como se não houvesse alternativas já existentes para as bebidas adoçadas, incluindo aquelas com adoçantes não calóricos e águas com ou sem gás, com sabor ou sem.
 
Se essas bebidas fossem menos caras e tivessem algum destaque, e mais pontos de vendas limitassem o tamanho e a disponibilidade de bebidas doces, poderíamos começar nesse caminho tão bem trilhado durante nossos esforços antitabagismo.
 
Fonte iG

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