Pesquisa desenvolvida em Maryland, nos Estados Unidos, e recentemente
divulgada pelo Journal of the American Medical Association – Jama está gerando
polêmica sobre a precisão do Índice de Massa Corporal para determinar o prejuízo
à saúde causado pelo excesso de peso e sua associação com doenças crônicas. Os
estudiosos apontam risco inferior de mortalidade em pessoas com sobrepeso (6%
menor) e obesidade grau 1 (5%) em comparação a pessoas com peso normal.
Calculado a partir da relação peso sobre quadrado da altura (ver tabela),
segundo definições da Organização Mundial de Saúde (OMS) e outras entidades de
saúde, o IMC às vezes não prediz se a obesidade pode despertar ou já estar
acompanhada de comorbidades como diabetes tipo 2, apneia do sono, esteatose
hepática (gordura no fígado), hipercolesterolemia (colesterol e triglicérides
altos) e hipertensão.
Essas doenças caracterizam o que estudiosos chamam de síndrome metabólica e
são de difícil controle clínico por meio de remédios, dieta e atividade física.
Quando desenvolvidas num quadro de peso excessivo, essas doenças configuram o
que os especialistas também chamam de "obesidade maligna".
Vários estudos no Brasil e no exterior mostram que o índice de mortalidade em
decorrência do diabetes não tem relação com IMC elevado e os primeiros sinais da
doença podem aparecer mesmo em pessoas mais magras. O conselheiro da Sociedade
Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, Ricardo Cohen, pesquisador da
eficácia do tratamento cirúrgico para controle do diabetes tipo 2, aponta que a
tendência é que o IMC deixe de ser o parâmetro mais importante para determinar a
gravidade do paciente:
— Isso significa que, apesar de visivelmente saudáveis, essas pessoas possuem
excesso de gordura maligna, que pode esconder diversas doenças. O IMC dará lugar
à avaliação clínica global — explica.
Limitações do IMC
Em editorial do mesmo Jama em que questiona a conclusão da Dra. Katherine
Flegal e equipe, de Maryland, o pesquisador William Cefalu, do Centro de
Pesquisas Biomédicas de Pennington (EUA) e editor-chefe da revista
norte-americana Diabetes Care, explica que o IMC representa 2/3 da gordura
corporal de um indivíduo e não diz respeito a gênero, raça, idade e aptidão
física. Por exemplo, um atleta de boxe com IMC 40 kg/m2, boa parte devido a sua
massa muscular, provavelmente está em melhor estado de saúde que um profissional
sedentário com IMC 29 kg/m2 que se alimenta mal e pode ter doenças escondidas na
sua condição de sobrepeso.
Segundo Dr. Cefalu, a distribuição da gordura varia fortemente em indivíduos
com o mesmo nível de adiposidade, sendo a gordura abdominal da cintura a que
mais oferece riscos de mortalidade e morbidade. Para ele, do estudo de Maryland
depreende-se que IMC acima de 35 kg/m2 é tão arriscado quanto IMC abaixo de 18,5
kg/m2 (magreza excessiva) e que a grande faixa de peso entre esses limites
inclui pessoas com diferentes adiposidades, distribuição da gordura, histórico
familiar, constituição muscular, "status" nutricional, frequência de atividade
física e fatores de risco a doenças.
— Nem todos os pacientes com sobrepeso ou obesidade grau 1, mesmo aqueles com
doenças associadas, devem ser submetidos a tratamento para perda de peso.
Definir os limites do IMC é o primeiro passo rumo a uma avaliação mais
abrangente dos riscos — analisa Cefalu.
Método criticado
A meta-análise do estudo de Maryland, resultado de uma revisão de 97 estudos
abarcando 2,9 milhões de pessoas e 270 mil mortes, foi criticada por
especialistas. Dr. David Katz, diretor do Centro de Pesquisa de Prevenção da
Universidade de Yale, classificou o estudo da Dra. Flegal de "tosco" tal qual é
o IMC como medida de gordura corporal e respectivo risco de morte.
— A primeira e óbvia limitação desse estudo é examinar mortalidade ao invés
da morbidade, ou seja, da existência ou propensão a doenças crônicas —
argumenta.
Para ele, o sobrepeso e a obesidade leve podem não ter relação direta com a
mortalidade, mas sim com o aparecimento de doenças que ao longo do tempo levam o
paciente à morte se não forem devidamente controladas.
Fonte Zero Hora
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