Karime Xavier/Folhapress Tânia Brito Caetano, 29, e Marli Matos dos Santos, 53, internadas no Hospital de Retaguarda de Suzano |
É uma nova estratégia adotada pelo Hospital das Clínicas de São Paulo para evitar complicações pós-operatórias graves em pacientes que chegam a pesar quase 400 kg.
São consideradas superobesas pessoas com IMC (Índice de Massa Corporal) acima de 50 (veja quadro abaixo). Elas têm problemas cardiorrespiratórios, vasculares e de coagulação que elevam o risco de morte.
"É uma catástrofe. Muitos não andam, não saem da cama, têm artrose grave e dependem de oxigênio", diz o médico Daniel Riccioppo, da Unidade de Cirurgia Bariátrica e Metabólica do HC.
Não há estimativas do número de superobesos mórbidos no país, mas, no HC, eles são 30% dos 1.800 pacientes que aguardam para serem operados. O tempo médio de espera é de três anos.
Se não emagrecem, o risco de complicações graves (sangramento, infecções, tromboembolismo pulmonar e trombose) chega a 7%, e o de morte, 0,6%, segundo estudo com 156 superobesos do HC.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Estudos apontam que, se o obeso perde de 5% a 20% do peso antes da cirurgia, há uma redução do fígado e da gordura acumulada no órgão.
"Um fígado menor tem menos sangramento, dá mais espaço para a gente operar e isso facilita a cirurgia no estômago", afirma Riccioppo.
Internação
A regra número um do serviço é: todo obeso mórbido precisa perder peso antes da cirurgia. Os que não emagrecem em casa podem ficar por duas semanas na enfermaria do HC, onde ingerem até 800 calorias por dia.
Já os superobesos vão para o Hospital de Retaguarda de Suzano, ligado ao HC, que tem hoje seis leitos para esse fim --a fila de espera é de 60 pessoas, em média. "Com 20 semanas de internação, eles perdem 20% do peso. Isso é suficiente para reduzir os riscos", diz o médico.
Após quatro meses internada, Marli Matos dos Santos, 53, já perdeu 23 kg dos seus 153 kg. Faltam pelo menos sete para a cirurgia.
"Minha netinha me liga todas as semanas e pergunta: 'E aí vó, quantos quilos você conseguiu emagrecer?"
O sucesso da estratégia pode ser constatado em um estudo que o HC está prestes a publicar: em 20 casos de superobesos operados após internação, não houve complicações graves nem morte.
Quem pode pagar diárias de R$ 600, em média, recorre a spas para emagrecer antes da cirurgia.
"Não é só perder peso. É tomar consciência de que, no primeiro mês do pós-cirúrgico, a dieta será líquida e que, depois, vai ter de comer feito passarinho", diz Lucas Tadeu Moura, endocrinologista do Spa Med, em Sorocaba (SP).
Lá, os pacientes são avaliados por endocrinologista, nutricionista, psicólogo e fisioterapeuta para tentar mudar hábitos de vida.
Moura afirma, no entanto, que muitos "querem operar para continuar comendo".
"Eles não encarnam o pensamento magro. Por isso, muitos voltam a engordar."
Fonte Folhaonline
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