O Hospital São Paulo, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), está realizando um tratamento inédito para um tipo de câncer intraocular que não responde à quimioterapia, o melanoma de coroide.
Chamado de endorressecção, o método possibilita a retirada do tumor e promete preservar o olho e a visão.
No Brasil, a maioria desses casos é tratada retirando o tumor junto com o globo ocular (enucleação). No lugar, coloca-se uma prótese esférica (para dar volume) e outra estética que imita o olho.
Alguns hospitais, como A.C. Camargo e o Albert Einstein, oferecem a opção da braquiterapia com placas de rutênio ou de iodo (sementes radioativas). O método usa radiação para matar o tumor.
O problema é o preço da cirurgia: pode chegar a R$ 40 mil, dependendo do hospital, do material e da quantidade de radiação. As complicações pós-cirúrgicas também são altas. Em média,
30% dos pacientes podem perder a visão em até dois anos.
Segundo o oftalmologista Rubens Belfort Neto, responsável pelo ambulatório de oncologia oftálmica do Hospital São Paulo, isso ocorre por vazamento de radiação.
"Por mais que seja localizada no tumor, a radiação pode escapar e atingir o nervo ou a mácula", diz o médico.
Para a médica Martha Chojniak, diretora de oftalmologia oncológica do Hospital A.C. Camargo, as chances de a pessoa ficar cega pela radiação dependem do tamanho e da localização do câncer.
"Quando ele está longe das áreas nobres do olho, o risco de complicações cirúrgicas e pós-cirúrgicas é bem menor."
A escolha do tratamento, explica ela, tem que levar em conta a seguinte ordem de prioridades: a preservação da vida, do olho e da visão do paciente. "Se o tumor é muito grande, a enucleação ainda é a melhor opção."
Cirurgia
A nova cirurgia usa a técnica chamada de vitrectomia, que remove o vítreo (fluído gelatinoso que preenche o interior do globo ocular).
Por meio de pinças especiais, a retina é descolada para que seja possível acessar o tumor, que é cortado e sugado, ao mesmo tempo, por um aparelho chamado vitriófago. A cirurgia demora de duas a quatro horas.
Segundo Belfort Neto, os primeiros resultados foram promissores: todos os 11 pacientes operados no último ano tiveram os olhos e a visão preservados e nenhum sinal de recidiva do tumor.
Mas é preciso mais tempo e um maior número de pessoas operadas para que a nova técnica se mostre realmente eficaz e segura, diz ele.
"Estamos muito otimistas e confiantes de que os bons resultados vão se manter", diz Belfort Neto, que prepara os primeiros artigos sobre a cirurgia para publicação.
Chojniak também considera o trabalho promissor. "É um tratamento mais acessível [em relação à braquiterapia] para a preservação do olho. É muito difícil para o paciente aceitar a remoção."
A longo prazo, o tratamento do melanoma de coroide enfrenta um outro desafio. Hoje, metade dos operados desenvolve metástases em até 15 anos após a cirurgia (tanto na retirada do olho quanto na braquiterapia).
A hipótese é que as células tumorais migrem pela corrente sanguínea até o fígado (ou o pulmão) e lá encontrem ambiente propício para a proliferação. "Acreditamos que isso esteja mais ligado à biologia do tumor do que à técnica utilizada", diz Chojniak.
Rodrigo Damati/Editoria de arte/Folhapress
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Fonte Folhaonline
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