As pesquisas sobre o câncer nos Estados Unidos tendem a se basear em estudos pequenos concentrados em um único tratamento, sendo com frequência insuficientes em comparação com os padrões científicos adotados em outras pesquisas médicas, revelou um estudo publicado esta segunda-feira.
Esta tendência pode ser impulsionada pelo desejo de acelerar a apresentação de tratamentos no mercado, mas traz à tona questionamentos sobre a eficácia na prática de terapias experimentais de combate ao câncer, destacou o estudo publicado no periódico Journal of the American Medical Association (JAMA).
"Ao aumentar a transparência, acredito que poderemos compreender o que funciona e o que não", declarou à AFP Bradford Hirsch, principal autor do estudo e professor assistente de medicina da Universidade Duke.
Os cientistas analisaram a base de dados de testes clínicos do governo americano e descobriram que cerca de 22% de todas as pesquisas científicas são dedicadas ao câncer, a maior disciplina única de estudos, seguida de saúde mental (9%) e das doenças infecciosas (8,3%).
Sessenta e dois por cento dos testes sobre câncer se basearam em um medicamento único, sem comparação com outros tratamentos, demonstrou esta revisão feita com base em quase 41.000 estudos realizados entre 2007 e 2010, contidos no registro online.
Apenas cerca de um quarto das outras especialidades de pesquisa faz este tipo de estudo de via única.
Os estudos sobre o câncer costumam ter um engajamento menor, com participação média de 51 pacientes em comparação com 72 em outras disciplinas, e quase dois terços das pesquisas sobre a doença não foram aleatórias, contra menos de um quarto em outras áreas.
Os médicos também se mostraram menos propensos a "fechar os olhos" para o medicamento testado para evitar análises tendenciosas, sendo que quase 9 em 10 testes de câncer foram "abertos" (quando o médico e o paciente sabem qual é o tratamento administrado) em comparação com apenas a metade em outros estudos.
A análise faz parte de um projeto conhecido como Iniciativa de Transformação dos Testes Clínicos, uma parceria entre a Universidade Duke e a Food and Drug Administration, agência que regula os alimentos e os medicamentos nos Estados Unidos, a fim de melhorar as práticas de pesquisa médica.
O estudo revelou, ainda, que quase 42% dos estudos revisados foram financiados por companhias farmacêuticas. Mas a maioria obteve recursos de outra forma: 15,3% pelo governo e 42,9% por financiadores externos, incluindo grupos e fundações acadêmicos.
A análise também revelou que alguns cânceres poderiam estar recebendo mais atenção que o devido.
O linfoma, por exemplo, teve 6,6% de estudos sobre câncer, enquanto sua incidência na população é de 4,8% e sua letalidade, de 3,8%.
Outros cânceres, como o de pulmão e o de bexiga, mereceriam mais estudos. O câncer de pulmão foi objeto de 9% dos testes clínicos, mas respondeu por 14,5% de todos os diagnósticos e teve a mais alta taxa de letalidade (27,6% de todos as mortes por câncer em 2010).
Embora as pesquisas sobre o câncer de mama sejam proporcionais à sua prevalência na população em geral, um em quatro estudos sobre a doença se concentraram não no tratamento, mas nos cuidados de apoio, diagnóstico e prevenção.
O estudo também demonstrou que pouco mais de um terço dos testes de câncer registrados pelo governo americano são realizados inteiramente fora dos Estados Unidos.
Em editorial no JAMA, Peter Bach, médico no Memorial Sloan-Kettering Cancer Center de Nova York, escreveu que a "descoberta mais intrigante" do estudo é que "fica facilmente aparente que os esforços da pesquisa clínica como um todo não são coordenados e orientados por algum conjunto particular de princípios consensuais".
Fonte R7
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