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terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Experimento mostra que expectativas do paciente influenciam os efeitos terapêuticos

Experimento mostra que expectativas do paciente influenciam os efeitos terapêuticos Jim Hendew/Morguefile
Foto: Jim Hendew / Morguefile
Voluntários relataram melhora em crise de enxaqueca mesmo tendo ingerido conscientemente comprimidos inativos
 
Comprovado cientificamente, o efeito placebo está centrado na ideia de que as expectativas e as crenças do paciente podem promover mudanças biológicas a favor da cura de enfermidades. Há confirmações de resultados de melhoras de doenças com o uso de droga inativa ou a simulação de procedimento médico. Os mecanismos biológicos que atuam no processo ainda são parcialmente desconhecidos.
 
Dados divulgados na revista científica Science Translational Medicine prometem mais um nó na cabeça dos pesquisadores. Voluntários com enxaqueca que ingeriram placebo cientes disso relataram progressos. 
 
Curiosamente, a eficácia do tratamento foi similar entre os voluntários que tomaram a medicação pensando ser placebo e os que ingeriram placebo imaginando ser o remédio contra o problema.
 
Resultados como esses levaram os pesquisadores a concluir que as expectativas do paciente, positivas, negativas ou neutras, influenciam os efeitos terapêuticos tanto do medicamento quanto do placebo. Em particular, eles sugerem que uma mensagem positiva com o ritual de ingestão do comprimido pode influenciar a eficácia dos cuidados médicos. 
 
As conclusões retiradas do estudo liderado por médicos do Centro Médico Beth Israel Deaconess, da Escola de Medicina de Harvard, tiveram como base a observação de 66 pacientes. Inicialmente, cada voluntário passou por uma primeira crise que não foi tratada e descreveu a dor e os sintomas 30 minutos e duas horas após o problema. Em seguida, foram entregues aos participantes seis envelopes, cada um com um comprimido.  
 
Cada pacote continha um tratamento diferente e um rótulo que indicava o conteúdo dele. Dois tinham o objetivo de gerar expectativas positivas no paciente por meio do rótulo com o nome rizatriptano (substância tradicionalmente prescrita contra a enxaqueca), ainda que só um deles portasse a terapia real e outro, placebo. Outros dois levavam as expectativas negativas com a etiqueta de que eram placebo e a outra dupla de envelopes era neutra, levando o nome de rizatriptano e placebo. 
 
Em cada uma das três situações, um dos dois envelopes continha o remédio, e outro, placebo, independentemente do que o rótulo apontava. De acordo com os dados recolhidos pela equipe, o reforço positivo aumentou a eficácia da terapia (fosse placebo ou remédio). 
 
Nova terapêutica
O estudo que observou a influência das expectativas dos pacientes sobre o tratamento trouxe outro resultado que surpreendeu ainda mais o time norte-americano: os participantes que receberam o placebo e sabiam disso narraram um alívio da dor se comparados ao primeiro momento em que não foram submetidos a tratamento.
 
- Ao contrário da sabedoria convencional de que os pacientes respondem ao placebo porque pensam que estão recebendo uma droga ativa, nossos achados reforçam a ideia de que o tratamento placebo aberto pode ter um benefício terapêutico _ dizem os autores.
 
Eles reforçam que novas pesquisas precisam ser feitas para explorar as formas de aplicação dessas descobertas na clínica médica e, no futuro, usar esses conhecimentos para turbinar o potencial terapêutico de tratamentos medicamentosos. Segundo Ted Kaptchuk, professor da Escola de Medicina de Harvard e um dos autores do estudo, o trabalho desenrola e redefine os efeitos clínicos do placebo e da medicação.
 
- Mesmo que o rizatriptano tenha sido superior ao placebo em termos de aliviar a dor, verificou-se que, em cada uma das mensagens, o efeito placebo foi responsável por pelo menos 50% do alívio.
 
Quando o rizatriptano foi batizado com este nome, os sujeitos relataram alívio da dor duas vezes maior em comparação à situação em que o remédio foi batizado de placebo. Isso nos diz que a eficácia de um bom medicamento pode ser duplicada, aumentando o efeito placebo.
 
Efeito mental
Para o neurologista do Hospital Santa Helena e da Academia Brasileira de Neurologia Cláudio Carneiro, a eficácia do efeito placebo por si só já é conhecida. Só de tomar um comprimido, mesmo que ele seja de farinha, o paciente pode ter uma melhora de até 30%:
 
- A pessoa toma o remédio e parece que a dor melhora, mas, na verdade, é a mente que faz com que ela fique mais resistente à dor ao tomar o placebo. A dor permanece. 
 
Carneiro reforça que os resultados encontrados pelos norte-americanos indicam uma nova faceta desse efeito:
 
- Mostram que a mente da pessoa é influenciada pelo ato de tomar o remédio, independentemente de qual remédio é.
 
Correio Braziliense

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