Para comitê americano, teste deve ser ferramenta primária de rastreamento. Exame detecta DNA dos dois tipos de HPV mais relacionados ao câncer
A agência americana que regulamenta os medicamentos nos EUA (FDA) está avaliando a recomendação de um comitê consultivo federal para que um teste capaz de detectar os tipos mais nocivos de HPV passe a ser o método de rastreamento primário para câncer de colo de útero. Se seguidas as recomendações do comitê, o teste passará a ser, nos Estados Unidos, a principal ferramenta de detecção precoce do HPV, à frente do Papanicolau.
Foto: Roche Diagnóstica/Divulgação Equipamentos da farmacêutica Roche são utilizados para detectar o DNA de HPV dos tipos 16 e 18, responsáveis por 70% dos casos de câncer de colo do útero |
No Brasil, esse tipo de teste já está disponível, porém especialistas afirmam que ele não deve substituir o papanicolau, mas sim complementar seus resultados.
A principal vantagem do teste molecular – capaz de identificar o DNA dos dois tipos de HPV mais comumente associados ao câncer – é a obtenção de resultados mais precisos. “Esses testes biomoleculares cobririam uma lacuna de sensibilidade do teste de citologia do papanicolau”, diz a ginecologista Marcia Fuzaro Terra Cardial, professora da Faculdade de Medicina do ABC.
O papanicolau não identifica o vírus em si, mas alterações nas células do colo do útero que podem indicar lesões pré-cancerosas ocasionadas pelo vírus.
Segundo o ginecologista José Antônio Marques, da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Estado de São Paulo (Sogesp), o papanicolau está sujeito à obtenção de falsos negativos, pois depende de grande precisão técnica de quem o executa. “Tem que colher de um certo jeito, tem uma maneira correta de preparar a lâmina e de analisá-la”, diz Marques. “Cada vez menos formam-se especialistas para analisar lâminas em grandes quantidades. Alguém tem que olhar essas lâminas e isso é um problema.”
Já o teste de HPV, por ser totalmente automatizado, garante uma precisão maior. Por outro lado, um resultado positivo para a presença do HPV não quer dizer que a paciente esteja doente.
“É importante não se assustar se o resultado for positivo. Isso só determina que a mulher deva ser acompanhada anualmente para ver se aparece algum tipo de lesão no colo do útero. Ela deve ser acompanhada com mais rigor, mas sem desespero”, diz Marcia. A partir de um resultado positivo, o médico pode recomendar uma colposcopia, exame que rastreia o colo do útero à procura de lesões precursoras do câncer.
A médica dá um exemplo de um caso em que o teste do HPV foi bem sucedido em detectar um caso que o papanicolau por si só teria deixado passar. Uma de suas pacientes, de 30 anos, teve o teste de HPV positivo e o Papanicolau negativo (os dois exames podem ser pedidos simultaneamente). A colposcopia, pedida posteriormente, identificou uma lesão minúscula no colo que o Papanicolau não havia pegado. Isso permitiu um tratamento bem mais precoce.
Se o exame de HPV der negativo, a mulher pode ficar de três a cinco anos sem precisar fazer esse tipo de teste.
Não é para todas
Especialistas alertam que o teste de HPV não deve ser feito em quem está no início da vida sexual. Isso porque, nesse grupo, a prevalência do vírus é muito alta. Na maioria dos casos, o próprio sistema imunológico da paciente elimina o vírus depois de alguns anos. Esse tipo de vírus provisório é geralmente inofensivo. Só quando ele se torna persistente é que oferece maior risco para o câncer, por isso recomenda-se que só se faça o exame em mulheres com mais de 30 anos.
A coleta dos dois exames é feita de maneira semelhante: com uma espátula ou uma escovinha inserida pela vagina da paciente, o profissional faz uma leve raspagem do colo do útero. Para o papanicolau, esse material é analisado em lâmina. Para o teste de HPV, ele é processado por um equipamento capaz de identificar o DNA do vírus.
Existem vários testes voltados para a detecção do HPV, mas o que foi avaliado pelo comitê consultivo americano foi o fabricado pela farmacêutica Roche, chamado Cobas. Ele é capaz de detectar o HPV de tipos 16 e 18, que estão presentes em cerca de 70% dos casos de câncer de colo de útero, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca).
No âmbito do SUS, a ferramenta de rastreamento para câncer de colo do útero continua sendo o papanicolau. De acordo com as Diretrizes Brasileiras para o Rastreamento do Câncer do Colo do Útero, lançadas pelo Inca em 2011, devem-se submeter ao exame mulheres a partir de 21 anos que já tenham iniciado a vida sexual. Após a obtenção de dois resultados negativos com intervalo de um ano, o controle pode passar a ser feito a cada três anos.
Na saúde privada, o teste de HPV ainda custa bem mais caro do que o Papanicolau. Enquanto este último custa por volta de R$ 80 em um laboratório particular, o teste de HPV chega a R$ 230.
G1
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