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terça-feira, 15 de abril de 2014

Tradição de parteiras está no centro de incentivo ao parto normal na Grã-Bretanha

PA
Grã-Bretanha prioriza parto normal
Cesariana é um recurso que só deve ser utilizado em condições excepcionais
 
Até 2011, o índice de cesarianas realizadas no Reino Unido era de 25% do total de partos. Era possível argumentar que isso ocorria não por uma preferência das mulheres britânicas por partos normais, mas porque não era dada a elas o direito de fazer uma cesariana planejada e por opção própria. Elas só podiam passar pelo procedimento se houvesse razões médicas.
 
Mas, a partir daquele ano, a regra mudou: gestantes passaram a ter direito de escolher a cesárea, segundo novas diretrizes do Instituto Nacional de Saúde e Excelência Clínica (NICE, na sigla em inglês). O que não mudou deste então foi a taxa de cesáreas, que permaneceu no mesmo patamar.
 
Segundo os dados mais recentes do Health and Social Care Information Centre, órgão do governo britânico que compila informações de saúde pública, 25,5% dos partos registrados entre 2012 e 2013 foram cesáreas. Hoje, as mulher são informadas dos riscos da cirurgia por um médico, mas, se ela optar pela cesárea, isso não pode ser negado. Ainda assim, houve um aumento de só 0,5 ponto percentual no índice.
 
Essas estatísticas refletem a política de saúde pública do país, que prioriza o parto normal. Para o NHS, o Serviço Nacional de Saúde britânico, o parto planejado por cesariana é um recurso que só deve ser utilizado em condições excepcionais.
 
A longa tradição das parteiras
Parte deste esforço de dar prioridade ao parto normal se deve ao forte histórico da profissão de parteira no país, estabelecida em lei pelo Ato Midwifery, em 1902.
 
A primeira e única vez que uma gestante britânica é avaliada por um médico é ao descobrir que está grávida, quando normalmente procura um clínico geral, conhecido como general practitioner no país.
 
Mas a parteira é o principal profissional responsável pela saúde, segurança e bem estar da mulher durante a gestação e cuida do atendimento pré e pós natal.
 
Qualquer pessoa pode ingressar na profissão após um curso profissionalizante em tempo integral de no mínimo 156 semanas, segundo critérios estabelecidos pela União Européia.
 
Outra maneira é através de um curso mais curto, de 78 semanas, voltado para enfermeiras e enfermeiros que queiram seguir uma nova profissão.
 
Quando não há riscos para a mãe ou para o bebê, o NHS indica o parto normal e oferece algumas opções para a hora de dar à luz.
 
Além do hospital, é possível dar à luz em casa com a ajuda das parteiras ou em clínicas conhecidas como centros de nascimento, que têm um ambiente mais caseiro que o dos hospitais.
 
A cesariana planejada ou a de emergência são admitidas em poucas circunstâncias: quando o parto anterior foi uma cesárea; se o bebê está sentado; se a gestante tem placenta prévia (quando ela está fixada à parede do útero, cobrindo parcial ou totalmente o cérvice uterino); ou quando há um deslocamento prematuro da placenta.
 
De acordo com o Royal College of Obstetricians and Gynaecologists (RCOG), a associação de obstetrícia e ginecologia da Grã-Bretanha, a probabilidade de uma cesariana está fortemente associada às características maternas e a fatores clínicos de risco.
 
Cesariana planejada
Segundo o Royal College of Midwives, que representa as parteiras britânicas, mesmo depois da mudança das regras, as mulheres não são encorajadas a optar pela cirurgia, mesmo nas situações mais complexas.
 
No caso do bebê sentado, a mãe pode optar por tentar reposicioná-lo através de pressão externa, em vez de recorrer imediatamente à cesárea.
 
De acordo com o NHS, cerca de 50% dos bebês que não estão com a cabeça para baixo conseguem ser virados usando uma manobra conhecida como versão cefálica externa.
 
Em outro caso comumente associado às cesarianas — quando o bebê tem o cordão umbilical enrolado em torno do pescoço - a cirurgia sequer é cogitada na grande maioria dos casos. A parteira se encarrega de desenrolá-lo durante o parto.
 
Para Cathy Warwick, chefe executiva do Royal College of Midwives, é tudo uma questão de confiança.
 
— Se as parteiras conseguirem fazer com que as mulheres entendam o que suas escolhas significam para elas e para seus bebês, elas se sentirão apoiadas na hora do parto', afirma Warwick. 'Então, poucas mulheres farão a escolha por uma cesariana.

BBC Brasil / R7

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