Por Dra. Andressa Heimbecher Soares
No mundo, pelos dados de 2013, o diabetes
afeta aproximadamente 371 milhões de pessoas. Aqui no Brasil, nós somos
o quarto país do mundo em número de casos, quase 13,4 milhões de
brasileiros, segundo dados no mesmo ano.
Oferecer novas possibilidades de tratamentos, com maior comodidade,
eficácia e controle dos níveis de açúcar no sangue: estes têm sido os
focos de diversos estudos nas últimas décadas, com o objetivo de tornar a
vida dos diabéticos mais simples e fácil.
Neste artigo, vamos falar
de algumas destas novidades. Prepare-se, pois é de fato um admirável
mundo novo que se abre diante dos seus olhos:
Insulinas orais
Pergunte
a qualquer diabético que usa insulina qual é seu maior desconforto.
Pode ter certeza que na grande maioria dos casos a pessoa irá se queixar
das picadas da agulha e das medidas do aparelho de glicemia. A ideia de
se sintetizar em laboratório uma insulina que funcione e não seja
injetável não é nova. Em 2006 chegou a ser comercializada no mundo uma
insulina inalatória, porém foi retirada do mercado em 2007 por não ter
sido amplamente aceita, uma vez que não abolia todas as injeções durante
o dia. Nos anos seguintes, novos estudos se seguiram e atualmente as
perspectivas do lançamento de uma insulina via oral estão bem mais
próximas.
Até então era sabido que quando se tentava sintetizar a
insulina colocando-a em formato de comprimido, as enzimas digestivas do
nosso estômago e intestino se encarregavam de destruí-la, o que tornava
o tratamento ineficiente. Agora, foi desenvolvido um novo tipo de
comprimido que, nos testes iniciais, tem demonstrado eficácia e perfil
de segurança adequados. Esta insulina oral ainda está em fase de testes,
mas surge como uma boa promessa para os próximos anos.
Células-tronco
Por
apresentarem potencial de se diferenciar em qualquer outra célula do
organismo, as células-tronco têm sido usadas no tratamento dos pacientes
diabéticos, demonstrando resultados promissores. Por décadas, os
pesquisadores tentam transformar as células-tronco em células do
pâncreas, para que elas possam produzir insulina e fornecer ao paciente o
seu suprimento normal deste hormônio. A tentativa nas pesquisas é
justamente injetar estas células-tronco que irão produzir insulina, sem o
paciente apresentar rejeição.
Uma linha de pesquisa é o uso de
células-tronco do paciente para controlar o seu próprio sistema
imunológico. Sabe-se que o diabetes tipo 1 ocorre quando o organismo do
paciente passa a não reconhecer as células que produzem insulina (as
células Beta pancreáticas) e as ataca, destruindo-as. No Brasil, a
equipe de cientistas da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto,
tem realizado várias pesquisas nesse campo, com resultados animadores.
Um
dos líderes desta pesquisa, o Dr. Eduardo Couri, tem divulgado os
resultados deste trabalho, dentre eles o "Transplante Autólogo de
Células-Tronco Hematopoéticas em Pacientes diabéticos tipo 1
recém diagnosticados". A ideia nesta técnica é a coleta de
células-tronco da pessoa com diabetes, seguida pelo uso de medicamentos
que forcem o sistema imunológico a se desligar - como se fosse uma
quimioterapia - e na sequencia, injetar novamente as próprias
células-tronco do paciente para que ocorra uma reorganização do sistema
de defesa, que não mais atacará as células que produzem insulina,
preservando, assim, o pâncreas.
Outra linha de estudos que tem
avançado muito nos últimos anos é a pesquisa com a transferência nuclear
de células somáticas. Estes trabalhos, com publicações recentes da
segunda quinzena de abril de 2013 pelo grupo do Dr Young Gie Chung, em
colaboração com a Universidade de Seul e a Universidade de Los Angeles,
tem obtido sucesso nesta técnica.
A transferência nuclear
consiste de uma célula-tronco receber o núcleo de uma célula madura e já
diferenciada, e assim podem produzir células com diversos propósitos
terapêuticos, semelhantes àquela que doou o núcleo. Com a evolução deste
processo será possível produzir de forma segura em laboratórios células
Beta pancreáticas, as células que produzem insulina, e assim regenerar
os pâncreas danificados, seja por diabetes tipo 1 ou 2.
Remédios com atuação nos rins
Recentemente foi
lançada no mercado uma nova classe de medicamentos, os inibidores do
SLGT2. Em algumas situações, o nosso rim reabsorve a glicose que foi
filtrada e que iria para a urina por meio de um canal co-transportador,
que é chamado de SGLT2, da sigla em inglês para sodium-glucose
cotransporters. O alvo destes medicamentos novos é justamente bloquear o
funcionamento deste canal e aumentar a saída do excesso de glicose pela
urina, fazendo com que a glicose no sangue caia e assim normalize.
Vários medicamentos foram desenvolvidos nos últimos anos:
dapagliflozina, canagliflozina e empagliflozina. No Brasil, a
dapagliflozina já está disponível, e a canagliflozina tem previsão de
chegada para os próximos meses.
Infusão inteligente de insulina
Já existentes no mercado há
vários anos, as bombas de insulina tem apresentado a cada ano mais
inovações, sejam de hardware, com dispositivos menores e mais leves,
sejam de softwares mais potentes e capazes de gerenciar melhor a entrada
da quantidade de insulina no sangue. O lançamento da bomba de insulina
Medtronic MiniMed 530G, que está sendo chamada de avanço na direção
no pâncreas artificial, é um exemplo do como as pesquisas tem evoluído
neste sentido. Isto acontece porque o seu software calcula de forma mais
precisa a quantidade de insulina que será injetada, além de receber
informações sobre o comportamento da glicose sanguínea para fazer este
cálculo. Além disso, ele pode receber dados de um sistema eletrônico
chamado de CGMS, sigla em inglês para sistema de monitoramento contínuo
de glicose. O CGMS é um sensor inserido no subcutâneo do paciente, que
envia informações para a bomba de insulina em tempo quase real sobre o
comportamento da glicemia.
Vacinas
É da Universidade de
Stanford a notícia de testes de uma vacina com capacidade de frear o
sistema imune, e assim evitar que ele ataque o pâncreas e destrua as
células beta no diabetes tipo 1. Os dados publicados na revista Science
Translational Medicine em junho de 2013 a partir de um estudo
multicêntrico de 12 semanas demonstraram que aqueles que receberam a
vacina apresentaram menor destruição das células beta do pâncreas,
comparados com os que não haviam recebido. A ideia agora é aplicar esta
pesquisa em grupos maiores de pessoas e verificar se os bons resultados
se confirmam.
Fontes:
http://oramed.com/userfiles/files/ORMD-0801%20P2a%20trial%20results(1).pdf
http://www.endocrino.org.br/pesquisas-com-celulas-tronco-no-tratamento-do-diabetes/
http://www.cell.com/cell-stem-cell/abstract/S1934-5909(14)00137-4
http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=96912014&pIdAnexo=1929667
http://professional.medtronicdiabetes.com/minimed-530-g
http://med.stanford.edu/ism/2013/june/diabetes.html
http://www.endocrino.org.br/pesquisas-com-celulas-tronco-no-tratamento-do-diabetes/
http://www.cell.com/cell-stem-cell/abstract/S1934-5909(14)00137-4
http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=96912014&pIdAnexo=1929667
http://professional.medtronicdiabetes.com/minimed-530-g
http://med.stanford.edu/ism/2013/june/diabetes.html
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