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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Reviravolta nas verdades sobre o leite

Em vez de aumentar, produto integral reduziria risco de problemas cardiovasculares. Por outro lado, corrente científica prega: ele é dispensável para a nutrição humana

Rio- O leite integral talvez não seja um vilão para a saúde como pregam tantos nutricionistas. A gordura saturada presente no produto tem sido associada ao aumento do risco de problemas cardiovasculares e à obesidade. Mas uma nova corrente de pesquisadores acredita que não é bem assim. Além de não aumentar esses riscos, o leite poderia até reduzi-los. E essa não é a única verdade sobre o líquido que pode estar com os dias contados. Grupos questionam, por outro lado, se não o consumiríamos em excesso. E vão além: ele é mesmo necessário na alimentação humana?

Desde 2005, o setor da Embrapa Gado e Leite estuda o tema. O que o pesquisador Marco Antônio Gama defende é que novas evidências científicas têm mostrado que os produtos lácteos full-fat (leite integral, queijos e manteiga) não levam a doenças cardiovasculares nem à obesidade. Há algumas justificativas: uma delas é que o leite dos ruminantes (vacas, cabras, ovelhas e búfalas) tem propriedades benéficas à saúde do coração, entre elas, o ácido linoleico conjugado (CLA).

— A gordura do leite é muito mais complexa do que se pensava — afirma. 

Pela manipulação da dieta dos animais, os pesquisadores da Embrapa têm conseguido elevar os teores de CLA e outras substâncias no leite para estudar seus efeitos em animais e em humanos. Segundo Gama, os resultados “são promissores”. Num dos estudos, o CLA reduziu em humanos a produção de marcadores pró-inflamatórios, associados à obesidade. Noutro, a substância alterou em ratos biomarcadores do mal de Alzheimer.

Outras pesquisas pelo mundo vão na mesma linha. Por exemplo, uma revisão de 16 estudos publicada no “European Journal of Nutrition” descobriu que, na maioria deles, não era possível comprovar que a gordura do leite aumentava o risco cardíaco ou de obesidade. E, pelo contrário, reduziria a propensão à obesidade, provavelmente por aumentar a saciedade — mas essa é apenas uma hipótese.

Esse raciocínio, entretanto, ainda não é consenso entre especialistas. A nutricionista Bia Rique, chefe do serviço de nutrição da enfermaria da cirurgia plástica da Santa Casa do Rio, prefere se basear nas principais diretrizes mundiais, que orientam, por exemplo, que crianças pequenas podem tomar leite integral e adultos devem preferir laticínios magros e leite desnatado.

— As gorduras saturadas dos laticínios são as que mais tendem a se aglutinar para formar placas de ateroma, o que leva a problemas cardiovasculares — explica.

Essa não é a única polêmica com o leite. Algumas correntes científicas consideram seu consumo desnecessário. A Escola de Saúde Pública da Universidade de Harvard (EUA), por exemplo, retirou leite e laticínios da tradicional pirâmide alimentar. Um dos principais nomes dessa campanha é o pesquisador da universidade Walter Willett, que diz que o cálcio é importante para o organismo, mas que o leite não é a única ou a melhor fonte dele.

O Globo

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