Em vez de aumentar, produto integral
reduziria risco de problemas cardiovasculares. Por outro lado, corrente
científica prega: ele é dispensável para a nutrição humana
Rio- O leite integral talvez não seja um vilão para a saúde como
pregam tantos nutricionistas. A gordura saturada presente no produto tem
sido associada ao aumento do risco de problemas cardiovasculares e à
obesidade. Mas uma nova corrente de pesquisadores acredita que não é bem
assim. Além de não aumentar esses riscos, o leite poderia até
reduzi-los. E essa não é a única verdade sobre o líquido que pode estar
com os dias contados. Grupos questionam, por outro lado, se não o
consumiríamos em excesso. E vão além: ele é mesmo necessário na
alimentação humana?
Desde 2005, o setor da Embrapa Gado e Leite estuda o tema. O que o
pesquisador Marco Antônio Gama defende é que novas evidências
científicas têm mostrado que os produtos lácteos full-fat (leite
integral, queijos e manteiga) não levam a doenças cardiovasculares nem à
obesidade. Há algumas justificativas: uma delas é que o leite dos
ruminantes (vacas, cabras, ovelhas e búfalas) tem propriedades benéficas
à saúde do coração, entre elas, o ácido linoleico conjugado (CLA).
— A gordura do leite é muito mais complexa do que se pensava — afirma.
Pela manipulação da dieta dos animais, os pesquisadores da Embrapa
têm conseguido elevar os teores de CLA e outras substâncias no leite
para estudar seus efeitos em animais e em humanos. Segundo Gama, os
resultados “são promissores”. Num dos estudos, o CLA reduziu em humanos a
produção de marcadores pró-inflamatórios, associados à obesidade.
Noutro, a substância alterou em ratos biomarcadores do mal de Alzheimer.
Outras pesquisas pelo mundo vão na mesma linha. Por exemplo, uma
revisão de 16 estudos publicada no “European Journal of Nutrition”
descobriu que, na maioria deles, não era possível comprovar que a
gordura do leite aumentava o risco cardíaco ou de obesidade. E, pelo
contrário, reduziria a propensão à obesidade, provavelmente por aumentar
a saciedade — mas essa é apenas uma hipótese.
Esse raciocínio, entretanto, ainda não é consenso entre
especialistas. A nutricionista Bia Rique, chefe do serviço de nutrição
da enfermaria da cirurgia plástica da Santa Casa do Rio, prefere se
basear nas principais diretrizes mundiais, que orientam, por exemplo,
que crianças pequenas podem tomar leite integral e adultos devem
preferir laticínios magros e leite desnatado.
— As gorduras saturadas dos laticínios são as que mais tendem a se
aglutinar para formar placas de ateroma, o que leva a problemas
cardiovasculares — explica.
Essa não é a única polêmica com o leite. Algumas correntes
científicas consideram seu consumo desnecessário. A Escola de Saúde
Pública da Universidade de Harvard (EUA), por exemplo, retirou leite e
laticínios da tradicional pirâmide alimentar. Um dos principais nomes
dessa campanha é o pesquisador da universidade Walter Willett, que diz
que o cálcio é importante para o organismo, mas que o leite não é a
única ou a melhor fonte dele.
O Globo
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