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terça-feira, 14 de abril de 2015

Alerta aos pais: "Perdi meu filho por 5 minutos", diz mãe sobre jovem morto no jogo da asfixia


Milhares de vídeo são publicados na web mostrando adolescentes praticando o jogo; maioria é dos EUA
Milhares de vídeos são publicados na web mostrando
adolescentes praticando o jogo; maioria é dos EUA
Erik se enforcou acidentalmente aos 12 anos em Los Angeles, nos EUA. No Brasil, jovem de 16 anos foi encontrado morto. Familiares pedem debate para evitar novas tragédias precoces´
 
Após abrir a porta de casa, Judy Rogg só conseguiu gritar. O som do desespero ecoou pelos corredores do seu andar no prédio de Santa Mônica, em Los Angeles (EUA). Ela havia deixado o trabalho às pressas após o filho Erik Robinson, de 12, não atender ao telefone de casa e o celular. “Senti que algo estava errado. Peguei minha bolsa e corri”. Ofegante, Judy encontrou o filho já inconsciente na cozinha com uma corda em volta do pescoço. No dia anterior, o garoto, que era escoteiro e tinha o sonho de ser tornar militar, havia conhecido o jogo da asfixia.

“Perdi meu filho por cinco minutos. Ele ainda estava quente e com os lábios rosados. Levamos ao hospital, mas no dia seguinte o cérebro ainda não registrava nenhuma atividade. Desligamos os aparelhos”, explica Judy em entrevista ao iG. Erik morreu no dia 21 de abril de 2010 e, desde então, sua foto é exibida em um mural de vítimas em sites contra o chocking game (jogo da asfixia, em inglês). Praticado há décadas, o jogo consiste em interromper o fluxo de oxigênio ao cérebro em busca de uma suposta euforia. O problema é que alguns acabam provocando a própria morte acidentalmente.
 
Com uma presença silenciosa no Brasil, a prática deixou marcas em pelo menos quatro famílias em Fortaleza (CE). Uma delas é a família Jereissati, que perdeu o caçula Dimitri Jereissati, de 16 anos, em junho do ano passado. Ele foi encontrado enforcado em cima da própria cama por um funcionário e pelo irmão mais velho. “Dimi estava bem na escola, tinha uma namorada e era muito alegre. A saudade é eterna”, lamenta o pai e empresário Demétrio Jereissati, que fundou o Instituto Dimi Cuida, o primeiro sobre o tema no País.
 
Atualmente, três casos de suicídio entre jovens estão sendo investigados pela Polícia Civil em São Paulo. Em apenas quatro dias, jovens de 13, 14 e 18 anos teriam se enforcado nas cidades de São João da Boa Vista, São José do Rio Pardo e Aguaí, respectivamente. O intervalo de tempo e as mesmas condições de morte levam os delegados a relacionar os casos com o jogo. “Temos várias frentes de investigação e uma delas é o choking game. Mas é cedo para criarmos alertas ou apavorar os pais”, pondera o delegado Márcio Elias Azarias, de São João.
 
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Logo do Instituto Dimi Cuida, que começará a atuar no
 próximo semestre, em Fortaleza (CE)
Jereissati acredita que outros casos no Brasil permanecem desconhecidos por falta de informação. E para entender o que enfrentava, Jereissati foi com a mulher a Paris, quatro meses após a morte do filho, para o 2º Simpósio de Jogos de Risco, da Apeas, grupo francês que reúne familiares de vítimas dos jogos. “Encontramos pais de várias nacionalidades e encaramos a nova missão. Divulgar e ajudar a salvar outras vidas”, explica. No próximo semestre, o instituto irá iniciar os primeiros trabalhos de prevenção com pais e profissionais da área de educação.
 
“Cobriremos a vida do Dimi, o que aconteceu com ele, sua paixão e seu sonho”. O instituto ainda ajuda ONGs para animais abandonados, adorados pelo filho, e incentiva a profissionalização de guias de natureza, trabalho que Dimitri sonhava exercer. O empresário brasileiro seguiu os passos de Judy Rogg, que já provocou mudanças significativas nos EUA com a organização Erik’s Cause.
 
Após o apelo da assistente social, algumas escolas da Califórnia e de Utah passaram a apresentar em sala de aula os riscos do jogo. “Existe ainda muito medo [dos professores] e eu entendo isso. Eles temem incentivar. Mas o que chega de informação é sobre como fazer ou qual a sensação que provoca, mas eles precisam conhecer os riscos”, defende Judy. Após quatro mortes em três anos, o distrito escolar Condado de Iron, em Utah, foi o primeiro a adotar a prevenção no currículo escolar, ao lado do bullying, por exemplo.
 
Riscos e os sinais do jogo
Conhecido por 15 nomes diferentes nos EUA, de acordo com o estudo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC, em inglês), o jogo já matou 82 crianças e adolescentes, entre seis e 19 anos, nos anos de 1995 e 2007. A publicação diz ainda que os meninos são maioria (87%) entre as vítimas. E o risco de morte aumenta drasticamente quando o praticante tenta interromper o fluxo de ar sozinho. Um estrangulamento contínuo por três minutos já é o suficiente para afetar as funções de memória e motoras. A morte ocorre pouco tempo depois, alerta a publicação.
 
Grupo Erik's Cause foi criado pelos pais do jovem em campanha contra o jogo de risco nos EUA
Reprodução: Grupo Erik's Cause foi criado pelos pais do jovem em campanha contra o jogo de risco nos EUA

“Existem estudos de que essa euforia na retomada da consciência, na verdade, são as células neurais morrendo. Os adolescentes desconsideram esse risco porque a recompensa a princípio vale a pena. Eles acham que têm o controle sobre o que estão fazendo”, conta a psicóloga Fabiana Vasconcelos, que trabalhou durante dez anos no ensino público norte-americano e hoje atua no Instituto Dimi Cuida. Segundo ela, a prática entre os alunos mais velhos era usada também como ritual de passagem no ingresso à universidade em Massachusetts.
   
Após repetições dos desmaios, podem ser observados sinais no corpo dos jovens e devem servir de alerta aos pais. O psiquiatra Carlos Guilherme Figueiredo, diretor da Associação Psiquiátrica de Brasília (APBr), cita que lesões no pescoço, olhos avermelhados e com sangue acumulado, fortes dores de cabeça e alteração de comportamento são fatores comuns entre os que praticam o jogo da asfixia.
 
Dimitri apresentava todos os sinais, segundo o pai, mas os familiares não associaram ao jogo. Já Erik havia tentado pela primeira vez no dia de sua morte, alegam os colegas de classe. “Os pais precisam ser próximos dos filhos. Não é ser amigo da criança, mas ter a liberdade de discutir todos esses assuntos”, explica Figueiredo. Se o comportamento do jovem apontar para a prática é necessário procurar ajuda profissional.
 
Suicídio ou asfixia acidental?
Para Judy, tanto o próprio filho como Dimitri acreditavam que recuperariam as funções após o desmaio. “O suicida não quer contato com o chão quando prepara a corda. E percebemos que os praticantes do jogo se enforcam sentados, deitados ou apoiados em algum móvel. O erro deles é não pensar que o corpo inconsciente é projetado para frente. Isso é fatal”. Tal configuração, segundo os familiares e especialistas, deveria ser um dos primeiros sinais para as autoridades forenses, evitando o rótulo errado de suicídio.
 
“Aqui no Brasil a polícia não tem meios ainda de fazer essa diferenciação. Essa investigação em São Paulo, que levou a polícia a repensar a questão do suicídio, talvez seja uma porta de entrada para a polícia forense no País inteiro. Nós precisamos prestar atenção para o não suicídio e fazer uma investigação mais aprofundada”, conclui a psicóloga Fabiana.

iG

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