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terça-feira, 11 de agosto de 2015

Cientistas descobrem enzima que ‘come’ nicotina e pode ajudar fumantes a abandonarem o vício

Substância natural age como Pac-Man, consumindo a nicotina antes que ela chegue ao cérebro
 
Cientistas do The Scripps Research Institute (TSRI), em San Diego, na Califórnia, podem ter encontrado uma nova arma no combate ao vício em nicotina, e ela age como um dos videogames mais queridos de todo o mundo: o Pac-Man.
 
A arma se chama NicA2, uma enzima bacteriana que impede que a nicotina chegue ao cérebro, o que reduz a “recompensa” — o prazer — associada a hábitos de tabagismo persistentes e recaídas.
 
O autor do estudo, o professor de química Kim Janda, membro do Instituto Skaggs de Biologia Química do TSRI, admitiu que a pesquisa ainda está em fase inicial de desenvolvimento, mas os resultados até agora são promissores. A enzima já demonstrou que tem as propriedades necessárias para servir como uma terapia anti-tabagista. Ela também ofereceria uma alternativa para os fumantes que desejam cortar o vício, já que estudos têm mostrado que as terapias atuais falham com cerca de 80% a 90% dos fumantes.
 
Há mais de 30 anos que Janda e seus colegas tentavam criar a tal enzima em laboratório, mas, recentemente, eles descobriram a NicA2, uma enzima natural proveniente da bactéria Pseudomonas putida, encontrada nos campos de cultivo de tabaco. A NicA2 depende da nicotina, como sua única fonte de carbono e nitrogênio, para sobreviver.
 
“A bactéria é como um pequeno Pac-Man: ela come a nicotina”, comenta Janda no estudo.
 
Ao consumir a nicotina absorvida por um fumante antes que ela chegue ao cérebro e este entregue a desejada “recompensa”, a enzima pode oferecer uma melhoria significativa sobre as opções existentes de tratamento contra o tabagismo, como chicletes, adesivos e pílulas.
 
Os pesquisadores testaram as qualidades terapêuticas da enzima. Primeiro, eles combinaram uma amostra de sangue com uma dose de nicotina equivalente à encontrada em um cigarro. Quando os cientistas adicionaram a enzima, a sobrevida da nicotina — o tempo que ela permanece ativa no organismo humano — caiu de duas a três horas para apenas 9 a 15 minutos, como foi reportado na publicação “Journal of the American Chemical Society”. Uma dose mais elevada da enzima, com algumas modificações químicas, poderia reduzir a sobrevida da nicotina ainda mais e impedi-la de alcançar o cérebro.
 
Em seguida, os pesquisadores testaram novamente a enzima para ver se ela poderia ser inserida em um medicamento anti-tabagismo. A enzima permaneceu estável em um laboratório por mais de três semanas a 36° Celsius, o que, de acordo com Janda, é um resultado “bastante notável”. Depois que a enzima “comeu” a nicotina, também não restaram sobras metabólicas tóxicas.
 
“Foi um tiro no escuro. Se [o experimento] não tivesse as métricas certas, seria um fracasso”, afirmou Janda.
 
O criador do estudo disse que o próximo passo será alterar a composição bacteriana da enzima, o que irá ajudar a diminuir os possíveis problemas imunológicos e maximizar seu potencial terapêutico.
 
O Globo

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