Segundo Marcos Boulos, prefeituras brasileiras erraram em não manter grupo permanente de controle do vetor Aedes aegypti
Divulgação/TV Brasil
Marcos Boulos: "Precisamos conhecer melhor o zika para saber no que ele pode transformar"
Um dos mais respeitados infectologistas do Brasil, o professor e ex-diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e coordenador de Controle de Doenças da Secretaria da Saúde de São Paulo, Marcos Boulos, acredita que o País vive atualmente a maior epidemia já registrada no mundo por zika vírus.
Em entrevista ao programa Espaço Público, na TV Brasil, na última terça-feira (12), o especialista defendeu o combate sistemático ao mosquito Aedes aegypti, transmissor não apenas do zika vírus, mas também da dengue e da febre chikungunya. Para ele, as prefeituras brasileiras erraram ao não manter um grupo técnico permanente de controle do vetor.
Boulos lembrou que a infecção por zika vírus, até então, era considerada uma doença mais branda que a própria dengue, já que causa febre baixa, manchas pelo corpo que desaparecem em dois ou três dias e quadros clínicos menos graves, que dificilmente levam à morte. Foi a associação da doença com casos de microcefalia em bebês que levantou a bandeira vermelha.
O infectologista destacou que, em todos os locais onde foi registrado surto do zika vírus, como na Polinésia Francesa, e em algumas pequenas cidades da África, o cenário não se repetiu posteriormente. “Se isso acontecer, até que não vai ser tão ruim assim. Vamos passar por um momento epidêmico importante e, depois, é provável que exista uma calmaria", afirmou o especialista.
“Precisamos conhecer melhor o zika vírus para saber no que ele pode se transformar. Estamos assustados com os para-efeitos, as coisas que estão acontecendo por causa do vírus”, declarou. “É preocupante as pessoas quererem engravidar sabendo que, se houver zika vírus, podem, eventualmente, ter uma criança com problemas e isso vai atrapalhar a vida e o desenvolvimento dessa família.”
Um novo balanço divulgado nesta terça (12) pelo Ministério da Saúde revela que 3.530 casos suspeitos de microcefalia relacionada ao zika vírus em recém-nascidos foram notificados no País entre 22 de outubro de 2015 e 9 de janeiro. O boletim também traz a confirmação de que a morte de dois recém-nascidos e dois abortos de bebês com a malformação no Rio Grande do Norte foram em decorrência da doença.
As notificações da malformação estão distribuídas em 724 municípios de 21 Estados. Pernambuco, o primeiro a identificar aumento de microcefalia, continua com o maior número de casos suspeitos (1.236), o que representa 35% do total registrado em todo o país. Em seguida, estão Paraíba (569), Bahia (450), Ceará (192), Rio Grande do Norte (181), Sergipe (155), Alagoas (149), Mato Grosso (129) e Rio de Janeiro (122).
O Ministério da Saúde só tem divulgado o número de casos em que há suspeita de que o recém-nascido tem microcefalia relacionada ao zika vírus. Os bebês têm o quadro confirmado ou descartado depois que passam por exames neurológicos e de imagem, como a ultrassonografia transfontanela e a tomografia.
O governo investiga ainda se a morte de outros 46 bebês com microcefalia na região Nordeste também tem relação com o zika. O vírus começou a circular no Brasil em 2014, mas só teve os primeiros registros feitos pelo ministério em maio do ano passado.
Veja no infográfico abaixo curiosidades sobre o mosquito Aedes aegypti:
Agência Brasil / iG
Nenhum comentário:
Postar um comentário