Um vírus contagioso e muito resistente, que passou oito anos sem circular intensamente em São Paulo, é o responsável pelo surto de conjuntivite deste ano na região. Até 25 de março, a capital tinha 119.148 notificações da doença, segundo o Centro de Controle de Doenças, órgão ligado à Secretaria Municipal da Saúde. O número de casos na cidade já supera em quase quatro vezes o total verificado no Estado todo nos três primeiros meses de 2010, período que contou com cerca de 32 mil casos.
O enterovírus Coxsackie A24 não era registrado nesta proporção em São Paulo desde 2003. Para os especialistas, a população está mais suscetível a este agente infeccioso justamente pelo longo período sem muito contato com o vírus, que é bastante resistente ao sistema de defesa do corpo e também ao ambiente externo – ele pode permanecer vivo em um telefone, por exemplo, por sete dias.
Segundo os oftalmologistas ouvidos pela reportagem, a quantidade de pessoas afetadas deve ser ainda maior levando-se em conta as duas últimas semanas, que não entraram nos números da Secretaria. “Estamos atendendo, em média, 400, 500 casos de conjuntivite por dia. Normalmente são menos de cem”, diz Denise de Freitas, chefe do Departamento de Oftalmologia do Hospital São Paulo, da Unifesp.
No Hospital das Clínicas, da USP, a média de atendimentos também gira em torno de 500 pessoas por dia, um aumento expressivo. Em 18 de março, quando o JT noticiou a epidemia de conjuntivite na capital, a instituição já contabilizava 300 atendimentos por dia – eram esperados 100 para o período.
A predominância de casos provocados pelo Coxsackie A24 na epidemia deste ano foi identificada pelo Instituto Adolfo Lutz. Capaz de permanecer até uma semana em objetos usados pelo paciente, o vírus também é transmitido na fase latente. “Mesmo sem sintomas, a pessoa pode estar transmitindo”, diz Carolina Paranhos, oftalmologista do Hospital de Olhos de São Paulo.
Em outros casos, a conjuntivite provocada pelo Coxsackie A24 pode trazer sintomas quase instantâneos. “É a conjuntivite explosiva: a pessoa está bem, vai deitar, e acorda com os olhos irritados”, diz Denise. “É uma espécie de gripe dos olhos”, completa.
Os médicos dizem que não há imunidade completa contra a conjuntivite – só a forma viral da doença pode ser causada por 12 tipos principais de vírus. Uma vez contaminado por um agente, o organismo desenvolve defesas contra aquele subtipo específico.
Apesar de ser predominante no surto atual, o Coxsackie A24 não é o vetor mais comum da doença. “O tradicional é a conjuntivite viral por adenovírus, também altamente contagioso”, explica Denise. Por serem mais comuns, os adenovírus têm efeito menor que o Coxsackie A24. Para os especialistas, o contato mais frequente com o adenovírus ao longo dos anos contribuiu para a maior resistência da população contra esse tipo viral.
O Coxsackie A24 costuma provocar hemorragias na conjuntiva – membrana que forra a parte branca dos olhos e a face interna das pálpebras. “A duração da doença é de sete a dez dias”, afirma Aderbal de Albuquerque Alves Júnior, presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia. Os demais sintomas são comuns a todas as conjuntivites.
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