Índice de gestações tardias saltou de 5% para 16% nos últimos 40 anos
Por mais que os médicos alertem sobre os riscos de uma gravidez tardia, após os 35 anos, números recentes mostram que esse comportamento tem crescido e está se firmando como uma tendência social.
No universo das celebridades, não poderia ser diferente. O anúncio das gestações da mulher do ator John Travolta, Kelly Preston, aos 47 anos, e da cantora canadense Celine Dion, aos 43, renovou a esperança de muitas quarentonas que tentam engravidar.
“Quando uma celebridade torna pública sua opção de engravidar depois dos 40 anos, ela pode influenciar outras mulheres a fazer o mesmo”, analisa Laise Potério, psicóloga da Unicamp. "Além disso, a mulher ganha confiança com os avanços da medicina", conclui.
A gravidez madura das duas famosas reacendeu também a discussão sobre os riscos e benefícios da maternidade tardia. Em São Paulo, o Hospital das Clínicas registrou um crescimento superior a três vezes nos atendimentos de gestações tardias. O índice saltou de 5%, na década de 1970, para 16,6%. Em Goiás, outro estudo mostra um salto ainda maior, de cinco vezes nos últimos 10 anos.
“Muitas mulheres têm postergado a gestação para se dedicar à profissão e alcançar uma vida estável”, afirma Waldemar Naves do Amaral, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH).
O ginecologista conta que a medicina tem se preparado cada vez mais para lidar com a nova e delicada realidade. “Quando a mulher decide fazer uma fertilização in vitro, ela pode identificar o risco de anomalias genéticas antes do embrião ser implantado”, comenta. Na técnica chamada PGD, por exemplo, uma célula é retira do embrião para analisar anomalias. Assim, muitos problemas podem ser evitados.
Mas se a gestação já tiver ocorrido, a mulher deve passar por um rastreamento de anomalias. “São exames de sangue e de ultrassom que apontam o risco de doenças genéticas”, explica Eduardo de Souza, obstetra do Hospital São Luiz. Se constatado o risco, a mulher pode passar por exames invasivos, porém mais precisos.
“Existem três procedimentos. Um deles, feito no segundo mês, retira um pedaço da placenta. Outro, após o terceiro mês, analisa o líquido amniótico. E o último, no quarto mês, retira sangue do cordão umbilical”, detalha o ginecologista. Todos são feitos com o mesmo objetivo: identificar problemas genéticos.
Aos 20 anos, o risco de anomalias genéticas é de 0,5%. O índice dobra aos 35 anos, passa para 2% aos 37 anos, chega a 5% aos 40 anos e alcança 10% aos 44 anos. A principal anomalia é a Síndrome de Down, mas há também as síndromes de Edwards e de Patau, entre outras.
“Quando a doença tem mortalidade próxima de 100%, a mulher pode procurar em juízo uma liminar para interromper a gravidez”, diz o presidente da SBRH. Outros casos, como problemas na frequência cardíaca, podem ser resolvidos ainda na gestação. E anomalias como lábio leporino e pé torto são corrigidos após o nascimento.
O preparo antes da gestação também é fundamental. Isso porque o risco de abortamento salta de 10%, em mulheres de 20 anos, para 40%, aos 40 anos. “A mulher precisa estar com o metabolismo adequado, dentro do peso recomendado e em boas condições físicas”, enumera Souza. Isso vai contar em favor da própria fecundação, que tem apenas 40% de sucesso aos 40 anos. Em jovens de 20 anos, o índice chega a 80%.
Embora o foco das preocupações seja a saúde do feto, a saúde da mulher também corre riscos maiores em gestações tardias. “Ela pode ter hipertensão, alterações cardíacas e diabetes”, conta Naves do Amaral.
Apesar dos riscos, a gravidez tardia tem suas vantagens. “Ela costuma ser algo planejado. A mulher se considera mais preparada para receber um filho e para cuidar dele. Esse aspecto emocional é muito importante”, avalia Naves do Amaral. "Não que as mulheres mais novas não estejam preparadas, mas quando a gestação é planejada, ela pode ser mais tranquila", comenta Laise.
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