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sexta-feira, 20 de maio de 2011

Médicos divergem sobre papel do sal no aumento da pressão

A relação entre o alto consumo de sal e o risco de pressão alta foi questionada por uma pesquisa publicada no "Journal of the American Medical Association".


Segundo os autores do estudo, da Universidade de Leuven, na Bélgica, quem come mais sal não tem mais risco de ter hipertensão ou doença cardiovascular.

E mais: o baixo consumo de sódio foi associado a um maior risco para o coração.

"Nossos achados refutam as estimativas que dizem que vidas são salvas e custos de saúde são reduzidos com um menor consumo de sal", dizem os autores, na conclusão.

A afirmação gerou reações entre especialistas e, no último sábado, o periódico "Lancet" publicou um editorial questionando o trabalho "Esse estudo pouco contribui para a compreensão da doença", diz o texto.

A pesquisa belga mediu a quantidade de sódio na urina de 3.681 pessoas e acompanhou a incidência de doença cardiovascular nos voluntários por sete anos.

Segundo o cardiologista Marcus Bolívar Malachias, da Sociedade Brasileira de Cardiologia, esse não é o primeiro estudo que mostra uma correlação fraca entre sal e hipertensão.

"Já existem autores que afirmam que o sal não é o fator mais importante. Hoje, a obesidade talvez seja um fator mais grave do que o sal."


MULTIFATORIAL

A hipertensão tem muitas causas: alterações no batimento cardíaco, na parede das artérias ou no funcionamento dos rins, por exemplo.

O estilo de vida também está relacionado à doença. Má alimentação, sedentarismo, obesidade, fumo e estresse são alguns gatilhos.

A ingestão de sódio é mais um deles. A substância, que está no sal de cozinha e também em alimentos industrializados, é fundamental para o equilíbrio de líquidos.

Segundo o nutrólogo Durval Ribas Filho, da Abran (Associação Brasileira de Nutrologia), cada pessoa e cada população têm uma sensibilidade diferente ao sódio.

"Cerca de 50% das pessoas são mais sensíveis. Como não há como saber quais são, é melhor que todos reduzam o consumo."

Especialistas recomendam a ingestão máxima de 5 g de sal por dia ou 2 g de sódio.

A restrição total também não é benéfica, de acordo com Luiz Aparecido Bortolotto, cardiologista do InCor.

"Ingerir menos do que 2 g pode ativar processos inflamatórios e aumentar o risco cardiovascular. Há uma relação com a aterosclerose."

Para o cardiologista Celso Amodeo, do HCor, a pesquisa belga é sensacionalista.

"Existe uma briga muito grande em torno do sódio. Esse estudo fez poucas dosagens de sal, e os grupos de pacientes analisados eram homogêneos demais."

O fato de as idades e as nacionalidades dos voluntários serem próximas impede que as conclusões sejam generalizadas, segundo Amodeo "A pressão aumenta com a idade. Existe uma relação direta entre hipertensão e casos de derrame e infarto."

ALIMENTOS TERÃO ATÉ 30% MENOS SÓDIO

A indústria brasileira vai reduzir o teor de sódio em 16 categorias de alimentos a partir de 2012. Massas instantâneas, pães e bisnagas serão os primeiros a ter redução de até 30% do ingrediente até 2014. O compromisso foi firmado com o Ministério da Saúde, em abril.

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