MARIANA LENHARO
Os prontos-socorros dos hospitais particulares de São Paulo estão mudando de perfil. Criados para atender emergências, eles têm recebido uma demanda crescente de quadro nada urgentes, de modo que muitos se viram obrigados a expandir suas instalações e a criar mecanismos para que os pacientes com situações realmente graves não sejam prejudicados.
No pronto-socorro do Hospital 9 de Julho, por exemplo, 80% dos pacientes atendidos são de baixa prioridade, situação semelhante àquela encontrada no pronto-atendimento do Hospital Beneficência Portuguesa, em que quase 70% dos atendimentos são pouco ou nada urgentes: de uma simples indisposição a gripes e alergias leves.
Os diretores médicos dos hospitais interpretam o inchaço dos prontos-socorros como um reflexo das dificuldades sentidas pelos usuários de planos de saúde no País. Assim, quem tem um pequeno mal-estar prefere aguardar horas nas filas dos prontos-socorros do que semanas até conseguir agendar uma consulta via convênio médico. “As pessoas vêm direto ao pronto atendimento por causa da praticidade. Além da demora para marcar consulta, elas às vezes têm dúvida sobre qual especialidade de médico devem procurar”, explica a médica Maria de Lourdes Teixeira, uma das responsáveis pelo serviço na Beneficência Portuguesa.
“No Samaritano, ampliamos e reestruturamos a área do pronto-socorro justamente para dar um atendimento mais confortável aos pacientes que têm de esperar mais porque têm complexidade menor”, comenta o diretor clínico do Hospital Samaritano, Cláudio Isaac. Outros dois hospitais da capital passam por processos semelhantes. A Beneficência Portuguesa recentemente dobrou sua área de atendimento do pronto-socorro, enquanto o 9 de Julho realizou neste ano uma grade reforma.
De acordo com os médicos, uma evidência de que a maioria dos casos não é urgente nos prontos-socorros da capital é a existência de horários e dias de pico que se repetem entre as instituições. A segunda-feira é sempre o dia mais agitado, por exemplo, e a hora do rush coincide justamente com o período em que o paulistano sai do trabalho, entre 17h e 21h.
Segundo o superintendente médico do Hospital 9 de Julho, José Luiz Capalbo, alguns pacientes também procuram o pronto-socorro por não saberem se os sintomas são graves ou não. E, apesar de alguns especialistas considerarem esse fenômeno como um desvirtuamento da função do pronto-socorro, os hospitais têm se adaptado ao novo cenário para cumprirem suas tarefas extras.
Na maioria das instituições ouvidas pelo JT, todo paciente é submetido a uma triagem feita por enfermeiros assim que se apresenta à recepção. De acordo com sua classificação de gravidade, ele pode esperar mais ou menos tempo para ser atendido. “Nem todo paciente grave chega gritando. Temos de tomar cuidado para que um paciente com enfarte não fique sentado quietinho, esperando sua vez, enquanto uma pessoa com gripe é atendida antes dele”, avalia Maria de Lourdes.
Sem pânico
A princípio, o pronto-socorro deveria ser destinado ao atendimento de situações que possam colocar em risco a vida dos pacientes ou deixar sequelas graves, como suspeitas de enfarte, acidente vascular cerebral (derrame), apendicite e fraturas.
Já um sintoma comum a várias doenças, como a febre, por exemplo, típica de resfriados e gripes, nem sempre é motivo para buscar um pronto-atendimento. Em geral, é possível controlá-la em casa por até 12 horas, com antitérmicos. O quadro passa a ser preocupante se a febre for alta e persistente, acima de 39ºC, e principalmente se estiver associada de outros sinais, como vômito, diarreia.
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