Operar amígdalas e adenoides ("carne esponjosa" atrás do céu da boca) de crianças aumenta a produção de hormônios do crescimento, mostra pesquisa realizada no Hospital Edmundo Vasconcelos, em São Paulo.
O trabalho foi feito no decorrer do ano passado, com 26 crianças entre três e oito anos de idade que tinham esses órgãos maiores do que o normal, a ponto de prejudicar a qualidade do sono.
Os médicos fizeram exames para dosar a quantidade de hormônio do crescimento IGF-1 (Fator do Crescimento do Tipo Insulina 1) nas crianças antes de serem operadas e um mês depois da cirurgia.
MAIS HORMÔNIO
"Em todas as crianças, verificamos um aumento significativo do hormônio", diz Gabriela Robaskewicz, otorrinolaringologista do Edmundo Vasconcelos e uma das autoras do estudo.
Um trabalho anterior, feito na Universidade Afyon Kocatepe (Turquia), mostrou que meninos com hipertrofia de amígdalas e adenoides tinham níveis de hormônios do crescimento menores do que os de crianças com órgãos de tamanho normal.
Foram avaliados 44 meninos, entre oito e 12 anos, com a hipertrofia, e 40 saudáveis, como grupo-controle.
Para Robaskewicz, isso acontece porque o hormônio do crescimento é liberado principalmente à noite.
"Amígdalas e adenoides aumentadas causam obstrução da respiração, ronco e apneia do sono, prejudicando a produção do hormônio."
Segundo a médica, estudos mostram que cerca de 12% dos problemas respiratórios na infância estão relacionados à obstrução causada pelo aumento de amígdalas e adenoides.
"Os pais precisam saber que roncar ou dormir e respirar de boca aberta não é normal e pode prejudicar o crescimento da criança", diz o otorrinolaringologista Raimar Weber, que orientou a pesquisa do hospital Edmundo Vasconcelos.
CRESCIMENTO
Ângela Spínola, presidente do departamento de endocrinologia pediátrica da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), lembra que a operação das amígdalas, quando indicada, melhora uma série de fatores que vão influenciar o desenvolvimento da criança.
"Mas não muda o potencial de crescimento. Meu medo é as pessoas começarem a achar que têm de tirar as amígdalas do filho para ele crescer mais."
De acordo com Weber, as crianças do estudo já tinham indicação para a cirurgia, por causa de problemas respiratórios e de sono.
Além da qualidade do sono, outros fatores podem influenciar a produção do hormônio do crescimento nas crianças operadas, segundo Spínola.
"O aumento do IGF-1 também está relacionado ao estado nutricional. Crianças que têm muitas infecções nas amígdalas se alimentam pior. E os remédios usados para tratar essas amigdalites também podem interferir na produção do hormônio."
O otorrinolaringologista Fabrizio Romano, do Hospital Infantil Sabará, de São Paulo, diz que a indicação da cirurgia não é "fazer crescer".
"Mas a remoção de amígdalas e adenoides pode corrigir fatores que estavam limitando o crescimento e fazer com que ele volte ao ritmo esperado."
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