O uso de gordura centrifugada, em vez do material lavado com soro, tem conferido melhores resultados ao tratamento de lipodistrofia facial em portadores de HIV. Este aperfeiçoamento torna a técnica ainda mais convidativa, visto que sua principal concorrente, a aplicação de PMMA (polimetilmetacrilato), ainda está longe de alcançar um consenso de segurança entre os médicos.
O enxerto de gordura é um procedimento simples, com cicatrização em dois dias
A lipodistrofia facial é a perda acentuada de gordura no rosto, efeito colateral de alguns medicamentos usados para conter o vírus e evitar o surgimento de doenças associadas. Além do rosto, o paciente pode sofrer perdas acentuadas de gordura em outras regiões do corpo, como pernas, braços e nádegas. Mas a perda facial costuma ser mais evidente e causa um grande prejuízo estético ao paciente.
“A gordura centrifugada é concentrada, tem um resultado mais previsível”, explica o cirurgião plástico Rodrigo Mangaravite. Quando é apenas lavada com soro, ela pode apresentar taxas de reabsorção pelo organismo superiores a 50%. Já quando ela é centrifugada, a reabsorção fica entre 30% e 40%. Isso dá mais garantia de sucesso ao procedimento e evita novas aplicações.
“Às vezes é preciso outra aplicação cerca de um ano depois para compensar a gordura reabsorvida”, afirma Mangaravite.
As aplicações de PMMA conseguem ser ainda mais previsíveis, pois o material sintético não é reabsorvido pelo organismo. Mas os médicos ainda se dividem sobre seu uso em tecidos moles porque sua remoção, em caso de rejeição, seria praticamente impossível.
Concentrada
A grande vantagem da gordura centrifugada é que ela se torna mais concentrada. “O material é centrifugado por cinco minutos em duas mil rotações por minuto, usando uma centrífuga médica”, detalha o cirurgião plástico.
Após o procedimento, sangue e outros resíduos podem ser separados mais facilmente da gordura. Com ela mais concentrada, há mais colágeno presente, e essa substância favorece a recuperação da pele.
Sem a centrifugação, a gordura precisa ser lavada com soro. “São necessárias muitas lavagens para melhor aproveitar a gordura e isso acaba sendo até mais oneroso par ao médico”, afirma Mangaravite. O procedimento hoje varia entre R$ 1 mil e R$ 4 mil.
As aplicações da gordura centrifugada são feitas com microcânulas. “São como injeções no rosto. Em dois dias, já está tudo cicatrizado”, conta o médico.
PMMA
A infectologista Denise Lotufo, do Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids de São Paulo, explica que as aplicações de PMMA são mais simples e definitivas que as aplicações de gordura. “Tem paciente que já está tão magro que não tem mais de onde retirar a gordura para o enxerto”, argumenta.
Além disso, é mais raro haver necessidade de retoque após o enxerto. Isso é feito mais tardiamente, quando o paciente já sofreu mais perda de gordura facial por conta dos efeitos das medicações contra o HIV.
O cirurgião plástico Antonio Graziosi, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (regional São Paulo), reconhece que o PMMA pode ser uma alternativa quando não há possibilidade de enxerto de gordura. E acrescenta que a condição de imunodeficiência do paciente HIV positivo pode representar uma vantagem ao procedimento. “Isso ajuda o organismo a não perceber a presença de um corpo estranho”, esclarece. A chance de rejeição passa a ser menor.
Contudo, o médico dá preferência aos enxertos, quando o procedimento é viável. “A gordura vem do próprio corpo do paciente. Não haverá rejeição”, argumenta. Além de alguma eventual complicação imediata, o médico alerta para os efeitos do PMMA em médio e longo prazo. “Precisamos estudar mais esses efeitos”, diz ele.
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