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terça-feira, 7 de junho de 2011

Organizações sociais do Rio dizem que há negligência no combate à aids no estado

Rio de Janeiro – Organizações da sociedade civil acusam as autoridades do Rio de Janeiro de negligência no combate à aids. A alta taxa de incidência de casos no estado, que ocupa o segundo lugar em número de óbitos do país (o primeiro estado é São Paulo), são reflexos desse descuido, de acordo com representantes de organizações não governamentais (ONG) e médicos de hospitais públicos.


Dados do Ministério da Saúde apontam que o estado do Rio de Janeiro ocupava, em 2009, o terceiro lugar em taxa de incidência de casos, com uma média de 30 casos por 100 mil habitantes. Já na comparação com a média nacional de óbitos, que é 6,1 casos por 100 mil habitantes, o Rio tem o segundo maior coeficiente de mortes por aids, com média de 9,3 por 100 mil habitantes.

Para o presidente do Grupo Pela Vidda/Rio, George Gouvea, é inadmissível que todos os anos morram cerca de 1,5 mil pessoas por aids no estado.

“Existe uma falsa impressão de que o problema da aids está resolvido no Brasil. A gente não pode admitir que a média de 35 mil novos casos notificados, por ano, no país, seja aceitável. Além disso, são cerca de 12 mil mortes por complicações de aids por ano. No caso do Rio, a situação é ainda pior, porque os números não baixam e estamos falando de um estado com recursos. Trata-se de uma estabilidade vergonhosa”, criticou George.

O secretário executivo do Fórum ONG/Aids do Rio de Janeiro, Willian Amaral, classificou de escandalosa a situação da assistência a pacientes com aids no Rio. “Faltam profissionais de saúde. Faltam leitos. A própria Secretaria Municipal de Saúde reconhece que faltam 442 médicos na capital. Além disso, estão sucateando os hospitais de referência, como o Gafree Guinle, que tem reduzido drasticamente o número de leitos nos últimos anos”.

Segundo Amaral, com o fechamento do Hospital Pedro II, na zona oeste da capital, que pegou fogo em outubro passado, 280 pacientes foram transferidos para o Centro Municipal de Saúde Lincoln de Freitas, também na zona oeste, que não tem estrutura para absorver esses pacientes. “O Instituto São Sebastião, no Caju, zona portuária, foi fechado em 2008 e o governo do estado disse que o Hospital dos Servidores [HFSE] se tornaria um hospital de referência e, até hoje, Inês é morta”.

Embora todos os hospitais da rede do Sistema Único de Saúde (SUS) tenham a obrigação de receber pacientes com aids, na prática, poucos têm leitos disponíveis para os mais de 20 mil pacientes que usam medicamentos antirretrovirais no estado. É o que garante um médico da Central Estadual de Regulação de Leitos [que controla a transferência de pacientes críticos para as unidades de saúde]. Ele pediu anonimato por medo de ser demitido.

“Há unidades com leitos para aids, como Pedro Ernesto, São Sebastião, Albert Schweitzer, que não têm internação para tuberculose, principal causa das mortes dos pacientes com aids. E, nas unidades especializadas em tuberculose, esses pacientes não conseguem atendimento, sobretudo, devido ao déficit de infectologistas”, disse.

O médico acrescentou que os três hospitais de referência em tuberculose no Rio, Santa Maria, Ary Parreiras e Raphael de Paula Souza, não têm centro de tratamento intensivo (CTI). “Desde o fechamento do Pedro II não consigo mais internar paciente de HIV. Entro no plantão e saio do plantão e o paciente de aids fica lá [nas emergências] até perder a indicação de internação. O paciente mais grave acaba morrendo”.

George Gouvea, do Grupo pela Vidda, disse que conhece pessoas portadoras do vírus HIV que usam endereço de amigos em São Paulo para receber tratamento no estado vizinho. “Alguns pacientes do Rio demoram até 60 dias para conseguirem ir à primeira consulta com o infectologista. Em São Paulo, os serviços são muito superiores e é por isso que os números de incidência e mortes estão caindo consideravelmente”.

Em dezembro passado, o Fórum ONG/Aids do Rio de Janeiro protocolou, no Ministério Público, carta solicitando providências sobre a situação da saúde pública no estado e a assistência aos portadores do HIV e aos doentes de aids. “Até hoje, estamos esperando uma resposta,” criticou Amaral.

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