Brasília – A atenção dada a mulheres que procuram os hospitais da rede
pública de três capitais do Nordeste (Recife, Salvador e São Luís), após sofrer
aborto ou em processo abortivo, é considerada deficiente de acordo com a
pesquisa Qualidade da Atenção ao Aborto no Sistema Único de Saúde do Nordeste
Brasileiro: O que Dizem as Mulheres?, divulgada ontem (26).
O estudo foi baseado em questionário
feito com 2.804 mulheres, com mais de 18 anos, e considerou as normas técnicas
lançadas em 2005 pelo Ministério da Saúde. Elas definem diretrizes de
atendimento a mulheres no processo de abortamento no serviço de saúde,
independentemente de ser provocado ou não.
As normas determinam o tipo de
acolhimento, a orientação, os insumos e ambientes físicos, a qualidade técnica e
a continuidade do cuidado oferecido a mulheres internadas com quadros de
abortamento ou complicações dele decorrentes pelo sistema de saúde.
Na pesquisa feita em hospitais da
rede pública do Recife, de Salvador e São Luís as mulheres relataram que, entre
os problemas, está o da falta de medicação para dor assim que chegam ao
hospital. “Isso implica impor às mulheres sofrimento, ansiedade e desconforto,
com potencial risco para a saúde e para a vida”, diz a pesquisa.
De acordo com a pesquisadora Sandra
Valongueiro, da Universidade Federal de Pernambuco e uma das uma das autoras do
levantamento, as mulheres sofrem sem necessidade. “As mulheres que chegam em
processo de abortamento nem sempre recebem analgésico antes e depois do
procedimento. Ela chega com dor e espera por oito, doze horas para passar pelo
esvaziamento uterino, e essa dor só é tratada durante o procedimento [médico]”,
declarou. “Isso gera sofrimento, ansiedade e desconforto e não tem necessidade
de acontecer porque o sistema de saúde tem analgésicos simples que poderiam
resolver isso”, completou.
Na opinião de Sandra Valongueiro, os
profissionais de saúde olham essa dor como algo natural do processo de
abortamento, e, por isso, consideram que não precisa ser tratada.
Além da questão do sofrimento das
pacientes, a pesquisa também avaliou a prática de aferição da pressão arterial,
essencial em quase todos os procedimentos de saúde. Ele foi muito frequente em
Salvador e no Recife (respectivamente 80,5% e 88,7%), mas considerada “muito
insuficiente” em São Luís (31,7%).
A prevenção de infecção também foi
analisada pelo levantamento. Em Salvador, o exame de aferição de temperatura,
importante para essa prevenção, foi adotado antes e depois do procedimento
cirúrgico de esvaziamento uterino em 69,7% das mulheres. No Recife, 43,8%, e São
Luís foi “praticamente inexistente”, 4,4%.
A capital maranhense também
apresentou o quadro mais grave com relação às orientações sobre os cuidados
posteriores, de acordo com a pesquisa. Apenas 20% das mulheres disseram que
receberam orientações sobre cuidados a serem tomados após a alta hospitalar.
Aproximadamente 10% relataram ter sido alertadas sobre o risco de gravidez
imediata e menos de 5% informaram ter agendada consulta para revisão. Só 3,2%
das entrevistadas responderam ter recebido orientações sobre planejamento
familiar e 1,1% foram prescritos contraceptivos com orientação de locais para
sua obtenção. Nestes aspectos, Recife e Salvador apresentam indicadores abaixo
de 50%.
A divulgação da pesquisa faz parte
da programação do Dia Latino-Americano de Luta pela Legalização do Aborto, na
sexta-feira (28), e na agenda da campanha 30 Dias de Mobilização Pela Vida das
Mulheres, promovida pelo Fórum de Mulheres de Pernambuco.
Fonte Agência Brasil
Nenhum comentário:
Postar um comentário