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quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Pesquisas clínicas: cobaias ou pacientes com oportunidades de cura?

Por Alberto Wainstein*
 
Processo, necessário para comprovar o funcionamento de medicamentos ou vacinas, ainda é vítima do desconhecimento e de mitos que distorcem a percepção da população leiga
 
A história recente viu a medicina dar grandes saltos no combate às doenças e aumento da expectativa de vida da população mundial. Vacinas, antibióticos, anestesias e cirurgias mais seguras conseguiram controlar muitas doenças antes consideradas fatais. Atualmente, é pouco comum ver pessoas morrendo de gripe, pneumonia ou até de tuberculose. Mesmo assim, ainda há um longo caminho a ser percorrido no tratamento de doenças cardiovasculares e tumores malignos, exemplos de patologias que lideram a lista de causas de óbitos no Brasil e em todo o mundo. Descobertas inovatórias no campo da medicina têm surgido com a promessa de melhorar o tratamento e obter a cura destas e outras enfermidades, mas, antes de estarem disponíveis para o uso, todas elas têm de ser validadas através de Pesquisas Clínicas.
 
A pesquisa clínica é o processo pelo qual todo e qualquer medicamento precisa ser submetido antes de chegar às prateleiras das farmácias e dos hospitais, desde remédios mais corriqueiros, como os anticoncepcionais, até drogas mais complexas, como as utilizadas nos tratamentos contra o câncer. Este processo, necessário para comprovar que determinado medicamento ou vacina funciona, ainda é vítima do desconhecimento e de mitos que distorcem a percepção da população leiga e dificultam o seu desenvolvimento. Ainda persiste, por exemplo, a ideia equivocada de que os participantes das pesquisas são cobaias, que estarão sujeitos a todo o tipo de experimentos esdrúxulos e perigosos.
 
Este nome pejorativo e danoso para o paciente em pesquisa não deveria ser utilizado. Existiram sim muitos experimentos antiéticos, como os realizados durante o Nazismo, que romperam com todos os parâmetros da ética e dignidade humana, mas que são absolutamente repudiados pela comunidade médica e científica.
 
Atualmente, as pessoas que participam de pesquisa são chamadas de sujeitos ou voluntário de pesquisa. Não existem “caixas pretas” ou informações escondidas. Todos os aspectos bons ou ruins são exaustivamente apresentados para os pacientes candidatos a sujeito de pesquisa. Apenas quando tudo foi explicado, existe elegibilidade perfazendo os critérios de inclusão sem os critérios de exclusão e o candidato a sujeito de pesquisa e familiares não têm dúvidas pode-se então fazer a inclusão na pesquisa com a assinatura de um Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE). Com este termo o voluntário se torna um sujeito de pesquisa, podendo abandonar o procedimento a qualquer momento e sem nenhum motivo. Da mesma forma, a equipe de pesquisa se mantém sempre atenta para excluir do procedimento quando se é identificado que o procedimento está fazendo mal ao sujeito ou quando existam alternativas melhores do que a pesquisa.
 
Outro conceito mistificado é o do placebo, leiga e erroneamente conhecido como a “pílula de açúcar”. A ele é atribuído um conceito incorreto de que o placebo seria equivalente a não receber tratamento. A população em geral tem a noção distorcida de que em uma pesquisa clínica um grupo de pacientes recebe a droga e outro fica sem tratamento recebendo o placebo. Isto não é verdade. As pesquisas clínicas se utilizam do conceito de placebo ativo em que uma metade dos pacientes recebe a nova droga e a outra metade recebe o tratamento padrão para a sua doença. Um exemplo: recentemente, foram realizados estudos clínicos para uma droga experimental candidata ao tratamento de um tipo de câncer muito agressivo, que acomete adultos jovens e que quando disseminado quase sempre é incurável, o melanoma.
 
No Brasil o tratamento padrão para o melanoma disseminado é uma droga chamada Dacarbazina (DTIC), desenvolvida em 1967 e com taxas de resposta próximas de apenas 5% e quase 0% de cura dos pacientes. A nova droga é então testada de uma das duas maneiras disponíveis. Na primeira, metade dos pacientes recebe a Dacarbazina (o tratamento padrão) e a outra metade recebe a droga experimental. Na segunda, metade dos pacientes recebe a droga experimental juntamente com a Dacarbazina e a outra metade apenas a Dacarbazina. Neste último caso, nem o pesquisador nem o paciente podem saber quem está recebendo o que para evitar leituras tendenciosas nas análises dos resultados, o que poderia prejudicar milhões de pacientes. Ou seja, sempre o paciente recebe, no mínimo, o tratamento padrão, tendo a chance de receber mais.

*Dr. Alberto Wainstein, oncologista e sócio-fundador da Trymed, empresa sediada em Belo Horizonte e especializada na condução de pesquisas clínicas
 
Fonte SaudeWeb

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