Médicos e associações de pacientes do mundo se unem para tornar mais rápido o
diagnóstico e criar mecanismos para desenvolver novas drogas
Pesquisadores, médicos, associações de pacientes e organizações de saúde pública
criaram uma coalizão para controlar a doença de Chagas. A ideia é concentrar
esforços para tornar mais rápido o diagnóstico, criar mecanismos para avaliar a
eficácia do tratamento e desenvolver novas drogas contra a patologia - que afeta
cerca de 10 milhões de pessoas. Apenas 0,2% dos infectados está em tratamento.
"Engana-se quem pensa que é um problema do passado, um desafio superado. E
isso vale também para o Brasil", diz a coordenadora do Médicos Sem Fronteiras no
Brasil, Carolina Batista.
Embora tenha recebido a certificação de interrupção da transmissão domiciliar
da doença em 2006 da Organização Mundial de Saúde, o Brasil tem cerca de 2
milhões de pacientes infectados. A maior parte deles está sem diagnóstico e sem
tratamento. Pelas projeções, o País deve fornecer em 2013 terapia para 800
pessoas. "A quantidade é insignificante. É preciso que médicos brasileiros façam
o diagnóstico da doença e, sobretudo, que indiquem o tratamento para os
pacientes", defende o diretor executivo da Iniciativa Medicamentos para Doenças
Negligenciadas (DNDi), Eric Sobbaersts.
Até a década passada, o tratamento para doença de Chagas, feito ao longo de
dois meses, não era indicado para pacientes crônicos. A orientação mudou, mas
raramente é colocada em prática. Mesmo que tardia, afirmam os especialistas, a
terapia pode reduzir o risco de o paciente desenvolver problemas cardíacos. "Por
desconhecimento ou resistência, essa oportunidade lhes é negada. São os
negligenciados dentro do grupo de negligenciados", constata Carolina.
Até pouco tempo restrita a países da América Latina, a doença, com a
globalização, também passou a ser identificada em países desenvolvidos, como
Austrália, Japão, Espanha e Estados Unidos. Nos países endêmicos, o parasita
Tripanossoma cruzi, causador da doença, é transmitido sobretudo por insetos
conhecidos como barbeiros.
A transmissão pode ocorrer também por transfusão de sangue ou transplantes de
órgãos. No Brasil, exames de controle são feitos justamente para evitar esse
risco. Mas, em países onde a doença é recente, o cuidado não existe. "Já há
registros de casos de doença de Chagas provocadas por transplantes e
transfusões", diz Carolina. Os Estados Unidos ocupam a sétima posição no ranking
da doença.
"Novos desafios se somam a problemas que até agora não tinham sido
resolvidos. Daí a importância da criação desse grupo", avalia Sobbaersts. Entre
as metas estão o desenvolvimento de um método de diagnóstico mais rápido e de
ferramentas para avaliar se o paciente foi curado.
Atualmente, o tratamento é feito com benzonidazol. O remédio passou a ser
produzido no Brasil pelo Laboratório Federal de Pernambuco. Falhas de
abastecimento foram registradas em 2011, "O problema foi resolvido e a produção,
normalizada. Atualmente, o País tem capacidade para atender toda a demanda",
afirma o secretário de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Carlos
Gadelha.
Fonte Estadão
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