Coma o que quiser a maior parte do tempo e, ainda assim, perca peso e seja
saudável. A promessa está no livro "The Fast Diet": em inglês, quer dizer dieta
do jejum e dieta rápida.
O regime está sendo alardeado pela imprensa britânica como o mais
revolucionário desde Atkins (a dieta da proteína), e o livro, lançado em
janeiro, lidera o ranking de best-sellers da versão local do site Amazon. Em
setembro, chegará ao Brasil com o nome "A Dieta dos 2 Dias", pela editora
Sextante.
A proposta é simples: coma quase nada por dois dias na semana --homens devem
ingerir 600 calorias, mulheres, 500-- e, nos outros cinco dias, coma livremente.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Os autores, o médico e produtor Michael Mosley e a jornalista Mimi Spencer,
contam que, nos "dias de folga", consomem de batata recheada a peixe empanado.
Ele emagreceu 8,5 kg em três meses; ela, 6 kg em seis meses.
Mosley trabalha na rede de TV britânica BBC. Em 2012, foi cobaia em um
documentário sobre jejum intermitente. Depois de testar jeitos de jejuar, Mosley
criou seu método, chamado de 5 por 2.
"As evidências mostram que a dieta intermitente é segura e dá mais benefícios
para a saúde que uma dieta-padrão", disse Mosley à Folha.
Segundo o médico, o jejum faz o organismo queimar mais gordura e ter uma melhor resposta à insulina.
Segundo o médico, o jejum faz o organismo queimar mais gordura e ter uma melhor resposta à insulina.
"O corpo vai precisar liberar menos hormônio para controlar os níveis de
açúcar no sangue, o que é bom. Altos níveis de insulina estão associados a
diabetes, doenças cardíacas e câncer."
A lista de ganhos é defendida com citações de pesquisas científicas feitas em
humanos e animais. Mas nenhuma a longo prazo.
Segundo o cardiologista Bruno Caramelli, do InCor (Instituto do Coração), a
ciência está longe de um consenso sobre o jejum.
"Pode ser perigoso adotar essa dieta fora de um rigoroso protocolo de
pesquisa. É preciso investigar se, com o tempo, não há desnutrição."
Mosley nega esse risco porque a restrição é por um período curto."Algumas
pessoas reclamam que ficam fracas depois de horas sem comer. Na verdade, o
açúcar no sangue cai rapidamente depois da refeição, mas permanece estável
durante as 60 horas seguintes. A verdade é que não estamos acostumados a ter um
pouco de fome."
Segundo ele, algumas pessoas realmente têm dificuldades em fazer a dieta, mas
a maioria se adapta.
"No começo eu sentia mais fome, mas passava quando eu me distraía", disse à
Folha a escritora britânica Kate Harrison, 45, que segue o jejum intermitente há
quase um ano e perdeu 12 kg.
Harrison é autora de outro livro sobre o método, "The 5:2 Diet", lançado em
fevereiro no Reino Unido. "Comecei a ver a fome como algo bom."
A dona de casa paulistana Kleidy Thessari, 28, não teve a mesma sorte. Depois
de ver uma reportagem sobre a dieta na TV, decidiu tentar. Conseguiu por um mês
e perdeu quase 3 kg. "Era difícil. Tentava pensar que no dia seguinte poderia
comer mais, mas não compensava."
Compulsão
Embora a recomendação de Mosley seja não contar calorias nos dias de folga da
dieta, ele diz que exagerar pode colocar tudo a perder.
Mas, para o médico Amélio Godoy Matos, da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia, a compensação acontece. "A pessoa vai comer mais
nos outros dias."
A variação entre quase jejum e fartura pode desencadear episódios de
compulsão alimentar, de acordo com a nutricionista Adriana Kachani, do Instituto
de Psiquiatria do HC de São Paulo.
"É um comportamento de risco. A pessoa pode não saber que tem transtorno
alimentar até fazer essa dieta."
A longo prazo, outro efeito visto em ratos de laboratório é o aumento da
produção de radicais livres e o desenvolvimento de diabetes por insensibilidade
à insulina.
"É uma dieta que perturba o controle do metabolismo", diz Bruno Chaussê,
biólogo e pesquisador do Instituto de Química da USP.
Para Matos, os benefícios não compensam o risco. "O melhor é comer menos
sempre e de três em três horas."
Fonte Folhaonline
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