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quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Em Brasília, uma das principais deficiências do SUS é a falta de leitos

Brasília – O Distrito Federal tem um déficit de atendimento de 1,5 milhão de pessoas no sistema público de saúde, segundo estimativas da Secretaria de Saúde (SES) do governo do Distrito Federal (GDF).
 
Em 2012, foram mais de 7 milhões de atendimentos de urgência e emergência em Brasília e no Entorno – região que inclui cidades do Distrito Federal, de Goiás e de Minas Gerais -, nas 59 unidades da secretaria; entre hospitais, unidades mistas, centros de referência e centros de Atenção Psicossocial (Caps). Nos três primeiros meses deste ano, os atendimentos já ultrapassaram 2,4 milhões, de acordo com dados do resumo dos serviços médico-hospitalares da SES.
 
Uma das principais deficiências da saúde no DF está na falta de leitos. Hoje, há menos leitos disponíveis que no ano passado. Dos atuais 4.375, 188 estão bloqueados, o que anula os 29 leitos abertos entre 2012 e 2013.

Em 2013, foram, do total de atendimentos entre janeiro e março, 44,6 mil internações, 18,2 mil cirurgias, 418,2 mil exames radiológicos, 4,3 milhões exames patológicos e 418,2 mil exames de imagem, como ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética.
 
Para observar as condições do sistema de saúde no DF, a Agência Brasil visitou cinco dos principais hospitais públicos na região: o Hospital de Base, no Plano Piloto e principal instituição hospitalar da região; e os hospitais regionais de Taguatinga (HRT), de Ceilândia (HRC), do Gama (HRG) e de Planaltina (HRP), nas respectivas regiões administrativas.

Somados, esses cinco hospitais fizeram 25% de todos os atendimentos na rede pública da capital federal nos três primeiros meses de 2013 (603,6 mil). O de Taguatinga foi o que recebeu mais pacientes no período (136,5 mil), seguido pelo de Ceilândia (134,8 mil) e pelo Hospital de Base (129,2 mil).
 
No caso do Hospital Regional de Taguatinga, que atendeu o maior número de pessoas, a expectativa para o atendimento de um paciente que chega por volta das 8h da manhã, sentindo dores, mas sem risco iminente de morte, é na madrugada do dia seguinte, informaram atendentes que pediram para não ser identificados.

No dia da visita da Agência Brasil , havia cerca de 200 pessoas aguardando na emergência, e apenas um médico e dois profissionais para fazer triagem, segundo as atendentes. Elas, dependendo do caso, orientam o paciente a ir à Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) para ser examinado mais rapidamente, em vez de esperar no hospital.
 
“Eu não gosto de vir aqui, só venho em último caso porque o atendimento demora muito”, disse Edalina da Silva, 43 anos, que acompanhava o filho de 7 anos. O coordenador-geral de Saúde de Taguatinga, Otavio Rodrigues, explicou que há, em média, três ou quatro médicos na Emergência, dependendo da especialidade e do turno. Em relação à demora para o atendimento, ele informou que as consultas são feitas de acordo com a classificação de risco. Além disso, destacou que a quantidade de pacientes que precisam de atendimento primário é muito grande.
 
Sobre as condições do hospital, também há reclamações a respeito de falta de médicos, leitos e materiais hospitalares básicos – como filme para revelar exames de raio X. Em enfermarias de doenças infectocontagiosas, onde os pacientes deveriam ficar em isolamento, chegam a ser colocadas seis pessoas em um mesmo espaço físico. O coordenador da unidade de Taguatinga disse que estão sendo feitos investimentos na manutenção e na troca de equipamentos, o que permitirá exames mais especializados.
 
No Hospital da Ceilândia, a situação também é precária. Na entrada, muitos pacientes estavam irritados com a falta de informações sobre os horários dos médicos e com a demora para triagem e atendimento. No local desde às 7h da manhã, Rosa Guedes, 33 anos, foi informada somente por volta das 11h que o dentista que estava aguardando só chegaria às 14h. Nos corredores da emergência, os pacientes ficam deitados em macas sujas, sem lençóis, em meio ao mau cheiro, aguardando atendimento por horas. Os leitos dos casos de urgência se confundem com os de pacientes internados, cujas macas são separadas por divisórias de tecido presas em estruturas metálicas enferrujadas.
 
Maria das Graças Mendonça, 65 anos, acompanhante da mãe, de 90 anos, internada há oito dias, é resignada. “Eu não tenho do que reclamar. Eles [os médicos e enfermeiros] fazem o que podem. Eu chamo quando preciso e eles vêm. A comida é boa. Para nós também não faltou remédio”, explicou.
 
A coordenadora-geral de Saúde do hospital de Ceilândia, Lucimar Costa Zero, informou que a Secretaria de Saúde está trabalhando para a ampliação e a modernização das unidades, com investimentos em camas eletrônicas, macas novas e modernas. Ela informou que há previsão de reforma do pronto-socorro. Em relação à demora de atendimento, a coordenadora explicou que o hospital já conta com a ajuda de recepcionistas para auxiliar na prestação de informações aos pacientes. Segundo Lucimar, espera-se que o fluxo para o hospital diminua com a inauguração de uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) na cidade, até o final do ano, e de três clínicas da família. Em Ceilândia, são recebidas cerca de 850 pessoas por dia.
 
No Hospital de Planaltina, o panorama é o mesmo. Filas, salas de espera lotadas, corredores lotados de pacientes. A unidade de saúde, a cerca de 40 quilômetros do Plano Piloto, não tem médicos de todas as especialidades. Casos mais graves, como os relacionados a neurologia, cardiologia e cirurgia vascular, são encaminhados ao Hospital de Base. Duas ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) transportam os pacientes ao centro de Brasília para que aguardem atendimento, tenham diagnóstico e recebam receituário de medicação. Caso não seja uma situação de extrema urgência que mereça permanência no Base, o paciente volta a Planaltina para a continuação do atendimento.
 
“Eu faço entre dois e três transportes por dia. A falta de médicos é tamanha que há casos em que são encaminhados ao [Hospital de] Base pacientes de oftalmologia, com praticamente um cisco no olho, porque não há especialista aqui [Planaltina]”, disse à Agência Brasil o motorista do Samu Francisco Brandão. Segundo a coordenadora-geral de Saúde da unidade, Mônica Rodrigues, casos de especialidades de maior complexidade não são atendidos em Planaltina porque o hospital é de atendimento primário. Para atender casos mais graves, segundo ela, há outros hospitais da rede pública.
 
Na sala de espera do ambulatório do Hospital de Base, as reclamações, em geral, focaram no tempo de espera para a marcação de consultas e de procedimentos. A aposentada Dodina Pereira do Santos, 59 anos, ficou um ano com um catéter no rim esperando cirurgia. "Aqui é muito difícil ser atendido. Vou confessar uma coisa: só consegui porque conheço um enfermeiro”, disse a dona de casa Juciane Oliveira, 24 anos. A passadeira Marta Pereira, 62 anos, informou que, depois de sete horas em um outro hospital da rede, foi encaminhada ao [Hospital de] Base, onde teve de entrar novamente na fila de espera por atendimento.
 
No Hospital do Gama, assim como em vários outros, faltam médicos de diversas especialidades e equipamentos, o que aumenta a demora no atendimento e na análise de exames, já que os pacientes têm de ir a uma outra unidade de saúde e depois retornar, o que depende de uma série de pedidos e justificativas dos médicos, aumentando a burocracia. Um exemplo é a inexistência de uma unidade de terapia intensiva (UTI) neonatal, sendo que são feitos mais de 5 mil partos anualmente no local.
 
Assim, gestantes em situação de risco têm de ser encaminhadas a outros hospitais, de última hora, para dar à luz. Caso contrário, se o bebê precisar de internação na UTI, tem de entrar em uma fila de distribuição, que determina onde há vaga disponível que pode, ou não, ser encontrada a tempo de salvar a vida da criança. “Essa burocracia é um descaso com a saúde das pessoas. Peço a Deus todos os dias para não adoecer e precisar vir ao hospital", disse a manicure Teresinha dos Anjos, 48 anos.
 
Agência Brasil

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