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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Mais sobre a notificação de eventos adversos pretendida por MS e ANVISA

Por Guilherme Brauner Barcellos
 
Outro ponto importante a ser explorado do “Sistema Brasileiro de Notificação de Eventos Adversos” é a discriminação do que deve ser notificado para uma central nacional em país de dimensões continentais, e do que deve ser trabalhado de outras formas, até localmente nos serviços de saúde, tudo com mecanismos de transparência e que facilitem instituições e pessoas a que aprendam uma com as outras.
 
Robert Wachter, médico e líder nas áreas de qualidade, segurança e políticas de saúde, autor de 250 artigos e seis livros, dentre eles a recente segunda edição de Understanding Patient Safety, em todos os seus textos sobre sistemas de notificação alerta para diferenças entre a saúde e a aviação que não devem ser ignoradas.
 
Em todo o sistema de aviação comercial dos EUA recebem cerca de 35 mil notificações por ano. Calcula que, se todos os erros fossem notificados na saúde, isso resultaria em mais de 35 mil notificações por dia – mais de 10 milhões de notificações por ano! Isso faz o gerenciamento das notificações de erros constituir um problema muito mais desafiador para nós da saúde do que é para a aviação.
 
E o MS e a ANVISA demonstram no mínimo inocência em relação a isto. Não fosse o fato de que irão abafar as notificações locais se não resolverem o que foi apontado em Notificação de erros associados aos cuidados em saúde: está o Governo no momento e no caminho certo?, acumularíamos rapidamente, da forma como anunciaram, uma “montanha” de dados.
 
Wachter é muito direto: notificar não é um jogo de números no qual a pessoa ou o sistema com mais notificações “vence”. O objetivo é ter um sistema eficiente que produza a maior quantidade de aprendizado e de mudanças produtivas possível. Defende, para além dos muros das organizações, notificações confidenciais e cobrindo somente um universo limitado de eventos mais graves. Em seu livro, já traduzido para o português, dá exemplos de sistemas muito pretensiosos e que acabam não funcionando tão bem, por custo-efetividade questionável, em comparação com outros no mínimo tão úteis quanto, e muito mais custo-efetivos.
 
E como Wachter também deixa claro em seus textos que dados de notificações voluntárias não devem ser utilizados para derivar taxas – de erros, ou de danos, ou de qualquer coisa, assim como sabemos de antemão que existe uma epidemia de erros, interessa saber como no Brasil promoverão qualidade e segurança.
 
A incompletude das propostas e das explicações do Programa Brasileiro de Segurança do Paciente desperta em mim uma triste sensação: será tudo isto predominantemente uma resposta política a grave crise da saúde?
 
 
Fonte SaudeWeb

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