Crianças que se mexem muito enquanto dormem, crianças insones, crianças que
roncam, crianças que falam enquanto dormem, crianças que fazem xixi na cama.
São esses os principais distúrbios infantis do sono constados em uma pesquisa
inédita da USP com 1.027 crianças entre três e cinco anos, matriculadas na rede
de ensino da cidade de São Paulo.
A prevalência desses problemas é grande: 48,5% das crianças avaliadas
movimentam-se muito enquanto dormem, 38% acordam durante a noite e demoram a
voltar a dormir, 35% roncam, 21,9% fazem xixi na cama.
A maioria desses problemas tende a diminuir após os cinco anos, mas
sucessivas noites mal dormidas podem prejudicar o desenvolvimento dos pequenos,
levando-os a ter baixo crescimento, queda do rendimento escolar e alterações de
humor.
O levantamento faz parte da tese de doutorado da fisioterapeuta e professora
da USP Patrícia Daniele Araújo e serviu para validar um questionário brasileiro,
usado pelos médicos no diagnóstico de problemas de sono.
Segundo Araújo, chama a atenção o fato de os problemas de sono atrapalharem a
qualidade de vida da criança e da família e ainda assim serem vistos como
"normais".
"Os pais se habituam com os distúrbios, acham que logo passa e nem se dão
conta de que pode ser prejudicial ao filho. Os pediatras também costumam não
perguntar sobre problemas de sono nas consultas de rotina."
A falta de um sono tranquilo e restaurador deixa a criança agitada, irritada
e inquieta durante o dia. "Isso leva à falta de atenção, que afeta o rendimento
escolar."
Segundo a neuropediatra Marcia Pradella-Hallinan, coordenadora da pediatria
do Instituto do Sono, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), até os
quatro anos a principal queixa dos pais é a dificuldade de a criança dormir ou
voltar a dormir quando acorda na madrugada.
"Muitos pais não têm noção de que a criança precisa aprender a dormir. É
preciso perder um tempo com o ritual. É a luz, a musiquinha, a historinha, o
amiguinho de dormir", afirma.
Entre cinco e seis anos, o ronco é uma das queixas mais frequentes. "É um
gasto energético muito importante."
O médico Rubens Reimão, professor livre-docente de neurologia do Hospital das
Clínicas, reforça: "É anormal a criança roncar e ter apneia do sono
[interrupções da respiração]. O problema tem que ser investigado e corrigido."
Em geral, o distúrbio está relacionado à obstrução das vias aéreas causada
pelo crescimento das amígdalas e da adenoide (carne esponjosa na parte de trás
do nariz), que dificulta a passagem de ar.
Nesses casos, explica o médico, é indicada a cirurgia para a retirada dessas
estruturas. Quando há rinite alérgica, usam-se medicamentos.
Ana Clara, 6, foi submetida no mês passado a uma cirurgia dessas. "De início,
a gente achava engraçado ela roncar. Brincávamos: 'Parece o pai'. Nem
imaginávamos o mal que isso faz para a criança", relata a mãe, a comerciante
Juliana Araújo, 30.
Segundo Reimão, se a criança não dorme direito por qualquer que seja o
motivo, pode apresentar déficit de crescimento. Na infância, 90% da síntese do
hormônio responsável pelo crescimento (GH) acontece à noite, na fase mais
profunda do sono.
Fonte Folhaonline
Nenhum comentário:
Postar um comentário