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sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Terapia se mostra promissora para vítimas de abuso sexual no Congo

NYT
Mãos de uma congolesa não identificada que diz ter sido
estuprada por homens de uma milícia armada que ocupou
 a cidade de Livungi (foto de arquivo)
Estudo mostra que das congolesas que fizeram sessões em grupo, apenas 9% mantinham sintomas de trauma
 
Um tipo de terapia de grupo para vítimas de trauma tem mostrado resultados extraordinários para sobreviventes de violência sexual na República Democrática do Congo, permitindo que as mulheres superem a vergonha, os pesadelos e os terríveis flashbacks que as deixavam incapazes de trabalhar, cuidar de suas famílias ou de si mesmas, dizem pesquisadores.
 
O artigo sobre a terapia, publicado no New England Journal of Medicine em junho, é uma notícia rara: o estudo rigoroso mostrou que se podem curar as cicatrizes mentais e emocionais de mulheres em uma parte da África onde o estupro se tornou uma arma de guerra rotineira. O Congo, com duas décadas de guerra civil, é chamada pela ONU da capital mundial do estupro. O país oferece pouco ou nenhum tratamento para problemas mentais.
 
Uma equipe de pesquisadores das Universidades Johns Hopkins, de Washington e do Comitê de Resgate Internacional levaram ao país um tratamento chamado terapia de processamento cognitivo. Eles adaptaram o método para mulheres que não podem ler, e o ensinaram para trabalhadoras da área da saúde, que estudaram até o nível médio ou nem isso. Essas funcionárias conduziram sessões de terapia em grupo em cinco línguas com sobreviventes de ataques sexuais que sofriam de ansiedade severa, depressão ou estresse pós-traumático. Em suaíli, o tratamento foi chamado de terapia “coração e mente”.
           
Centenas de milhares de congolesas, de crianças pequenas a idosas – o número talvez chegue a 2 milhões, segundo um estudo – foram estupradas por rebeldes ou soldados do governo. Alguns ataques brutais incluíram estupro em gangue, penetração com armas, facas e outros objetos.
 
O estudo incluiu mulheres de 15 vilas rurais no leste do Congo, uma área onde cerca de 40% das mulheres foram vítimas de violência sexual. A técnica da pesquisa já havia sido usada com sucesso para vítimas de estupro e estresse pós-traumático nos EUA. Ela envolve ensinar as pessoas a abordar racionalmente pensamentos, sentimentos e crenças perturbadoras que podem permanecer depois de um ataque.
 
Por exemplo, mulheres violentadas frequentemente culpam a si mesmas. Deixaram uma janela aberta, saíram sozinhas, fizeram contato visual com o homem, estavam vestidas de forma inadequada. A terapia faz com que questionem essas crenças. Mulheres em outras circunstâncias também foram estupradas? Se a resposta é sim, como uma mulher pode se culpar?
           
O programa é altamente estruturado, as conselheiras têm um manual com tópicos definidos para cada sessão e passam “lição de casa” para as participantes.
 
Sete vilas, com 157 mulheres, foram escolhidas aleatoriamente para receber a terapia de grupo. Em outras oito outras vilas, com 248 mulheres, foi oferecido “apoio individual”, ou seja, mulheres podiam pedir aconselhamento pessoal.
 
A terapia em grupo consistiu em uma sessão individual com um conselheiro e 11 encontros semanais de duas horas com o grupo. Os sintomas das mulheres foram medidos três vezes: antes do programa, logo que terminaram e seis meses mais tarde.
 
A melhora de quem recebeu a terapia de grupo foi admirável, disseram os pesquisadores. Seis meses depois do tratamento, apenas 9% das mulheres que participaram da terapia de grupo ainda apresentavam ansiedade, depressão ou estresse pós-traumático. No grupo de controle, 42% das mulheres ainda tinham os problemas.
           
Catherine Poulton, conselheira do Comitê Internacional de Resgate, disse que a entidade pretende trabalhar junto ao Ministério da Saúde congolês para oferecer a terapia a mais mulheres através dos centros de saúde. A associação também pretende oferecer o tratamento em outros países que necessitem.
 
A líder do estudo, Judith K. Bass, professora assistente no departamento de saúde mental da Johns Hopkins, disse: “Não se trata de uma cura miraculosa. Todas essas mulheres não estão correndo para as ruas e dançando. Mas elas podem voltar para a comunidade."

Fonte The New York Times/iG

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