NYT
Mãos de uma congolesa não identificada que diz ter sido
estuprada por homens de uma milícia armada que ocupou
a cidade de Livungi (foto de arquivo)
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Um tipo de terapia de grupo para vítimas de trauma tem mostrado resultados extraordinários para sobreviventes de violência sexual na República Democrática do Congo, permitindo que as mulheres superem a vergonha, os pesadelos e os terríveis flashbacks que as deixavam incapazes de trabalhar, cuidar de suas famílias ou de si mesmas, dizem pesquisadores.
O artigo sobre a terapia, publicado no New England Journal of Medicine em junho, é uma notícia rara: o estudo rigoroso mostrou que se podem curar as cicatrizes mentais e emocionais de mulheres em uma parte da África onde o estupro se tornou uma arma de guerra rotineira. O Congo, com duas décadas de guerra civil, é chamada pela ONU da capital mundial do estupro. O país oferece pouco ou nenhum tratamento para problemas mentais.
Uma equipe de pesquisadores das Universidades Johns Hopkins, de Washington e do Comitê de Resgate Internacional levaram ao país um tratamento chamado terapia de processamento cognitivo. Eles adaptaram o método para mulheres que não podem ler, e o ensinaram para trabalhadoras da área da saúde, que estudaram até o nível médio ou nem isso. Essas funcionárias conduziram sessões de terapia em grupo em cinco línguas com sobreviventes de ataques sexuais que sofriam de ansiedade severa, depressão ou estresse pós-traumático. Em suaíli, o tratamento foi chamado de terapia “coração e mente”.
Centenas de milhares de congolesas, de crianças pequenas a idosas – o número talvez chegue a 2 milhões, segundo um estudo – foram estupradas por rebeldes ou soldados do governo. Alguns ataques brutais incluíram estupro em gangue, penetração com armas, facas e outros objetos.
O estudo incluiu mulheres de 15 vilas rurais no leste do Congo, uma área onde cerca de 40% das mulheres foram vítimas de violência sexual. A técnica da pesquisa já havia sido usada com sucesso para vítimas de estupro e estresse pós-traumático nos EUA. Ela envolve ensinar as pessoas a abordar racionalmente pensamentos, sentimentos e crenças perturbadoras que podem permanecer depois de um ataque.
Por exemplo, mulheres violentadas frequentemente culpam a si mesmas. Deixaram uma janela aberta, saíram sozinhas, fizeram contato visual com o homem, estavam vestidas de forma inadequada. A terapia faz com que questionem essas crenças. Mulheres em outras circunstâncias também foram estupradas? Se a resposta é sim, como uma mulher pode se culpar?
O programa é altamente estruturado, as conselheiras têm um manual com tópicos definidos para cada sessão e passam “lição de casa” para as participantes.
Sete vilas, com 157 mulheres, foram escolhidas aleatoriamente para receber a terapia de grupo. Em outras oito outras vilas, com 248 mulheres, foi oferecido “apoio individual”, ou seja, mulheres podiam pedir aconselhamento pessoal.
A terapia em grupo consistiu em uma sessão individual com um conselheiro e 11 encontros semanais de duas horas com o grupo. Os sintomas das mulheres foram medidos três vezes: antes do programa, logo que terminaram e seis meses mais tarde.
A melhora de quem recebeu a terapia de grupo foi admirável, disseram os pesquisadores. Seis meses depois do tratamento, apenas 9% das mulheres que participaram da terapia de grupo ainda apresentavam ansiedade, depressão ou estresse pós-traumático. No grupo de controle, 42% das mulheres ainda tinham os problemas.
Catherine Poulton, conselheira do Comitê Internacional de Resgate, disse que a entidade pretende trabalhar junto ao Ministério da Saúde congolês para oferecer a terapia a mais mulheres através dos centros de saúde. A associação também pretende oferecer o tratamento em outros países que necessitem.
A líder do estudo, Judith K. Bass, professora assistente no departamento de saúde mental da Johns Hopkins, disse: “Não se trata de uma cura miraculosa. Todas essas mulheres não estão correndo para as ruas e dançando. Mas elas podem voltar para a comunidade."
Fonte The New York Times/iG
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