Michael Dwyer/The New York Times
Família completa: Karen Cormier,sobrevivente de um câncer raro,
passeia com filhos que nunca imaginou ter
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Assim como muitos adultos que sobreviveram ao câncer durante a infância, Karen Cormier sempre presumiu que nunca poderia ficar grávida.
Cormier, de 39 anos, desenvolveu uma forma rara de câncer no rim quando tinha cinco anos de idade. A quimioterapia ajudou a curá-la, mas seus médicos avisaram que os tratamentos danificariam seu órgãos reprodutivos e ela provavelmente seria infértil.
Cormier, que trabalha com marketing online e vive em Mendon, Massachusetts, foi a um especialista em fertilidade quando ela e o marido estavam prontos para formar uma família, há cerca de oito anos, esperando que houvesse alguma chance de que ela tivesse sobrevivido àquela provação com a fertilidade intacta. Porém, dois anos depois de tentar engravidar sem sucesso, eles interromperam o tratamento de fertilidade e se voltaram para a adoção, encontrando o filho, Luke, em 2008.
Então, três anos mais tarde, o impensável aconteceu: Cormier descobriu que estava grávida.
"Fiquei absolutamente chocada", afirmou. "Não encontrava as palavras para contar ao meu marido".
Há 15 meses, Cormier deu à luz o filho Ryan.
"Ele é um milagre biológico ambulante", afirmou. "Estou muito feliz com o fato de termos dois filhos que nunca imaginei que pudesse ter."
Para crianças com câncer, a quimioterapia e a radioterapia são facas de dois gumes. Muitas das crianças que sobrevivem ao câncer enfrentam dificuldades para engravidar depois que chegam à idade adulta. A infertilidade clínica, ou seja, a incapacidade de engravidar depois de um ano de tentativas, é especialmente comum entre adultas que tenham recebido radiação pélvica e uma classe de medicamentos quimioterápicos conhecida como agentes alquilantes. Há algum tempo, os oncologistas praticamente não se preocupavam com os efeitos colaterais nos órgãos reprodutivos, já que tão poucas crianças sobreviviam. Entretanto, à medida que mais crianças com câncer chegam à idade adulta – a taxa de mortalidade diminuiu 66 por cento desde os anos 1970 – a perspectiva em relação à fertilidade também mudou. Médicos oferecem a pacientes jovens opções de preservação no momento do diagnóstico e pesquisadores estão descobrindo que para muitos sobreviventes, as chances de superar a infertilidade são surpreendentemente grandes.
No mês passado, um grande estudo realizado pela The Lancet Oncology revelou que cerca de dois terços das sobreviventes que buscaram tratamentos de fertilidade na idade adulta conseguiram engravidar – um nível de sucesso comparável ao de outras mulheres inférteis. Outros estudos recentes revelam que homens que tiveram contagens de espermatozoides baixas como resultado do tratamento pediátrico – um efeito colateral sofrido por dois terços dos meninos que fazem quimioterapia – podem passar por procedimentos de coleta de espermatozoides viáveis, permitindo que sejam pais dos próprios filhos.
Porém, para que o tratamento de fertilidade seja bem sucedido, o tempo é essencial. Normalmente, mulheres com menos de 35 anos, por exemplo, são encorajadas a tentar engravidar por ao menos um ano antes de buscar um especialista em fertilidade. Para aquelas com histórico de câncer, a nova mensagem deve ser: "Não esperem", afirmou a Dra. Lisa R. Diller, CMO do Hospital do Câncer Infantil e Centro de Doenças Sanguíneas Dana-Farber/Boston.
"Supondo que uma mulher tenha 25 anos, tenha se curado do câncer na infância e esteja tentando engravidar há seis meses, eu diria para ela se consultar com um especialista", afirmou Diller, a principal autora do estudo publicado na Lancet.
Tradicionalmente, a discussão sobre fertilidade envolve descobrir a quais terapias contra o câncer os pacientes foram submetidos e qual é sua situação hormonal. Contudo, o novo objetivo no campo da fertilidade após o câncer, ou oncofertilidade, é ser o mais proativo possível, afirmou a Dra. Teresa K. Woodruff, chefe da divisão de preservação da fertilidade na Faculdade de Medicina Feinbert, na Universidade Northwestern.
Os oncologistas estão cada vez mais defendendo a ideia da abordagem da fertilidade no momento do diagnóstico, discutindo opções como o congelamento de óvulos, esperma e embriões antes do tratamento. Em pacientes mais jovens que ainda não entraram na puberdade, algumas clínicas de fertilidade oferecem a opção de congelar o tecido ovariano e testicular, que pode ser reimplantado quando os pacientes estiverem mais velhos.
"Agora que os pacientes estão se curando e têm décadas de vida pela frente, a fertilidade se tornou uma grande prioridade para eles", afirmou Woodruff.
Porém, os procedimentos de criopreservação são caros e geralmente custam a partir de 10.000 dólares. Algumas clínicas de fertilidade oferecem descontos para pacientes com câncer e programas sem fins lucrativos como o Fertile Hope e o Heart Beat podem fornecer ajuda financeira e medicamentos de fertilidade gratuitos.
Woodruff espera pelo dia em que a fertilidade deixe de ser uma vítima dos tratamentos contra o câncer. Ela e o marido, Thomas O’Halloran, químico na Northwestern, estão trabalhando em um novo sistema de liberação para a quimioterapia, que libera os medicamentos em bolhas microscópicas, ou nanobinas, que se dissolvem assim que chegam ao ambiente ácido do tumor, poupando os órgãos reprodutivos.
Em estudos com animais, a técnica foi eficaz contra linfomas que causam danos nos ovários e também pareceu promissora contra o câncer de mama. Estudos clínicos em seres humanos ainda não serão feitos nos próximos anos, segundo O'Halloran.
"A maior parte da comunidade de desenvolvimento da quimioterapia e de outros medicamentos não pensa a respeito disso porque todos estamos em busca de uma forma de matar essa doença de todas as formas possíveis", afirmou. "Entretanto, encontrar um tratamento que preserve a fertilidade é extremamente importante."
"Estaremos devolvendo uma vida plena", afirmou, "ao invés de uma vida comprometida, como em muitos casos".
iG
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