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sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O desafio do hospital verde: afinal, como conseguir?

Crédito: Divulgação
Hospital Unimed-Rio: principal desafio é escolher o certificado
e o nível do Leed
De equipamentos de última geração a um jeito de reutilizar a água da chuva. Conheça as preocupações que um hospital deve ter ao pensar em um selo de edifício saudável
 
Lavar os pneus de um trator no primeiro estágio de uma gigantesca obra para a construção de um novo hospital pode fazer a diferença na hora de uma certificação ambiental para o futuro prédio. Isso mesmo. À parte os olhares dedicados à eficiência energética, à compra de materiais com o mínimo possível de emissões nocivas ao ar ou ainda ao aproveitamento do entulho gerado pela obra, um ato singelo, um simples enxaguar de mangueira comum em rodas minimamente sujas de terra seca, estão na mira dos auditores de um dos principais selos de qualidade do mundo neste segmento.
 
A avaliação é de quem busca o Leadership in Energy and Environmental Design, mais conhecido como LEED, do Green Build Concil, um dos sistemas internacionais de orientação ambiental para edifícios, que é dividido em quatro níveis de classificação, de acordo com a pontuação atingida pelo empreendimento: verde, prata, ouro e diamante.
 
O hospital Unimed-Rio, inaugurado no início do ano e que tem 219 leitos e 11 salas cirúrgicas em 30 mil m² de área construída, está em busca do selo verde, o primeiro da escala progressiva do LEED. Por isso, o investimento realizado na obra cresceu em cerca de 20% para se adequar às normas do certificado, revelou durante o Seminário Hospitais Saudáveis*, o gerente de engenharia do hospital, Sandro Constant.
 
“Um dos principais desafios é escolher pelo certificado e pelo nível dele ainda na fase de projeto, porque depois não tem como mudar. Definir o nível é medir o investimento. Outras questões importantes são: lidar com informações duvidosas de fornecedores [sobre emissão de gases dos produtos, por exemplo], custo maior dos materiais e ainda conseguir dimensionar o trabalho da sua equipe interna com o certificador”, explicou o engenheiro.
 
O LEED tem sete áreas de avaliação – espaço sustentável, eficiência no uso de água, energia e atmosfera, materiais e recursos, qualidade ambiental interna, inovação e processos, e, por fim, créditos de prioridade regional -, e em cada uma delas o prédio, no caso, o hospital, precisa promover iniciativas para ganhar pontos nos monitoramentos realizados a cada semana, desde o início da obra.
 
Assim, conforme colocou Constant, a Unimed-Rio instalou, por exemplo, um dos mais eficientes resfriadores líquidos do mercado (0,33KW/Tr); escolheu colocar um vídeo de fachada com alto coeficiente de sombreamento; revestiu o prédio de modo que um espaço entre uma cobertura sobre a parede cria um colchão de ar que colabora com a ventilação; fez um bicicletário, com vestiários, para 50 vagas; disponibilizou estacionamento preferencial para carros de baixa emissão de poluentes; trabalhou um sistema de captação de água da chuva, que é usado na área externa; utilizou 30% do entulho em obras em volta do complexo; usou tintas, colas e diluentes com baixo índice de emissão de solventes; e, claro, lavou os pneus dos tratores para que não sujassem a rua.
 
“É uma incerteza, você faz tudo isso sem saber direito se vai conseguir, mas é muito desafiador ver que a auditoria já começa na formatação do canteiro de obras, o que faz com que o ambiente limpo, tenha outra ‘cara’ ”, completa.
 
Quem já passou por tudo isso é o Albert Einstein, em São Paulo, cujo gerente de gestão de contratos, Heitor Kuramoto, ao tomar conhecimento do trabalho da Unimed-Rio, contou um fator interessante do case do hospital paulistano. “Concordo que temos de nos preparar para o selo que estamos buscando, mas com a gente aconteceu uma surpresa: pensamos e trabalhamos para pegar o prata, mas, ao fim do processo, alcançamos o nível ouro”.
 
Entre as ações, o executivo destaca um programa de reciclagem que evitou que 75% do entulho fosse para um aterro sanitário, além de grandes espaços verdes para o conforto da comunidade do entorno. Passou também por alguns pontos já comentados no case da Unimed – sobre o bicicletário, por exemplo, o Einstein criou até uma mini rodoviária para a entrada e saída de ônibus fretados.
 
“É um processo muito complexo e você precisa de profissionais certificados pelo Green Build Concil, até porque o LEED passa por revisões periódicas”, acrescenta Kuramoto.
 
Responsável por abrir a discussão sobre edifícios mais saudáveis, o presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento do Edifício Hospitalar, Fábio Bitencourt, ainda pontuou: “o mais importante é que nossos prédios e hospitais não causem dano nenhum para o paciente. E o conforto ambiental, com os componentes culturais e subjetivos, virou conforto humano. A qualidade do ar, por exemplo, é uma das grandes preocupações do século 21 e tem de estar na pauta”.
 
Mercúrio
A discussão no evento também dedicou espaço para o debate sobre a iniciativa “Saúde Sem Mercúrio”, da Organização Mundial da Saúde (OMS). A coordenadora para a América Latina da organização Saúde Sem Dano, Veronica Odriozola, explanou sobre o atual momento do tema.
 
“O desafio agora é um instrumento global a ser lançado em outubro e assinado por 140 países, inclusive o Brasil, para determinar a proibição da produção, importação e venda de termômetros e esfignomanômetros (aparelho de pressão) com mercúrio até 2020”. Segundo ela, o convênio também diz que essa data pode se estender por cinco anos e, depois, os países que desejarem podem pedir ainda mais cinco. “Queremos junto à OMS fortalecer a ideia de que os países não precisam esperar até 2030, não há razão para demorar tanto assim. Não é um problema econômico, não tem um porquê para seguir contaminando o meio ambiente”.
 
A especialista ainda apresentou exemplos de iniciativas pelo mundo – em São Paulo, uma resolução em 2010 proibiu a compra dos equipamentos com mercúrio pela Secretaria Estadual de Saúde, enquanto a União Europeia vetou os termômetros em 2008 (em 2014 cai o estignomanômetro), por exemplo. “Nosso interesse é que o governo brasileiro dite uma política para todos os hospitais passarem a usar dispositivos alternativos. A resposta deles é que seria possível em estados mais ricos, mas mais difícil nos mais pobres”, acrescentou Veronica.
 
Um case apresentado foi o do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás. O local passou a gerenciar os resíduos em 2007, entrou de cabeça nas legislações do setor e, sobre o mercúrio, retiraram todos os dispositivos da instituição que levavam o elemento – o uso médio por lá é de 1200 termômetros por ano.
 
“É um dos pontos do nosso plano que leva uma enfermeira todas as manhãs passando informações para todos os pacientes e acompanhantes, ensinando, por exemplo, como descartar cada tipo de resíduo. E já tivemos caso de paciente reclamar de médico que não usou o recipiente correto”, contou a coordenadora do Departamento de Radiologia e Imagenologia do Clínicas, Soraya Coelho Meira.
 
Já a enfermeira do trabalho do Hospital Infantil Albert Sabin, em Recife, Morgana Gomes Silva, falou sobre as dificuldade deste processo de reformulação do modo de operação de um centro médico. “Levamos essas ideias [plano de tornar o hospital mais saudável] em abril para gestores, em maio para colaboradores e agora, em agosto, para pacientes. Mas é difícil a absorção disso pelos diretores, até pelo problema do custo que isso envolve”, afirmou, dizendo ainda que já foram substituídos os termômetros e esfignomanômetros com mercúrio e agora o hospital deu início a um projeto de troca de lâmpadas por equipamentos mais econômicos.
 
SaudeWeb

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