Rio de Janeiro – Na semana passada, a Agência Brasil
conversou com cariocas que estavam em busca de vagas para amigos e parentes na
rede pública de saúde, problema, segundo os entrevistados, enfrentado com
frequência.
No último dia 19, a diarista Francisca Aparecida
Martins praticamente cruzou a cidade para conseguir atendimento para o marido,
que tem câncer de pulmão avançado e usa uma cadeira de rodas. Foi recusada em
dois hospitais antes de ser atendida, por volta das 16h, na emergência do
Hospital Estadual Rocha Faria, na zona oeste. Apesar de o médico ter recomendado
a internação do marido, a diarista precisava esperar que um leito ficasse
vago.
“Isso aqui [a saúde] é um direito, vou deixar ele morrer em casa?”, desabafou
Francisca, ao sair do Hospital Federal de Bonsucesso. “O problema é grave, e eu
fico peregrinando?”, questionou a diarista, que há dois meses procura um leito
para o marido. “Ele precisa de uma cirurgia de tórax, uma biópsia e o tratamento
para o câncer. Não sei mais como recorrer.”
“Tenho um pedido médico para a internação [da mãe
no CTI], mas não tem leito”, contou uma mulher, que não quis se identificar, e
estava no Hospital Estadual Getulio Vargas. Ela relatou que a mãe está internada
na unidade, na zona norte, desde outubro, e agora precisa ir para o CTI.
Diabética, precisou amputar uma perna. Depois, contraiu uma infecção
generalizada que não foi esclarecida. Durante a internação, sofreu um acidente
vascular cerebral que não foi informado à família.
“Minha mãe passou por tudo isso e está na emergência, quando deveria estar no
CTI”, disse, acrescentando que a emergência do hospital está um caos,
superlotada, com pessoas sendo atendidas no corredor e algumas sem roupa. A
Secretaria Estadual de Saúde confirmou que a unidade "opera 200% acima da
capacidade".
Em Bonsucesso, também esperando um leito para a vizinha doente, estava outra
acompanhante, que não quis se identificar. “Eles [recepcionistas] perguntam:
está morrendo? Se não está, tem que esperar", disse e informou que a vizinha
aguardava por uma maca, sentada em uma cadeira no corredor. "Eles liberaram ela
na semana passada, mas tivemos que voltar. O atendimento está péssimo, de
qualquer jeito”.
Há cerca de duas semanas pacientes que esperavam para fazer exame de sangue
no Hospital de Bonsucesso revoltaram-se com a demora no atendimento por causa da
falta de material, informou a Defensoria Pública da União (DPU).
Segundo o defensor Daniel Macedo, a situação em Bonsucesso não é isolada.
Para ele, a condição dos hospitais da rede pública no Rio é “terminal”. Nos
últimos anos, a defensoria têm ingressado com uma série de ações judiciais para
garantir atendimento aos pacientes. Na avaliação de Macedo, o problema no estado
do Rio é sistêmico, com sinais de calamidade e reflexos de má gestão.
“São vários fatores como a baixa remuneração dos médicos, a alta rotatividade
de profissionais, a falta de concursos periódicos, a má gestão dos recursos que
chegam [do ministério]. Somando tudo, o resultado é essa calamidade. O governo
federal nos virou as costas”, disse o defensor.
Em 2012, A DPU entrou com uma ação contra o Hospital de Bonsucesso e obteve
na Justiça a decisão que prevê atendimento e estabilização dos pacientes,
principalmente na emergência, antes de serem transferidos para outra unidade de
saúde, com garantia de leito. Segundo Macedo, a medida não tem sido cumprida e a
defensoria estuda retomar o caso.
Procurado pela Agência Brasil, o ministério disse que "a
situação é complicada" e informou que ações estão sendo adotadas para
reestruturar os seis hospitais federais – Andaraí, Lagoa, Ipanema, Cardoso
Fontes, Bonsucesso e dos Servidores do Estado – “como forma de qualificar o
atendimento aos usuários “do Sistema Único de Saúde (SUS), e visando a “recompor
a força de trabalho nos hospitais federais do Rio de Janeiro”.
Uma das medidas foi a autorização, publicada em novembro, para a contratação
temporária de 1.578 profissionais, sendo 411 médicos. No primeiro semestre de
2013, foi feita a primeira contratação emergencial do ano, com 499
profissionais, dos quais 182 médicos. Segundo o ministério, entre 2010 e 2012,
foram feitos dois concursos públicos, com a nomeação de 1.536 aprovados.
Agência Brasil
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