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sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Pacientes ficam mais tempo nas emergências no Rio por falta de leitos, diz Cremerj

Rio de Janeiro – Pelo menos 30% dos pacientes que chegam às emergências ficam três vezes mais tempo que o necessário, aguardando vaga em outro hospital, disse o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), Sidnei Ferreira. Os governos informam que estão investindo para melhorar o atendimento e reduzir o tempo de espera.
 
“É o que chamamos porta de saída. Entra pela emergência, é atendido, mas não tem como sair. O que acontece é que as emergências ficam superlotadas porque muitos daqueles que estão ali deveriam estar em um hospital secundário”, argumentou Ferreira, acrescentando que a permanência excessiva eleva os riscos de infecção hospitalar e de complicações, além de o atendimento não ser adequado.
 
Segundo Ferreira, o problema se repete nas unidades municipais, estaduais e federais. “Faltam leitos de CTI [centros de terapia intensiva], faltam hospitais de retaguarda, as emergências estão lotadas porque não há condições de tirar esses pacientes”.
 
Fiscalizações feitas pelo Cremerj constataram deficiências em diversos hospitais. No Hospital Municipal Salgado Filho, a Unidade de Pacientes Graves foi fechada. No local, dos 26 pacientes, 11 estavam entubados e havia apenas um clínico de plantão, quando o ideal são três. Na emergência, 12 leitos de clínica médica foram desativados devido à falta de profissionais (médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem). Considerado referência em neurocirurgia, o Salgado Filho tem apenas oito especialistas, contra 20, que trabalhavam no ano passado.
 
Nas maternidades Carmela Dutra e Alexander Fleming, da rede municipal, foram identificadas falta de pessoal e redução de leitos. Na segunda maternidade, por exemplo, são dois obstetras, dois pediatras e um anestesista por plantão, informou o Cremerj. A unidade tinha 80 leitos, que foram reduzidos para 41.
 
Nos hospitais federais do Andaraí, de Bonsucesso e Cardoso Fontes, também foram encontrados problemas. Entre eles, segundo o conselho, estão déficit de profissionais, falta de insumos, parafusos, placas para cirurgias ortopédicas e leitos nas UTIs pediátrica e de adultos. No Cardoso Fontes, na zona oeste, a unidade coronariana, o serviço de cirurgia torácica e a enfermaria de cardiologia foram desativados porque não há médicos. As obras de reestruturação estão paradas há cerca de dois anos mas serão retomadas, informou a direção do hospital, com previsão de conclusão em até seis meses.
 
“Mais de uma centena de pacientes que precisam de UTI não têm vaga e não são tratados adequadamente. Com isso, o risco de morrer é maior. O que mais nos preocupa é isso”, disse Ferreira.
 
A falta de pessoal, conforme o Cremerj, afeta mais de 50% das equipes dos hospitais públicos no Rio. “Não adianta ter um hospital muito bem equipado sem profissionais para atender”. Segundo Ferreira, não há concurso público e é grande a rotatividade dos médicos, que deixam a rede pública para se aposentar ou em busca de melhores salários.“Vemos equipes funcionando com jovens recém-formados. Esses jovens, junto com os médicos mais experientes, aprenderão. Mas é cada vez mais difícil encontrar os profissionais mais experientes.”
 
Na avaliação do presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge Darze, não há solução a curto prazo para as deficiências na saúde pública do estado.“Não existe qualquer solução que possa resolver esse quadro no curto prazo”.
 
Darze critica a contratação de mão de obra terceirizada para suprir a demanda de assistência. “É [uma medida] ruim porque a mão de obra terceirizada, como não faz concurso público, não tem como aferir a qualidade desses profissionais”.
 
Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério da Saúde informou que vem adotando ações para reestruturar os seis hospitais federais – Andaraí, Lagoa, Ipanema, Cardoso Fontes, Bonsucesso e Servidores do Estado – “como forma de qualificar o atendimento aos usuários “do Sistema Único de Saúde (SUS), e visando a “recompor a força de trabalho nos hospitais federais do Rio de Janeiro”.
 
Uma das medidas foi a autorização, publicada em novembro, para a contratação temporária de 1.578 profissionais, sendo 411 médicos. No primeiro semestre deste ano, foi feita a primeira contratação emergencial do ano, com 499 profissionais, dos quais 182 médicos. Segundo o ministério, entre 2010 e 2012, foram feitos dois concursos públicos e nomeados 1.536 aprovados.
 
A Secretaria Municipal de Saúde informou, em nota, que vem “dispensando esforços para a melhoria da rede de atenção do SUS no Rio de Janeiro e para proporcionar melhor atendimento à população carioca”. A rede municipal dispõe de 5.011 leitos.
 
De acordo com a secretaria, dos seis hospitais de emergência, cinco atingiram “níveis satisfatórios” de atendimento, “com a diminuição de 50% do tempo de espera”. Sobre o Hospital Municipal Salgado Filho, a unidade teve mais de R$ 6 milhões investidos em obras e equipamentos em 2012 e será a próxima a receber uma Coordenação de Emergência Regional (CER).
 
Em relação à Maternidade Alexander Fleming, a secretaria informou que as reformas têm previsão de conclusão no primeiro semestre de 2014. “Durante as adequações, a unidade vem atendendo com menor número de leitos e com três médicos de segunda a sexta-feira, dois nos fins de semana. Mensalmente são feitos na unidade cerca de 1.200 atendimentos e 195 partos”, destacou, acrescentando que três novas maternidades foram instaladas.
 
“Embora aponte falta de profissionais na rede, o Cremerj não traz para a secretaria qualquer colaboração ou indicação de médicos para o preenchimento das vagas oferecidas pelo município, algumas com vencimentos que chegam a R$ 7.153 para uma carga horária semanal de 24 horas. Dois processos de contratação de profissionais para unidades hospitalares foram realizados pelo município no segundo semestre de 2013”, informou. “As unidades citadas na reportagem estão entre aquelas que receberão parte desses profissionais”, acrescentou.

Agência Brasil

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