Rio de Janeiro – Pelo menos 30% dos pacientes que chegam às emergências ficam
três vezes mais tempo que o necessário, aguardando vaga em outro hospital, disse
o presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro
(Cremerj), Sidnei Ferreira. Os governos informam que estão investindo para
melhorar o atendimento e reduzir o tempo de espera.
“É o que chamamos porta de saída. Entra pela emergência, é atendido, mas não
tem como sair. O que acontece é que as emergências ficam superlotadas porque
muitos daqueles que estão ali deveriam estar em um hospital secundário”,
argumentou Ferreira, acrescentando que a permanência excessiva eleva os riscos
de infecção hospitalar e de complicações, além de o atendimento não ser
adequado.
Segundo Ferreira, o problema se repete nas unidades municipais, estaduais e
federais. “Faltam leitos de CTI [centros de terapia intensiva], faltam hospitais
de retaguarda, as emergências estão lotadas porque não há condições de tirar
esses pacientes”.
Fiscalizações feitas pelo Cremerj constataram deficiências em diversos
hospitais. No Hospital Municipal Salgado Filho, a Unidade de Pacientes Graves
foi fechada. No local, dos 26 pacientes, 11 estavam entubados e havia apenas um
clínico de plantão, quando o ideal são três. Na emergência, 12 leitos de clínica
médica foram desativados devido à falta de profissionais (médicos, enfermeiros e
auxiliares de enfermagem). Considerado referência em neurocirurgia, o Salgado
Filho tem apenas oito especialistas, contra 20, que trabalhavam no ano
passado.
Nas maternidades Carmela Dutra e Alexander Fleming, da rede municipal, foram
identificadas falta de pessoal e redução de leitos. Na segunda maternidade, por
exemplo, são dois obstetras, dois pediatras e um anestesista por plantão,
informou o Cremerj. A unidade tinha 80 leitos, que foram reduzidos para 41.
Nos hospitais federais do Andaraí, de Bonsucesso e Cardoso Fontes, também foram
encontrados problemas. Entre eles, segundo o conselho, estão déficit de
profissionais, falta de insumos, parafusos, placas para cirurgias ortopédicas e
leitos nas UTIs pediátrica e de adultos. No Cardoso Fontes, na zona oeste, a
unidade coronariana, o serviço de cirurgia torácica e a enfermaria de
cardiologia foram desativados porque não há médicos. As obras de reestruturação
estão paradas há cerca de dois anos mas serão retomadas, informou a direção do
hospital, com previsão de conclusão em até seis meses.
“Mais de uma centena de pacientes que precisam de UTI não têm vaga e não são
tratados adequadamente. Com isso, o risco de morrer é maior. O que mais nos
preocupa é isso”, disse Ferreira.
A falta de pessoal, conforme o Cremerj, afeta mais de 50% das equipes dos
hospitais públicos no Rio. “Não adianta ter um hospital muito bem equipado sem
profissionais para atender”. Segundo Ferreira, não há concurso público e é
grande a rotatividade dos médicos, que deixam a rede pública para se aposentar
ou em busca de melhores salários.“Vemos equipes funcionando com jovens
recém-formados. Esses jovens, junto com os médicos mais experientes, aprenderão.
Mas é cada vez mais difícil encontrar os profissionais mais experientes.”
Na avaliação do presidente do Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro, Jorge
Darze, não há solução a curto prazo para as deficiências na saúde pública do
estado.“Não existe qualquer solução que possa resolver esse quadro no curto
prazo”.
Darze critica a contratação de mão de obra terceirizada para suprir a demanda
de assistência. “É [uma medida] ruim porque a mão de obra terceirizada, como não
faz concurso público, não tem como aferir a qualidade desses profissionais”.
Por meio da assessoria de imprensa, o Ministério da Saúde informou que vem
adotando ações para reestruturar os seis hospitais federais – Andaraí, Lagoa,
Ipanema, Cardoso Fontes, Bonsucesso e Servidores do Estado – “como forma de
qualificar o atendimento aos usuários “do Sistema Único de Saúde (SUS), e
visando a “recompor a força de trabalho nos hospitais federais do Rio de
Janeiro”.
Uma das medidas foi a autorização, publicada em novembro, para a contratação
temporária de 1.578 profissionais, sendo 411 médicos. No primeiro semestre deste
ano, foi feita a primeira contratação emergencial do ano, com 499 profissionais,
dos quais 182 médicos. Segundo o ministério, entre 2010 e 2012, foram feitos
dois concursos públicos e nomeados 1.536 aprovados.
A Secretaria Municipal de Saúde informou, em nota,
que vem “dispensando esforços para a melhoria da rede de atenção do SUS no Rio
de Janeiro e para proporcionar melhor atendimento à população carioca”. A rede
municipal dispõe de 5.011 leitos.
De acordo com a secretaria, dos seis hospitais de
emergência, cinco atingiram “níveis satisfatórios” de atendimento, “com a
diminuição de 50% do tempo de espera”. Sobre o Hospital Municipal Salgado Filho,
a unidade teve mais de R$ 6 milhões investidos em obras e equipamentos em 2012 e
será a próxima a receber uma Coordenação de Emergência Regional (CER).
Em relação à Maternidade Alexander Fleming, a
secretaria informou que as reformas têm previsão de conclusão no primeiro
semestre de 2014. “Durante as adequações, a unidade vem atendendo com menor
número de leitos e com três médicos de segunda a sexta-feira, dois nos fins de
semana. Mensalmente são feitos na unidade cerca de 1.200 atendimentos e 195
partos”, destacou, acrescentando que três novas maternidades foram
instaladas.
“Embora aponte falta de profissionais na rede, o Cremerj não traz para a
secretaria qualquer colaboração ou indicação de médicos para o preenchimento das
vagas oferecidas pelo município, algumas com vencimentos que chegam a R$ 7.153
para uma carga horária semanal de 24 horas. Dois processos de contratação de
profissionais para unidades hospitalares foram realizados pelo município no
segundo semestre de 2013”, informou. “As unidades citadas na reportagem estão
entre aquelas que receberão parte desses profissionais”, acrescentou.
Agência Brasil
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