Bactérias que se tornaram cada vez mais resistentes devido ao uso desenfreado de antibióticos representam grave ameaça à saúde mundial, segundo novo relatório de especialistas.
O estudo, que reuniu autoridades, pesquisadores e indústria farmacêutica, foi divulgado durante a Cúpula Global para Inovação em Saúde, evento patrocinado pelo Qatar que terminou ontem em Doha.
Segundo o documento, ao menos 20 bactérias desenvolveram, graças a mutações genéticas, capacidade de sobreviver a agentes destinados a eliminá-las, tanto em tratamentos para humanos como para uso industrial em animais.
A resistência bacteriana dificulta desde tratamentos de rotina até iniciativas de combate a epidemias e pandemias.
Entre as bactérias mais resistentes encontram-se pneumonias e variações da E.coli, que causa diarreia e é capaz de levar crianças à morte em países pobres.
O estudo calcula que ao menos 500 mil pessoas morrem a cada ano em virtude de tratamentos anti-infecciosos que se tornaram inócuos.
O problema é agravado, ainda de acordo com o estudo, pela facilidade com que essas bactérias circulam entre países. Uma delas surgiu na Índia em 2008 e acabou sendo diagnosticada como resistente a antimicrobianos dois anos depois por cientistas europeus e canadenses.
"Pioramos a situação sempre que tomamos antibióticos sem necessidade. E todos nós já fizemos isso", disse a coordenadora do estudo Dame Sally Davis, do Departamento de Saúde do governo britânico.
Durante debate sobre o tema, Davis condenou tanto o hábito dos médicos de receitar antibióticos para satisfazer rapidamente sues pacientes quanto a propensão da população à automedicação.
Em 2011, levantamento da revista especializada Lancet feito em 33 países apontou o Brasil como quinto maior consumidor de antibióticos sem receita.
"Nos últimos 50 anos, demos um salto enorme nas nossas vidas graças a antibióticos, mas a resistência das bactéria ameaça nos empurrar de volta para o passado. Como seria o mundo se antibióticos não fizessem mais efeito?", questionou Davis.
Para evitar o agravamento do problema, o estudo recomenda que governos priorizem campanhas educativas e, no caso dos países pobres, condições básicas de higiene.
Já para combater bactérias resistentes, o documento traz recomendações polêmicas, como aumentar o preço dos antibióticos para incentivar laboratórios farmacêuticos a investir novamente em pesquisa num setor pouco rentável devido à produção em larga escala num mercado competitivo.
Outras sugestões controversas incluem usar dinheiro público para incentivar pesquisa farmacêutica privada e reforçar patentes de novos medicamentos para "retribuir" soluções inovadoras.
O conjunto das propostas ameaça reforçar o abismo que prevalece em boa parte do mundo entre ricos e pobres em matéria de acesso a tratamentos mais eficientes.
Pesquisa contestada
Alguns participantes do evento questionaram o documento e atribuíram boa parte da resistência bacteriana aos incentivos financeiros que médicos recebem dos laboratórios para receitar remédios em larga escala, inclusive antibióticos.
Alguns participantes do evento questionaram o documento e atribuíram boa parte da resistência bacteriana aos incentivos financeiros que médicos recebem dos laboratórios para receitar remédios em larga escala, inclusive antibióticos.
Também houve críticas de especialistas contra o suposto alarmismo exagerado da publicação. Eles alegaram que quadros infecciosos podem piorar rapidamente sem uso de antibióticos.
Folhaonline
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